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Agência Brasil

Como ir além da guerra dos métodos na cobertura de alfabetização

Tema voltou à pauta com a 1.ª Conferência Nacional sobre Alfabetização Baseada em Evidências do MEC e merece atenção dos jornalistas

28/10/2019
Marta Avancini

Encerrada a 1.ª Conabe (Conferência Nacional sobre Alfabetização Baseada em Evidências), realizada pelo MEC (Ministério da Educação) entre 23 e 25 de outubro, é importante que a cobertura de educação não perca de vista os desdobramentos do evento e acompanhe os próximos passos envolvidos na implementação da Política Nacional de Alfabetização, que deverá ser implementada a partir de 2020.

 

Para apoiar quem quiser trabalhar com o tema, reunimos alguns documentos e fontes que podem ser úteis para essas matérias.

 

Vale recordar que o assunto ganhou destaque, pois a alfabetização foi incluída na lista das prioridades do governo Bolsonaro e ganhou um espaço específico no organograma do MEC, com a criação da Sealf (Secretaria de Alfabetização)

 

Em abril, foi lançada, por meio de decreto do presidente da República (n.º 9.765), a (PNA) Política Nacional de Alfabetização, alinhada ao método fônico, considerado pelo governo como mais eficaz, a partir de evidências científicas e da experiência internacional - o que  desencadeou um debate em torno do “melhor método” para alfabetizar as crianças. Em agosto, foi lançado o caderno da Política Nacional de Alfabetização e deverá lançar, em abril de 2020, o relatório da 1.ª Conabe.

 

O governo promete começar a implementação da PNA em 2020, com o objetivo de modificar o quadro atual, em que metade dos estudantes do 3.º ano do ensino fundamental têm nível insuficiente em leitura e matemática, segundo a ANA (Avaliação Nacional de Alfabetização) de 2016 (divulgada em 2017).

 

Pontos de partida distintos

Um aspecto a se considerar no debate sobre os métodos de alfabetização é perceber que os defensores de uma ou outra perspectiva partem de pontos de vista diferentes do que é alfabetização. É importante lembrar também que o debate sobre  “o melhor método” de alfabetização não é uma exclusividade do Brasil e mobiliza educadores e pesquisadores em várias partes do mundo.

 

Os defensores do método fônico apoiam-se em evidências científicas derivadas de pesquisas da neurociência, medicina ou psicologia sobre o aprendizado da leitura e da escrita – e da experiência de países “avançados”, que melhoraram seus indicadores educacionais, como é enfatizado neste episódio de Missão Escola, da rádio CBN, em que a pesquisadora Ilóna Becskeházy relata como foi a 1.ª Conabe.   

 

Neste campo, a ênfase recai sobre o processo de aquisição da leitura e da escrita decorrente da associação entre som e escrita, entendido como etapa primordial para que o aluno seja capaz de usar a língua na vida – ou seja, compreender o que lê, interpretar um texto, desenvolver a expressão escrita etc. A assimilação da associação entre som e escrita é considerada o ponto de partida para o desenvolvimento de outras habilidades no campo da leitura e escrita.

 

Um documento usado como referência pelos defensores dos métodos fônicos no Brasil é o relatório “Aprendizagem infantil - Uma abordagem da neurociência, economia e psicologia cognitiva”, lançado pela Academia Brasileira de Ciências em 2011. O documento analisa, entre outros pontos, as associações entre a neurobiologia e os métodos de alfabetização, apontando as limitações do método global.

 

O debate contrapõe o método fônico ao método global, que surgiu entre o final do século XIX e início do XX,  a partir de teorias do desenvolvimento da psicologia. Essa perspectiva entende que a criança percebe a linguagem como um todo e que esta percepção antecede a análise das partes. Por isso, são métodos que partem, por exemplo, do reconhecimento das palavras do cotidiano e da cultura da criança para trabalhar, num segundo momento, a formação das sílabas. 

 

Pesquisadores que trabalham a alfabetização no contexto do letramento - perspectiva que se difundiu no Brasil nos últimos 20 anos - estão alinhados com essa visão; para eles, a associação entre som de fala e escrita é uma etapa dentro do processo de alfabetização, entendido de maneira mais abrangente.

 

No entanto, é importante ter em mente que os teóricos e pesquisadores deste campo não abolem necessariamente um trabalho focado no desenvolvimento da capacidade de associação entre o som e a escrita, como declara Magda Soares, pesquisadora do Ceale (Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita) da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), nesta entrevista à Carta Capital. 

 

O Ceale é um dos centros de referência em alfabetização no país, com uma intensa produção científica sobre o tema, que pode ser consultada, por exemplo, na coleção Alfabetização e Letramento. Além do Ceale, outra referência nesse campo é o Ceel (Centro de Estudos em Educação e Linguagem) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

 

Do debate à sala de aula

Um ponto que vale ficar atento – e que tem sido tema de reportagens, como o especial “Crianças que leem” recém-publicado pelo Estadão, entre outras - é que na sala de aula, os professores alfabetizadores costumam combinar uma diversidade de estratégias, ligadas às duas concepções.

 

Essa perspectiva foi ressaltada na mesa “Alfabetização na prática”, no 3.º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca, com duas professoras alfabetizadoras de redes de ensino de Lagoa Santa (MG) e Sobral (CE). No debate, chama a atenção que nas duas redes, independentemente do alinhamento com uma ou outra visão, as professoras enfatizaram a importância da continuidade das políticas públicas e do apoio ao professor - por meio de formação e das estratégias de colaboração e trabalho em equipe - para o sucesso da alfabetização.

 

PNA: próximos passos da cobertura

O MEC anunciou que a PNA deverá começar a ser implementada em 2020, mas ainda não detalhou como será o processo, nem o montante a ser destinado à política.

 

Além do financiamento, também é preciso ficar atento à articulação, especialmente com as redes municipais, para a implementação da PNA, já que elas concentram a maior parte das matrículas de crianças em idade de alfabetização.  

 

Também é preciso considerar como a PNA vai se articular com o PNE (Plano Nacional de Educação) e a BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Analistas entendem que a  Base aproxima as duas concepções de alfabetização, ao validar as práticas sociais da leitura e da escrita, o multiletramento (habilidade de lidar com ambientes digitais e multimidiáticos) e, também, o trabalho direto para a decifração das relações entre som e escrita.

 

Outra linha de pautas, que pode enriquecer o debate, é explorar mais a fundo a experiência de redes de ensino que estão na vitrine dessa cobertura, como Sobral (CE), Teresina (PI) e, também, Lagoa Santa (MG). As duas primeiras têm sido citadas como exemplos de boas experiências de aplicação do método fônico, e a terceira mantém um projeto de alfabetização ligado ao Ceale da UFMG, o Alfaletrar, desde 2007.

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