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Jeduca

Alunos falam sobre oficinas da Jeduca em faculdades de Jornalismo

Cerca de 300 estudantes participaram de quatro workshops realizados na segunda quinzena de abril em São Paulo e Sorocaba

24/04/2018
Redação Jeduca

Cerca de 300 estudantes participaram na segunda quinzena de abril das primeiras oficinas da Jeduca sobre jornalismo de educação voltadas para alunos de Comunicação. Nos encontros, realizados na Uniso (Universidade de Sorocaba) e, em São Paulo, na Fiam (Faculdades Integradas Alcântara Machado) e na Fapcom (Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação), eles puderam conhecer um pouco mais sobre a diversidade da cobertura, os desafios do trabalho dos profissionais da área, grandes furos jornalísticos e os principais dados da educação no Brasil.

A maioria dos alunos não sabia que há jornalistas especializados em educação. Eles mostraram curiosidade sobre questões sociais ligadas ao universo educacional, como política de cotas, inclusão de crianças com deficiência e questões de gênero.

 

Na Fiam, onde as oficinas foram dadas no campus Ana Rosa nos dias 17 (pela manhã) e 18 (à noite), os temas tratados geraram debates. Os estudantes discutiram, por exemplo, sobre como as escolas devem lidar com crianças de famílias em situação de vulnerabilidade e o papel do Bolsa Família nesse contexto (além de como construir pautas a partir do debate).

 

"A palestra foi bastante elucidativa e permitiu aos estudantes repensarem as editorias de educação, entenderem que elas tratam de temas que perpassam várias outras editorias. São espaços muito ricos para explorar e têm inúmeras possibilidades de pauta", disse Ana Tereza Pinto de Oliveira, professora de redação jornalística da Fiam.

 

Creches


“Eu me interessei por temas como a falta de vagas nas creches e também acho importante a questão das adolescentes que deixam de estudar para cuidar dos filhos”, disse Jisélia Miranda de Souza, aluna do 1º semestre da Fiam.

Jisélia contou que já viveu o problema da falta de vagas em creches públicas. Ela precisou recorrer à Justiça para que o filho fosse atendido em uma unidade do Parque Santo Antônio, zona sul de São Paulo. “Passei por isso, de querer colocar o filho na creche, não encontrar vagas e ter de pagar, porque precisava trabalhar”, disse. “Acabei conseguindo a vaga, mas só depois de um ano e de muita luta.”

A estudante afirmou que foi “gratificante” participar do workshop. “Me ajudou bastante a tirar dúvidas. Muitas vezes fui questionada por pessoas que dizem que ser jornalista não compensa, só para quem trabalha em TV ou rádio. Vi que é possível fazer jornalismo de educação no impresso, sempre gostei de escrever.”


“Embora eu já tenha lecionado, não havia pensado em trabalhar com educação como jornalista e meus horizontes se ampliaram. Nunca achei que houvesse tanta gente dedicada a essa editoria e que ela tivesse tanto assunto”, disse Magali de Oliveira Campos, de 57 anos, aluna da Fiam – ela contou que já trabalhou como alfabetizadora e até abriu uma escola para crianças carentes no sertão de Pernambuco.

“Participei da palestra com comentários e até de um breve debate”, disse Magali. “Fiquei surpresa e ao mesmo tempo feliz em ver que há gente realmente preocupada em divulgar notícias sobre educação.”

 

Deficientes

 

Na Uniso, o workshop foi dado no dia 16 à noite. Aluna do 5º semestre de Jornalismo, Pâmela Aparecida Ramos, de 19 anos, participou da oficina. Embora pretenda trabalhar com jornalismo literário, ela disse que se interessa por questões relacionadas à inclusão de deficientes.

 

Movida por esse interesse, quando estava no 1º semestre do curso Pâmela entrou em contato com mães de alunos com autismo de todo o país por meio de páginas do Facebook. Depois ampliou a apuração visitando unidades de saúde em Sorocaba.

 

"Muitas mães diziam que os filhos não estavam na escola porque faltavam psicopedagogas para auxiliar. Elas te abordam de uma forma... querendo ajuda. Foi muito impactante para mim", disse. "Todas as pessoas que ouvi disseram que não existe um atendimento especializado nas escolas. O jornalismo pode ser uma grande porta para ampliar o acesso a esse atendimento."

 

Caroline Queiroz, de 20 anos, também aluna do 5º semestre de Jornalismo, fez uma pergunta sobre como trabalhar dados em reportagens de uma forma mais amigável para o leitor – o interesse pelo jornalismo de dados foi um diferencial do workshop em Sorocaba.

 

Caroline costuma editar textos de agências de notícias de editorias como Economia para o site do jornal sorocabano Cruzeiro do Sul, onde faz estágio. "Eu mesma tenho dificuldade de compreender os dados de algumas matérias, que vêm muito secos. Eles não aparecem contextualizados, como na oficina, nem associados a personagens. E a gente tem que compreender que o nosso leitor vai desde o doutor até a dona de casa."

 

Caroline considerou a oficina importante por mostrar que existe a figura do jornalista de educação. "Recebemos matérias de educação no Cruzeiro, da Agência Brasil, por exemplo, e eu leio sobre o assunto também. Mas não identificava que tinha uma pessoa especializada nisso. Para mim era muito claro que quem escrevia era um generalista. Saber que existe uma área de interesse jornalístico que pode ser tratada com mais profundidade, com mais 'devoção', é muito bacana."

