Entre brasileiros na faixa etária de 15 a 64 anos anos, a taxa de analfabetismo funcional é de 29%, ou seja, uma a cada três pessoas. Esse é um dos principais resultados do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), lançado nesta segunda-feira (3/5) pela ONG Ação Educativa e pela consultoria Conhecimento Social. Desde 2001, o Inaf traça o cenário do analfabetismo funcional, complementando as informações sobre analfabetismo divulgadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE).
O alfabetismo funcional diz respeito ao grau de domínio da leitura e da escrita - ou seja, à capacidade de utilizar essas habilidades em atividades do dia a dia com diferentes níveis de complexidade.
Neste conteúdo você encontra:
- Sobre o Inaf;
- Principais resultados gerais;
- Alfabetismo digital;
- Alfabetismo e escolaridade.
O Inaf é um estudo amostral que coleta informações sobre o analfabetismo funcional. Em 2024, a pesquisa foi feita com 2.554 brasileiros entre 15 e 64 anos, avaliando as competências de leitura, escrita e matemática em situações cotidianas.
O indicador define cinco níveis de alfabetismo, associados a três categorias:
Analfabeto |
Analfabetismo Funcional |
|
Rudimentar |
||
Elementar |
Analfabetismo Elementar |
|
Intermediário |
Alfabetismo Consolidado |
|
Proficiente |
As descrições dos cinco níveis de alfabetismo e habilidades estão disponíveis aqui.
Analfabeto: no nível mais baixo da escala, os indivíduos conseguem ler palavras, pequenas frases e números que sejam familiares, como o telefone de casa, por exemplo, mas tem dificuldades em usar ferramentas digitais, como hiperlinks e scroll.
Rudimentar: pessoas no nível rudimentar conseguem localizar informações explícitas em textos formados por sentenças ou palavras, comparar, ler e escrever números familiares, como telefones, cédulas e moedas, por exemplo.
Elementar: o indivíduo consegue encontrar informações em textos de extensão média, fazer operações básicas com números de ordem milenar e usar ferramentas digitais em tarefas cotidianas.
Intermediário: este nível prevê que a pessoa consiga encontrar informações explícitas e interpretar textos jornalísticos e científicos, reconhece argumentos e figuras de linguagem, além de trabalhar com problemas que envolvem porcentagem e proporção.
Proficiente: no nível mais alto da escala, o indivíduo demonstra domínio amplo e crítico da linguagem e da matemática, conseguindo elaborar textos de maior complexidade e interpretar tabelas e gráficos. No espaço digital, consegue reconhecer situações de risco, como golpes e vírus e elaborar textos para mensagens e posts.
Os resultados do Inaf 2024 revelam uma tendência à estabilidade do nível de alfabetismo funcional no país desde 2018 (última vez que o estudo foi realizado antes de 2024).
A comparação com 2001, início da série histórica, indica redução de 10 pontos percentuais da porcentagem de analfabetos funcionais (de 39% para 29%). No entanto, a redução ocorreu de 2001 a 2009 (de 39% para 27%,mantendo-se nessa faixa até 2015). Em 2018, o percentual foi 29% e permanecendo estável até 2024.
Confira a série histórica na tabela abaixo:
Níveis de Alfabetismo no Brasil segundo o Inaf (2001-2024)
Nível/Ano |
2001- 2002 |
2002- 2003 |
2003- 2004 |
2004- 2005 |
2007 |
2009 |
2011 |
2015 |
2018 |
2024 |
Analfabeto |
12 |
13 |
12 |
11 |
9 |
7 |
6 |
4 |
8 |
7 |
Rudimentar |
27 |
26 |
26 |
26 |
25 |
20 |
21 |
23 |
22 |
22 |
Elementar |
28 |
29 |
30 |
31 |
32 |
35 |
37 |
42 |
34 |
36 |
Intermediário |
20 |
21 |
21 |
21 |
21 |
27 |
25 |
23 |
25 |
25 |
Proficiente |
12 |
12 |
12 |
12 |
13 |
11 |
11 |
8 |
12 |
10 |
Analfabeto |
39 |
39 |
37 |
37 |
34 |
27 |
27 |
27 |
29 |
29 |
Funcionalmente |
61 |
61 |
63 |
63 |
66 |
73 |
73 |
73 |
71 |
71 |
Fonte: Inaf 2001-2024 *Reprodução
Alfabetismo digital
Pela primeira vez, o Inaf 2024 traz informações sobre o alfabetismo no contexto digital. A pesquisa incluiu questões que simulavam tarefas cotidianas em celulares, como realizar uma compra online, selecionar um filme em um serviço de streaming, utilizar aplicativos de mensagens instantâneas e fazer a inscrição em um formulário.
As tarefas incluíram ações como fazer um pagamento, criar uma senha a partir de regras específicas e anexar fotos, entre outras, como detalha reportagem do jornal Estado de S.Paulo.
Alfabetismo e escolaridade
Um dos destaques do Inaf 2024 são os dados sobre analfabetismo funcional por escolaridade. Entre os indivíduos que não tiveram acesso à educação básica, 98% são classificados como analfabetos funcionais, sendo que apenas 2% apresentam alfabetismo consolidado.
O relatório destaca que a escolaridade tende a ser o maior indutor da alfabetização, mas que essa relação não é tão evidente entre 2024 e 2018.
Segundo matéria do Uol, outra possível explicação para os resultados do Inaf 2024 é que a pandemia, além de afetar a educação formal, também ocasionou a falta de convivência em outros espaços de letramento, como o trabalho, por exemplo.
Ao analisar os dados por escolaridade, é importante lembrar que, no intervalo de seis anos entre as duas edições do Inaf, a educação brasileira foi afetada pelo período de fechamento das escolas durante a pandemia de covid-19, além da diminuição de investimentos na pasta e o enfraquecimento de políticas educacionais em governos anteriores.
Além disso, a qualidade da oferta da educação básica pode ficar comprometida por fatores como a falta de infraestrutura das escolas e o aumento de professores temporários, entre outros.
Análise comparativa no resultado de avaliações em estudo da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) e da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) aponta relação entre a aprendizagem dos estudantes com a infraestrutura das escolas, o que inclui salas adequadas, recursos pedagógicos e equipamentos, conforme matéria do canal Futura.
Segundo o Censo Escolar 2024, o número de professores temporários é maior que o de efetivos nas redes estaduais, noticiou o g1, entre outros veículos. A sobrecarga de trabalho, a instabilidade e rotatividade de docentes, impactam a atuação dos professores na sala de aula e, consequentemente, na qualidade do ensino.
A EJA (Educação de Jovens e Adultos) é apontada como um caminho para contornar o analfabetismo. Porém, o Censo Escolar 2024 indica queda de 20,4% nas matrículas da modalidade desde 2020, segundo matéria da revista Educação.
Para especialista de uma das organizadoras do Inaf, de acordo com reportagem d´O Globo, o encolhimento da modalidade é um dos fatores que contribuem para a estagnação do percentual do analfabetismo funcional.
Tendo como metas a ampliação das matrículas da modalidade e a superação do analfabetismo, em 2024, o MEC (Ministério da Educação) lançou o Pacto Nacional pela Superação do Analfabetismo e Qualificação da Educação de Jovens e Adultos.
Tem mais sugestões e indicações sobre este tema? Escreva para contato@jeduca.org.br.