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Como fazer educação ganhar audiência? Editores respondem

Veja vídeo da mesa em que editores do Nexo, da Folha e da TV Globo discutiram como valorizar pautas de educação no Congresso da Jeduca

04/09/2017
Redação Jeduca

Educação rende cliques, desperta o interesse do público de jornais e telejornais, mas perde espaço na disputa com temas “quentes” do dia, algo que tem sido especialmente frequente nestes tempos de crise política. Valorizar a educação na pauta passa pelo esforço de buscar novos formatos e de contextualizar as notícias, não só aproximando os grandes temas da área da realidade do leitor/espectador, mas mostrando, com base em dados, a relevância deles para o futuro do país.

 

Esses foram alguns dos pontos debatidos na mesa “Editores e a Educação como Notícia” durante o 1º Congresso de Jornalismo de Educação, promovido pela Jeduca. Realizada em 29 de junho, a mesa foi mediada pelo jornalista Ricardo Falzetta, do Todos Pela Educação, e teve a participação da diretora geral do Nexo, Paula Miraglia, do editor do caderno Cotidiano da Folha de S. Paulo, Eduardo Scolese, e de Nélio Horta, chefe de Produção de Telejornais da TV Globo em São Paulo.

 

Paula acredita que um dos problemas da cobertura é que educação é um assunto com o qual as pessoas têm familiaridade ou acham que têm. “Temos jovens fora da escola, a situação do ensino público, a crise no ensino superior privado, muitos elementos que mostram que o tema é sensível para o Brasil. E não temos sido capazes de sensibilizar o público, como acontece com a violência, que está todos os dias nos jornais.”

 

“Porque a realidade que a gente tem hoje na educação brasileira não foi constituída ontem, vem de muito tempo. Em que medida a gente está sendo capaz de sensibilizar as pessoas para que isso de fato as incomode?”, perguntou Paula. “Para que eu deseje que o ensino público seja de qualidade mesmo que eu não o frequente? Como você aproxima as pessoas de realidades que não são necessariamente as delas?”

 

Para romper com essa “anestesia”, a diretora do Nexo considera fundamental investir em novos formatos, como infográficos e podcasts. “Fazemos muitos infos, que são uma maneira de comunicar interessante, você entrega muita informação num formato a que o leitor não está acostumado. Fizemos isso com a questão dos jovens fora da escola. A ideia não é explicar tudo, mas dar uma dimensão do problema.”

 

Scolese discordou de Paula.  “A população em geral se comove com educação, ainda que os políticos não (deem a devida atenção ao tema)”, disse.

 

O editor da Folha projetou no telão da sala de debate uma lista com as dez matérias do jornal que tiveram maior índice de leitura na internet no primeiro semestre. A mais lida revelou que o governo federal pagou a youtubers para que elogiassem a reforma do ensino médio, seguida de reportagem sobre uma jovem negra de baixa renda que passou em primeiro lugar no concorrido curso de Medicina da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto. “As reportagens geram cliques pela presença da educação no dia a dia das pessoas. Elas se preocupam com isso, gostam de exemplos de boa educação, como o de uma escola pobre do interior do Piauí com bom desempenho em matemática.”

 

Scolese disse que boas pautas de educação sempre são valorizadas na Folha, mas admitiu que a disputa por espaço é grande. “No Cotidiano, a gente cobre desde educação, saúde, segurança, ambiente, gestões Dória e Alckmin, crise da água, num espaço de quatro, cinco páginas por dia.”

 

Nélio Horta também falou sobre a disputa por espaço na pauta. “Historicamente a Globo, a Fundação Roberto Marinho, sempre deram espaço para a educação. Pauta de educação é sempre bem-vinda, em qualquer telejornal. Mas como é que a gente consegue emplacar uma notícia de educação no Jornal Nacional com Brasília pegando fogo?”, disse. “Os telejornais vivem de notícia, eles têm que dar notícia. Então se eu chego lá e digo ‘vamos tratar do ensino médio’, alguém vai dizer: ‘Vai produzindo aí e algum dia a gente mostra. Porque eu tenho outras prioridades.’”

 

O produtor da Globo acredita que há três perfis de pautas de educação. Um primeiro bloco é de assuntos mais tópicos, que interessam diretamente a uma parte do público, como falta de uniforme escolar na rede pública. O segundo é de matérias ligadas a campanhas de responsabilidade social da Globo, de valorização do professor, por exemplo. O terceiro são os “grandes temas”. “Estes são os mais difíceis de a gente conseguir emplacar. Porque na televisão vão me dar 2 minutos e meio para aprofundar aquilo, então eu já peço: ‘Me dá cinco matérias que aí a gente consegue contar.’

  

Uma pergunta encaminhada pela plateia fez uma provocação aos debatedores: a de, em vez de abordar assuntos que já interessam ao público, produzir pautas que levem as pessoas a se interessar por temas menos explorados, iluminando, por exemplo, aspectos despercebidos de políticas públicas. “A gente está sendo apenas reativo? Será que não é o caso de ser mais propositivo para colocar educação no centro do debate?”, perguntou Falzetta.

 

“A gente precisa se reinventar. Incentivo repórteres da Folha a trazerem pautas diferentes”, disse Scolese. Ele acredita que uma das maneiras de fugir do óbvio é mostrar exemplos inspiradores, como o de diretores que conseguem fazer suas escolas se destacarem em regiões carentes. “Alguém pode ler aquilo e pensar: por que a gente não faz isto aqui também?”

 

No entender de Paula, a pergunta da plateia tocou em uma das missões da imprensa. “Precisamos atender aos interesses do público, sem dúvida, mas, se a gente não pauta o debate, perde um pouco a nossa função. Acho que aí não dá só para o nosso cotidiano pautar a nossa atividade, acho que é um exercício constante de reflexão”, disse.

 

“No Nexo, a gente gosta muito de discutir a formação de narrativas baseada em evidências. É muito mais forte quando a gente consegue mostrar para as pessoas que aquilo que está sendo afirmado está baseado em dados e pesquisas”, disse Paula. Ela citou como exemplo o tema das cotas nas universidades públicas. “A gente fez uma entrevista com o Naércio Menezes, professor do Insper que estudou o impacto das cotas e mostrou que o desempenho dos estudantes é excelente”, disse. “A gente deu ferramentas para o debate. Isso está na missão do nosso jornal, que é também a de qualificar o debate público.”

  

Nélio Horta concordou com a necessidade de se aprofundar o debate dos temas da educação, mas chamou a atenção para as especificidades do “produto” televisão. “Quando alguém lê um texto pela internet ou num jornal, tem todo um processo de ‘se dispor a’. Eu trabalho num veículo em que eu estou disputando com a criança que chora, a panela que apita, o celular...”, disse. “A gente tem que aprofundar a discussão, sim, mas eu tenho que fazer isso de uma forma tão ilustrativa que seja capaz de segurar. Quem de vocês aqui consegue assistir a um telejornal inteiro? Nem eu consigo. Porque você está fazendo um monte de coisas ao mesmo tempo.”

 

“Por isso a nossa rotina faz com que trabalhemos no pontual, atendendo as demandas pontuais das pessoas, e tenhamos a possibilidade de construir trabalhos em que, aí sim, eu vou juntar o exemplo do Piauí, o do Rio Grande do Sul, e construir uma história em que eu vou provocar um pensamento crítico em quem está vendo”, disse Horta. “Mas, quando eu pego uma história isolada, aí eu corro o risco de o cara dizer: ‘E daí?’ É esse risco que eu não posso correr.”

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