O Censo da Educação Superior, realizado todos os anos pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), é um instrumento valioso para compreender e analisar as principais questões que envolvem a educação superior no Brasil.
Por isso, mais do que reproduzir os dados de caracterização – número de matrículas, de instituições e docentes, todos disponíveis no Censo –, é possível identificar tendências ao longo do tempo, características em termos de oferta e, sobretudo, os desafios históricos que persistem, apesar dos avanços que vêm sendo registrados.
A novidade deste ano é que o Inep vai disponibilizar, pela primeira vez, dados que permitem acompanhar a trajetória de estudantes num curso de graduação do início ao fim. Essa informação permite aprofundar as análises de fluxo no nível dos cursos – antes, só era possível acompanhar o fluxo em nível macro (por exemplo, modalidade de ensino, tipo de instituição, área etc.)
Isso se tornou possível porque, desde 2009, o Censo faz a coleta individualizada do aluno, o que permite o acompanhamento longitudinal do estudante. Além disso, em 2011, passou a ser obrigatório informar o CPF do aluno, aumentando o grau de controle das informações e do acompanhamento da trajetória do aluno.
É importante ter em mente que não serão disponibilizados os dados individuais, apenas por curso de graduação, considerando os ingressantes em 2010. Esses dados serão apresentados na entrevista coletiva sobre o censo, na quinta (6), e permanecerão disponíveis para consulta até o final de outubro.
Além dessa novidade, os dados do Censo permitem, entre outros aspectos, analisar diversos aspectos relacionados à oferta e acesso à educação superior, tais como desigualdades regionais em termos de oferta, cursos e áreas do conhecimento em ascensão, perfil e formação dos docentes, abandono e evasão e participação do setor público x setor privado.
Entre esses, vale destacar alguns:
O ACESSO À EDUCAÇÃO SUPERIOR persiste como um desafio no Brasil. O PNE (Plano Nacional de Educação) estabelece, na Meta 12, a elevação da taxa bruta de matrícula neste nível de ensino para 50% até 2024. Além disso, 33% da população de 18 a 24 anos deve estar matriculada numa instituição de educação superior. Em 2014, apenas 17,7% dessa população cursava educação superior – embora um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostre aumento da participação de estudantes de 18 a 24 anos na educação superior na última década, chegando a 58,4% em 2014.
A OFERTA DE VAGAS NA EDUCAÇÃO SUPERIOR PÚBLICA é outro tema que merece atenção, tomando como referência o PNE e as desigualdades socioeconômicas que marcam o Brasil. O PNE preconiza, também na Meta 12, que em 2024, 40% das novas matrículas sejam em instituições públicas. No entanto, em 2014 estas representaram 5,5% do total.
As DESIGUALDADES REGIONAIS são outro tema recorrente quando se analisa a educação superior brasileira. Historicamente, a oferta de vagas e as matrículas tendem a se concentrar nas grandes cidades, nas Regiões Sudeste e Sul e nas áreas mais urbanizadas. Através dos dados do Censo da Educação Superior é possível identificar até que ponto há mudanças (ou não) nesse cenário. O censo também tem dados por estado, o que permite análises sobre desigualdades de oferta.
A participação da EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA na oferta de vagas merece ser analisada com atenção. Ao longo dos anos, há uma tendência de crescimento da educação a distância no país, especialmente na área de formação de professores. Vale conferir como está a oferta dessa modalidade.
O censo traz dados sobre as LICENCIATURAS. Um dos principais desafios da educação brasileira é formar professores para a educação básica em quantidade suficiente. Em diversas disciplinas, especialmente as de Exatas, há falta de professores habilitados – 38,7% dos cerca de 500 mil professores, de acordo com o Censo Escolar do MEC.
O FLUXO é um tema fundamental para se analisar a educação superior. No Brasil, a taxa média de conclusão (ou seja, a relação entre o número de concluintes e o número de ingressantes num curso de graduação) foi de 41,7% em 2013. O país tem muito a avançar nessa dimensão, levando em conta o PNE: a Meta 12.3 prevê o aumento gradual da taxa de conclusão nos cursos de graduação presenciais para 90% em 2024.