A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) lançou em junho dois estudos que tiveram como tema o professor, figura-chave para o sucesso de qualquer sistema educacional no mundo.
Um deles, "Políticas eficazes para professores", foi elaborado a partir de percepções de estudantes que participaram do Pisa, a avaliação internacional de estudantes, sobre a carreira docente. O documento também inclui análises sobre aspectos que influenciam na atratividade do magistério.
Entre os resultados, chama a atenção a diminuição do interesse dos estudantes pela profissão nos 60 países investigados. Como noticiou a Agência Brasil, em matéria reproduzida em vários veículos, entre eles o jornal Valor Econômico, a proporção de adolescentes que desejam se tornar professor caiu de 5,5% em 2006 para 4,2% em 2015. No Brasil, a proporção é menor ainda: 2,4%. O Estadão também deu manchete para o assunto no domingo, dia 24, em matéria de Isabela Palhares.
As matérias apresentam fatores que contextualizam esse resultado. De maneira geral, os estudantes que expressam o desejo de ser professor têm médias mais baixas no Pisa. No entanto, este traço é mais acentuado nos países com pior desempenho na avaliação (caso do Brasil), onde a diferença de pontuação entre os melhores e piores alunos tende a ser maior e chega a ser equivalente a um ano de estudo.
Ou seja, é como se os jovens que querem ser professores estivessem um ano atrás daqueles que querem ser cientistas, por exemplo. Além do Brasil, a lista inclui países como a Bulgária, Geórgia, Israel, Letônia, Líbano, Peru, Portugal, Turquia, Emirados Árabes Unidos e Uruguai.
A percepção negativa sobre a carreira docente está associada à desvalorização do professorado, que, por sua vez, está ligada às condições de trabalho. Esse aspecto do relatório da OCDE foi destacado por diversos veículos, como a BBC Brasil, em texto reproduzido pela Folha e pelo Metro. O número de alunos por sala, a redução da carga horária e o aumento de docentes na ativa são alguns dos fatores que precisam ser equacionados para melhorar as condições de trabalho. Esses aspectos foram noticiados pela Gazeta do Povo, de Curitiba (PR), e pelo Diário de Goiás, de Goiânia (GO).
O segundo estudo divulgado pela OCDE, "Professores Ibero-Americanos: Insights do Pisa e da Talis" tem como um de seus focos as desigualdades entre escolas.
Como destacaram a revista Nova Escola e o portal G1, a diminuição das desigualdades entre escolas depende da oferta de um ensino de qualidade, por isso é preciso atrair os melhores professores para as escolas mais vulneráveis; não basta aumentar a quantidade de docentes em atividade nessas instituições.
Também influenciam no aprendizado dos alunos a experiência do professor, a estabilidade dos contratos e os salários. Os resultados apresentados nos estudos da OCDE compõem um panorama de questões que merecem um olhar mais aprofundado por parte dos jornalistas de educação.
A formação inicial é apontada como um dos principais desafios tendo em vista a qualificação do docente e da aprendizagem dos alunos. Uma das críticas existentes é o descolamento entre o que se ensina na faculdade e a prática de sala de aula, como assinala a pesquisadora Bernadete Gatti em entrevista à revista Pesquisa Fapesp.
Vale acompanhar ainda o impasse em torno da implementação das diretrizes para os cursos de licenciatura, aprovadas em 2015 pelo CNE (Conselho Nacional de Educação). A nova regra aumenta em um ano a duração do curso (de três para quatro anos) e deveria começar a valer em julho de 2018.
A aplicação da norma corre o risco de ser adiada, pois o Ministério da Educação quer suspendê-la por tempo indefinido. O argumento é o de que as instituições de ensino, em especial aquelas do segmento privado, que concentram a maioria das matrículas, não tiveram tempo para se adequar à nova regra, informou matéria de Paulo Saldaña na Folha de S.Paulo.
Em artigo publicado no Estadão, Renata Cafardo também falou do assunto e chamou ainda a atenção para a má fiscalização em estágios nos cursos que formam professores. Muitos alunos burlam o sistema e, mesmo quando a carga horária é cumprida, o treinamento não é eficiente. O estágio bem feito também foi destacado em um dos estudos da OCDE como crucial nos melhores sistemas de ensino do mundo.
No ano passado, o MEC lançou a Política Nacional de Formação Docente, que inclui a criação do programa de Residência Pedagógica (um estágio supervisionado nos cursos de licenciatura), que passa a funcionar paralelamente ao Pibid (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), mas a quantidade de bolsas também não é suficiente.
No entanto, segundo resultado preliminar divulgado pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), mais de 400 instituições tiveram projetos aprovados para os dois programas – o que pode ser uma ideia para matérias sobre o programa, enfocando as propostas apresentadas.
Um aspecto fundamental no campo das condições de trabalho é o salário do professor. Estudos, inclusive da OCDE, apontam o que a remuneração docente no Brasil está entre as mais baixas no mundo. Segundo o relatório “Education at a Glance” de 2017, o salário inicial de um professor brasileiro é de cerca de US$ 13 mil ao ano. A média entre os países da OCDE é de US$ 30 mil, detalha matéria publicada pela Nova Escola.
Além disso, apesar da lei que instituiu o piso salarial para professores, muitos municípios e alguns estados não pagam o mínimo legal. Em Minas Gerais, por exemplo, 70% dos municípios não pagam o piso, segundo notícia do G1 baseada em estudo do TCE (Tribunal de Contas do Estado). No Espírito Santo, 65% dos municípios estão na mesma situação, de acordo com o TCE local, em matéria da Folha Vitória.