(Com apuração de Isabella Siqueira)
O MEC (Ministério da Educação) lança nesta terça-feira (26/9) a Estratégia Nacional de Escolas Conectadas, com o objetivo de universalizar o acesso à internet nas escolas públicas brasileiras até 2026 - isso representa 138,3 mil instituições.
Num mundo marcado pela crescente digitalização, a conectividade nas escolas torna-se essencial tanto para a realização de tarefas administrativas, quanto (e sobretudo) para uso pedagógico.
A crise da covid-19 revelou as profundas desigualdades de acesso à rede, a equipamentos e, também, de habilidades de manejo das tecnologias da informação entre estudantes e professores. Nesse sentido, a pandemia também evidenciou a urgência de o país assegurar as condições de acesso e uso da internet nas escolas.
Acesso nas escolas, equipamentos para alunos e formação docente
Pesquisa do Cetic.br mostra que, desde a pandemia, aumentou o número de escolas conectadas à internet, mas faltam dispositivos para acessar a rede. De acordo com reportagem da Agência Brasil sobre o estudo, de 2020 a 2022, a porcentagem de escolas públicas conectadas passou de 78% para 93%. Entre as particulares, a porcentagem passou de 98% para 99%.
Já os equipamentos (notebook, desktop ou tablet para uso dos alunos) estão disponíveis em 86% das escolas estaduais, 49% das escolas municipais e em 80% das escolas particulares.
No que diz respeito aos professores, o estudo mostra que 75% sentem falta de formação específica para usar as tecnologias digitais em atividades com os estudantes - o que leva a outro aspecto importante das apurações: há ações de capacitação para professores previstas? E, mais, quais são as propostas pedagógicas para levar a tecnologia para a sala de aula? A pesquisa do Cetic.br pode ser consultada aqui.
Ausência de acesso
De acordo com a Painel de Conectividade nas Escolas da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), em 2022 seis estados brasileiros tinham mais de 10% das escolas sem acesso à internet: Acre (46,0%), Amazonas (40,9%), Roraima (36,1%), Pará (27,9%), Amapá (27,5%) e Maranhão (11,9%).
Essas discrepâncias são pontos de atenção da cobertura, já que a conexão à internet é o primeiro passo para possibilitar o uso das tecnologias na escola. Assim, vale considerar, nas apurações, quais estratégias estão sendo pensadas para ampliar o acesso de estudantes a equipamentos.
Desigualdades
Outro aspecto relevante para a cobertura é como superar as desigualdades consolidadas ao longo do tempo. O Censo Escolar 2022 computou que 22% das escolas públicas do país não possuem acesso à internet (em 2018 eram 47%), segundo noticiou o Metrópoles; na rede privada, este percentual é de apenas 2%.
Além da desigualdade entre as redes pública e privada, existe também uma discrepância significativa entre escolas públicas situadas na zona urbana e na zona rural: a taxa de conexão à internet é de, respectivamente, 95% e 51%, de acordo com o Censo Escolar.
O recorte por regiões mostra que o acesso tende a ser maior no Sul, Centro-Oeste e Sudeste do que no Norte e no Nordeste: por exemplo, nas escolas de ensino fundamental as porcentagens são, respectivamente de 98,1%, 97,9%, 96,1%, 52,2% e 83,0%, também conforme o levantamento. O Censo Escolar 2020 está disponível aqui.
Acesso por cor e raça
A análise por acesso por cor e raça em estudo do Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) sinaliza que que a proporção de alunos pretos e pardos têm mais dificuldade de acesso a internet que estudantes brancos: no ensino fundamental, 76% dos pardos e 75% dos pretos não têm acesso a computador com internet em casa, enquanto nos brancos o percentual é de 53%. Os dados foram extraídos da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios) 2019 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No universo da rede pública, são significativas as diferenças entre as regiões No Norte e Nordeste, os estudantes de ensino fundamental têm menos acesso à internet (73,2% e 83,2%, respectivamente) do que nas outras regiões (entre 91% e 92,2%), analisa a Pnad Contínua 2021.
Como se percebe, são vários os tipos e níveis de desigualdades de acesso à internet, então, vale analisar a proposta tendo em vista este aspecto.
Outros pontos de atenção
Além das questões de acesso à internet e equipamentos, existem outros pontos relevantes para a cobertura: