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Joédson Alves/Agência Brasil
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Compreenda a nova referência do MEC para avaliar a alfabetização

Medida resulta da pesquisa Alfabetiza Brasil, realizada com professores alfabetizadores, formadores de professores, pesquisadores, representantes de entidades, Undime e Consed nos meses de abril e maio

31/05/2023
Marta Avancini

(Com apuração da Isabella Siqueira)


O
MEC (Ministério da Educação) e o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) anunciaram, nesta quarta (31/5), a pontuação na escala do Saeb que define uma criança alfabetizada: 743 pontos.

 

O Saeb é uma avaliação realizada pelo Inep a cada dois anos para avaliar o desempenho de estudantes em língua portuguesa, matemática e outras disciplinas no 2º, 5º e 9º anos do ensino fundamental e na 3ª série do ensino médio.

 

A definição da pontuação é resultado da pesquisa Alfabetiza Brasil, realizada com 251 professores alfabetizadores das cinco regiões brasileiras  e das 27 Unidades da Federação e especialistas durante os meses de abril e maio com o objetivo de identificar o conjunto de habilidades de leitura e escrita esperadas ao fim do segundo ano do ensino fundamental. 

 

Também foram ouvidos pesquisadores, formadores de professores representantes de entidades, Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) e  Undime (União dos Dirigentes Municipais de Educação).

 

A amostra da pesquisa, de acordo com o MEC, foi construída de modo a contemplar as diferentes realidades existentes no país em termos de tamanho de municípios, das redes de ensino, infraestrutura, entre outras.

 

O objetivo, segundo a pasta, ao estabelecer a pontuação que define a criança alfabetizada, é criar um parâmetro único para todo o país que, ao mesmo tempo, dê conta das diferentes características e condições de oferta de ensino - algo que ainda não existe. 

 

Isso é importante porque estabelece uma referência para as políticas de alfabetização, possibilitando o monitoramento e avaliação dos resultados. Também permite perceber ao longo do tempo a evolução das crianças.

 

De acordo com os resultados da pesquisa Alfabetiza Brasil, a criança atinge 743 pontos na escala do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) é capaz de:

 

  • Realizar leitura e processos básicos de interpretação de texto, com base na articulação entre texto verbal e não verbal como em tirinhas e histórias em quadrinhos.

  • Escrever (ainda com desvios ortográficos) textos que remetem a situações da vida cotidiana como um convite ou um lembrete. 

 

Em síntese, são crianças que estão começando a ler e a escrever de maneira autônoma, mas ainda precisam de apoio pedagógico para consolidar e avançar nesse processo.

 

Os resultados da pesquisa podem ser baixados aqui.

 

De acordo com o ministro Camilo Santana, os resultados da pesquisa Alfabetiza Brasil serão usados para orientar o pacto nacional pela alfabetização, que deverá ser anunciado em breve. A Folha de S.Paulo noticiou que deverão ser destinados R$ 800 milhões à iniciativa, pautada na colaboração entre estados e municípios.

 

Resultados do Saeb

O Inep calculou, com base na pontuação de 743 pontos no Saeb, a proporção de estudantes do 2º ano do ensino fundamental não alfabetizadas:

  • 2019: 39% não estavam alfabetizadas.

  • 2021: 56,4% não estavam alfabetizadas. É importante lembrar que esse resultado está influenciado pela pandemia de covid-19.

Importante: esses dados foram obtidos por meio de análises do Inep a partir dos resultados do Saeb 2019 e 2021 incorporados à pesquisa Alfabetiza Brasil, não são dados novos.


O
Saeb 2021 mostrou que a queda de rendimento na etapa de alfabetização foi maior do que em outras fases da educação básica, além de ter caído em relação a 2019: os estudantes do 2º ano do ensino fundamental pontuaram, em média, 725,5  em 2021 contra 750 em 2019. 

 

Além disso, o percentual de crianças com dificuldade para ler e escrever passou de 15,5% para 33,8% nos mesmo período, de acordo com o Saeb.

 

O percentual de crianças de 7 e 8 anos que não sabem ler e escrever passou de 13% em 2019 e 2020 para 26,7% em 2022, segundo o estudo “Impactos da pandemia na alfabetização das crianças brasileiras”.

 

Em 2022, o MEC divulgou que 54% dos estudantes de 3º ano, 44% dos de 4º ano e 20% dos de 5º ano haviam atingido a pontuação mínima.

 

Em relação a proficiência média em língua portuguesa, sete estados ficaram acima da média nacional em 2021 (725,5), que foram: Santa Catarina (752,3), Distrito Federal (738,2),  São Paulo (735,5),  Ceará (734,2), Espírito Santo (734,2) e Paraná (730,1), Goiás (731,7).

 

Em comparação com a média nacional do país, os estados com pontuações mais baixas foram: Acre (694,4), Amapá (694,6), Tocantins (698,7), Sergipe (704,6), Mato Grosso (705,3), Roraima (706,3) e Maranhão (707,7).

 

Detalhe importante: procure usar os resultados das avaliações de maneira contextualizada. Não é recomendável, de acordo com educadores e especialistas em avaliação, utilizar os resultados das avaliações de maneira descontextualizada e para ranqueamento. É essencial considerar as condições locais (recursos disponíveis, infraestrutura das redes e escolas, condições de trabalho dos professores, entre outros aspectos), porque o desempenho dos estudantes nas avaliações está associado a esses fatores e às condições socioeconômicas.


Disparidades por raça/cor e socioeconômicas

A proporção de crianças pretas e pardas de 6 e 7 anos (idades esperadas para o 1º e 2º anos do ensino fundamental) que não sabem ler e escrever é maior do que a de crianças brancas. Além disso, houve aumento da porcentagem de crianças pretas e pardas nessa condição entre 2019 e 2021:

 

  • Em 2021, os percentuais de crianças pretas e pardas de 6 e 7 anos de idade que não sabiam ler e escrever chegaram a 47,4% e 44,5%, respectivamente. Em 2019, eram de 28,8% e 28,2%.

  • Entre as crianças brancas, o percentual passou de 20,3% para 35,1% no mesmo período.

O recorte socioeconômico mostra discrepância entre os mais ricos e os mais pobres no que diz respeito à alfabetização, segundo análise realizada antes de o MEC definir a pontuação de corte no Saeb:

- Entre 2019 e 2021, o percentual das que não sabiam ler e escrever aumentou de 33,6% para 51,0%.

- Em relação às crianças mais ricas, o aumento foi de 11,4% para 16,6%. 

 

Avaliação internacional

Os resultados do PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study - Estudo Internacional de Progresso em Leitura), divulgados pelo MEC em maio, traçam um panorama da situação do país em relação à leitura no cenário internacional.

 

O PIRLS é um exame internacional realizado a cada cinco anos pela IEA (International Association for the Evaluation of Educational Achievement)  para avaliar habilidades de leitura dos estudantes do 4º ano do ensino fundamental.

 

O Brasil participou da avaliação pela primeira vez em 2021. Os resultados indicam que cerca de 40% dos estudantes não dominam habilidades básicas de leitura, ou seja, apresentam dificuldades em recuperar e reproduzir parte da informação declarada no texto.

 

Pontos para estar atento nessa cobertura 

- Evitar usar os resultados para fazer comparações descontextualizadas.

 

- Repercutir com especialistas, professores e educadores os dados e resultados anunciados pelo MEC.

 

- Levar em conta os impactos da pandemia de covid-19 nos resultados de 2021.

 

- Considerar que os desafios relacionados à alfabetização existem há várias décadas.


- Identificar e aprofundar iniciativas de redes estaduais e municipais estão realizando para recompor a aprendizagem dos estudantes no pós-pandemia.

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