 

"Aqui na faculdade a gente acaba tendo contato maior com outras editorias", disse Andressa Nogueira, outra aluna do 5º semestre. "Tanto que, quando trabalhamos em projetos como jornais laboratório, nunca tem uma editoria focada só em educação: tem cultura, política, esporte, economia, cidades e até mesmo internacional."

 

As oficinas foram divididas em duas partes. A primeira tinha a apresentação propriamente dita, falando dos múltiplos papeis do jornalista de educação, de dados gerais sobre a educação básica e o ensino superior, temas recorrentes da cobertura e indicações de fontes, sempre associados a reportagens publicadas.

 

Na parte final dos workshops, os estudantes propuseram pautas a partir dos assuntos abordados. Os autores das melhores sugestões receberão ingressos para o 2º Congresso da Jeduca, que será realizado nos dias 6 e 7 de agosto no Colégio Rio Branco, em São Paulo.

 

Professores negros

 

Na Uniso, várias das pautas sugeridas abordavam questões de gênero – como as dificuldades enfrentadas por alunos LGBT no ensino básico ou a evasão de adolescentes que engravidam – ou de raça. Andressa, que trabalha como estagiária do Departamento de Comunicação do campus sorocabano da UFScar (Universidade Federal de São Carlos), sugeriu uma reportagem sobre a "escassez de professores negros", principalmente no ensino superior.

 

"Aqui na Uniso tem pouquíssimos professores negros. Na UFSCar nunca encontrei um professor negro", disse Andressa. "É uma questão que merece atenção num país onde uma parcela tão considerável da população é negra. Acho que isso precisa entrar no debate das cotas, até porque fortalece a política de inserção dos negros na universidade."

 

Ainda que os estudantes de Jornalismo do período noturno tenham sido a grande maioria no workshop em Sorocaba, estudantes dos demais cursos de Comunicação Social da Uniso e até mesmo de outras instituições de ensino da região participaram da oficina.

 

“Eu vim de escola pública, sou cotista, acho esse tema das cotas bastante relevante”, disse Samira Santos, de 19 anos, do 2º semestre de Relações Públicas da Uniso. “Achei legal saber sobre os desdobramentos da política de cotas, como o questionamento sobre a autodeclaração – acho válido, sempre que possível, o candidato comprovar que é negro ou pardo.”

 

“É fundamental investir na formação de jornalistas de educação. As demandas são muitas e há vários níveis de educação”, disse a coordenadora do curso de Jornalismo da Uniso, Andréa Sanhudo. “Temos uma carência, por exemplo, de pessoas capazes de discutir políticas públicas.”

 

Andréa, que está concluindo seu doutorado, acredita que a oficina pode ser relevante também para alunos de pós-graduação da universidade, especialmente os que pesquisam sobre educação. “Cada vez mais meus colegas usam a imprensa como fonte primária de informação sobre vários temas, como cotas, greves, ocupações de escolas. Mas eles não entendem o que é a imprensa, como é o processo de produção do conteúdo, nem percebem que a política editorial varia conforme o veículo.”

 

Cotidiano da escola pública

 

Na Fapcom, a oficina foi realizada no dia 20 à noite, mas também atraiu alunos que estudam de manhã. Além das questões sociais, os estudantes fizeram perguntas sobre aspectos práticos da cobertura: que tipos de pauta são publicados, onde achar dados, quais os principais desafios dos profissionais (como a dificuldade de acesso às escolas) e até por que é tão difícil para assessores de imprensa emplacar sugestões de matérias.

 

Larissa Costa Mendes, de 21 anos, aluna do 7º semestre de Jornalismo, enxergou paralelos entre a cobertura de cultura, área à qual pretende se dedicar, e a de educação. “O jornalismo cultural tem muita agenda de eventos e acaba deixando um pouco de lado outros aspectos, como trabalhos de pessoas da área, reflexões... Tem muita coisa que precisa ser trabalhada no jornalismo cultural e no de educação é a mesma coisa”, disse. “Divulga-se muito coisas como os atrasados do Enem, que viram motivo de chacota, dados, notas do Ministério da Educação, agressões nas escolas, mas tem muita coisa sobre a qual a gente deixa de refletir. Não se pensa muito em como é o cotidiano do aluno de escola pública, por exemplo.”

 

Ex-aluna de escola pública, filha e sobrinha de professoras da rede, Larissa conhece de perto essa realidade. “Sei o tanto de problemas que existem e deveriam ser retratados na mídia, mas não são”, disse. “Sei o quanto é complicado ter aula e dar aula em escola pública.”

 

Larissa mencionou um problema específico e o modo como ela acha que a imprensa deveria abordá-lo. “Mesmo os professores se dedicando bastante, pelo menos a maioria, eles ainda passam por situações bastante tristes, de agressão e desrespeito. Não que a gente deva castigar o aluno que desrespeita o professor. Isso acontece por conta de todo um contexto social que a gente precisa estudar e é aí que entra a reflexão do jornalismo de educação também.”

 

A estudante também se interessou pelo trabalho com dados educacionais. “Às vezes a gente não se dá conta de como isso é complexo, exige dedicação e tempo. E é bem legal a questão da interpretação das informações. Às vezes o ministério, por exemplo, divulga um dado com um determinado foco, mas na verdade a gente precisa repensar se não tem algo por trás daquilo.”

A Jeduca não cobra pelos workshops – a maior aproximação com faculdades de Jornalismo é uma das prioridades do planejamento estratégico da associação para 2018. Instituições interessadas em oferecer a formação a seus estudantes podem procurar a Jeduca pelo email contato@jeduca.org.br.

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