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Tiago Queiroz/Jeduca
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Cobertura de educação infantil nas eleições pode ir além da "falta de vagas em creches"

Em debate, especialistas que participaram da quarta mesa do #Jeduca2024 chamaram a atenção para a importância do olhar intersetorial da imprensa ao abordar a primeira infância

03/09/2024
Aline Miranda/Oboré Projetos Especiais*

(Com edição de Ana Luisa Gomes)

 

A articulação entre educação infantil e temas de interesse público como raça, saúde, renda e trabalho foi assunto central da mesa “Como Cobrir Educação Infantil e a Importância em Ano Eleitoral” na tarde desta segunda-feira (2/9) no 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca. 

 

As inscrições para a versão online do #Jeduca2024, com possibilidade de emissão de certificado, ainda seguem abertas aqui.

 

Com mediação de Mayara Penina, cofundadora do  Nós, Mulheres da Periferia e coordenadora de projetos da Porvir, os convidados Lucimar Rosa Dias, docente da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Rita Coelho,  coordenadora geral de Educação Infantil na SEB/MEC (Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação) e Tiago Bartholo, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) compartilharam novas perspectivas para jornalistas que produzem pautas sobre as infâncias.

 

A socióloga Rita Coelho, do MEC, refletiu sobre como a maneira como as políticas para a primeira infância e educação infantil são desenhadas, causando problemas de concepção das políticas públicas, que tendem a ser setorizadas.

 

“Cadê a nossa discussão sobre direitos da infância com a saúde, com direitos humanos, com trabalho e renda? Acontece que o Brasil não tem política nacional de primeira infância e sim políticas setoriais que atendem essa faixa etária, de 0 a 6, no caso da saúde, de 0 a 5”, indaga. 

 

Para ela, a cobertura jornalística, especialmente em ano eleitoral, deve considerar que “o debate não pode ser apenas sobre demanda de vagas em creches, mas também sobre outras questões relacionadas ao reconhecimento das infâncias”.

 

Lucimar Rosa Dias, coordenadora do Grupo de Estudos em Educação para as Relações Étnico-Raciais ErêYá, ligado à Superintendência de Inclusão, Políticas Afirmativas e Diversidade (SIPAD) da UFPR,  destacou a centralidade da raça como elemento de definição de políticas públicas, reconhecendo o impacto do recorte racial no desenvolvimento infantil.

 

“Não é possível discutir políticas universalizadas sem que as perguntas sobre como vamos atuar nas desigualdades raciais não sejam feitas. Nós precisamos quebrar esse pacto da branquitude e acionar vereadores e prefeitos que serão eleitos a se comprometer com a pauta antirracista”, reforça a educadora, membro do Comitê Científico do NCPI (Núcleo Ciência Pela Infância), uma coalizão que produz conteúdo para combater as desigualdades que afetam as crianças brasileiras de até 6 anos.

 

Para Rosa Dias “as infâncias são diretamente impactadas pelo recorte racial e a única forma de haver justiça racial é combatendo o racismo”. Além disso, tratar a educação infantil como “espaço de vida” e trazer experiências bem sucedidas que se conectem a isso foram sugestões dadas por ela para os jornalistas que cobrem temáticas de educação. Segundo a professora, “a tarefa de produzir uma sociedade igualitária começa no berçário”. 

 

Os convidados concordam que a falta de qualidade na educação infantil é prejudicial para o desenvolvimento da sociedade. Os desafios começam já na própria estrutura física das escolas, com irregularidades, falta de manutenção nas salas de aula e escassez de materiais para atividades pedagógicas. 

 

Tiago Bartholo, doutor em Educação e professor do Colégio de Aplicação e do Programa de Pós-Graduação em Educação  pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), reflete: “como desenvolver um país, se muitas escolas não têm nem escorregador no parquinho?”, apontando para a importância da avaliação dos processos para entender os caminhos de combate às desigualdades. 

 

Pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Oportunidades Educacionais da UFRJ, Bartholo entende que as desigualdades de acesso à pré-escola levantam outras questões que devem ser analisadas.

 

“Quando a gente olha para quem está fora da pré-escola ou da creche, vemos que são alunos de territórios vulnerabilizados, mais pobres, pretos. Se essas crianças têm 4 ou 5 anos de idade e de fato estão fora da etapa obrigatória do processo da escolarização, isso certamente vai aparecer nos dados porque essas crianças tiveram os direitos suprimidos”, explica. 

 

Garantir a qualidade da oferta da educação infantil e pensar também na qualidade das interações entre adulto e criança, professor e aluno nas escolas é um dos caminhos para o avanço na luta contra a desigualdade infantil. “É nessa qualidade das interações que vamos virar esse jogo”, conclui Bartholo.

 

Vídeo produzido especialmente para esta mesa:

 

 

Confira a íntegra da mesa abaixo:

 

 


O 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca contou com o patrocínio master de Fundação Itaú, Fundação Lemann e Instituto Sonho Grande, patrocínio ouro de Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Fundação Telefônica Vivo e Instituto Unibanco, patrocínio prata de Instituto Ayrton Senna, Instituto Natura, Santillana Educação e Imaginable Futures e apoio da Fecap, Canal Futura, Colégio Rio Branco e Loures Consultoria. O evento contou também com o apoio institucional da Abraji (Associação de Jornalismo Investigativo), Abej (Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo), Ajor (Associação de Jornalismo Digital), Coalização em Defesa do Jornalismo, Instituto Palavra Aberta, Jornalistas&Cia e Unesco Mil Alliance.



* A cobertura oficial do 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação é realizada por estudantes, recém-formados e jornalistas integrantes da Redação Laboratorial do Repórter do Futuro, da OBORÉ. A equipe opera sob coordenação do Conselho de Orientação Profissional e do núcleo coordenador do Projeto, com o apoio da Editoria Pública e da equipe de Comunicação da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação).

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