Os resultados do Pisa 2018 revelam o aumento da pontuação média dos estudantes brasileiros nas três áreas do conhecimento avaliadas – leitura (área em foco neste ano), matemática e ciências. Apesar disso, os avanços são foram suficientes para o país mudar de faixa de desempenho em relação a 2015 em nenhuma das áreas.
Na média, o Brasil permanece entre os países de mais baixa performance na avaliação. Na média, a maioria dos estudantes nos níveis 1 e 2 de proficiência – ou seja, no limite ou abaixo do mínimo estabelecida pela OCDE, o nível 2. No entanto, a análise pela média pode mascarar uma compreensão mais aprofundada dos fatores envolvidos no desempenho dos alunos (clima escolar, formação de professores, gestão da escola), além de desconsiderar o efeito das desigualdades socioeconômicas e de gênero.
As comparações entre os países são a maneira mais comum de se trabalhar com os dados do Pisa, mas é importante tomar alguns cuidados ao fazer as comparações, como considerar a margem de erro da pontuaçao de cada país - uma pequena diferença pode caracterizar, na verdade, um empate técnico. Também é importante levar em conta as semelhanças e diferenças entre os países, além do nível socioeconômico e gênero, investimento em educação e características dos sistemas de ensino. Confira mais dicas nesta matéria.
O Pisa 2018 avaliou 600 mil estudantes – eles representam 32 milhões adolescentes de 15 anos de 79 países. A amostra do Brasil foi composta por cerca de 10.691 mil estudantes de 638 escolas – o que representa 2.036.861 alunos de 15 anos (65% da faixa etária).
Nesta terça-feira (3) a OCDE fez um webnário sobre o desempnho do Brasil no Pisa, conduzido por Camila de Moraes, especialista em Educação da organização. O vídeo do evento está disponível aqui. A apresentação feita por Camila durante a transmissão está aqui.
O MEC (Ministério da Educação) também divulgou uma apresentação com detalhes sobre a amostra e a aplicação do exame e sobre o desempenho do Brasil na avaliação. O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), ligado ao ministério, é reponsável pela aplicação do Pisa no país.
Destaques do Brasil
No geral, 43% dos estudantes ficaram abaixo do nível mínimo de proficiência (nível 2) nas três áreas avaliadas. A média da OCDE foi de 13%. Em ciências, 55% dos estudantes brasileiros não atingem o nível 2. Em matemática, são 68%. E em leitura, 50%.
Além do ranking pela média, existem diversos temas e abordagens possíveis a partir dos resultados do Pisa 2018, associados principalmente às desigualdades socioeconômicas.
O Pisa mostra que 2% dos estudantes brasileiros atingiram os níveis 5 e 6 (os mais elevados) em pelo menos uma das áreas. A média da OCDE foi 16%. No entanto, 10% dos estudantes pertencentes às camadas de mais baixa renda atingiram a faixa dos 25% de melhor performance. A proporção é próxima à média da OCDE (11%) e mostra que não existe uma relação, necessariamente, entre nível socioeconômico e desempenho. É o tipo de dado que pode render boas pautas, a partir de uma análise mais aprofundada.
Segundo a OCDE, os alunos brasileiros de melhor desempenho tendem a se concentrar em algumas escolas – o que sugere a existência de ilhas de excelência nos sistemas de ensino. Em contrapartida, há menos concentração em certas escolas dos estudantes de mais baixa performance – o que remete a uma discussão sobre a qualidade dos sistemas de ensino em geral.
A diferença de desempenho em leitura entre os estudantes das camadas de alta renda e os de baixa renda aumentou em relação a 2009 (ano em que a ênfase do Pisa também foi em leitura): em 2018, foi de 97 e em 2009, 84. A diferença média de escore na OCDE em 2018 foi de 89 e em 2009, 87.
Leitura (Tabela I.4.1 – Relatório 1)
Média Brasil: 413 (Desempenho comparável a Bulgária, Jordânia, Malásia e Colômbia)
Média OCDE: 487
A pontuação do Brasil melhorou em relação ao Pisa 2015 (407 pontos), mas não houve evolução na faixa de desempenho. A pontuação do Brasil permanece no nível 2, considerado o mínimo de proficiência pela OCDE.
Exemplos de habilidades do Nível 2 em Leitura (407-479 pontos): compreende ideia principal de um texto pequeno, compreende relações e significados em um trecho do texto, localiza uma ou mais informações. (Mais detalhes, no capítulo 6 do Relatório 1 do Pisa 2018).
O país da América Latina mais bem classificado é o Chile, com média de 452 pontos. México obteve média de 420 pontos. Embora a pontuação seja maior, vale notar que ambos estão na mesma faixa de proficiência que o Brasil, nível 2.
Matemática (Tabela I.4.2 – Relatório 1)
Média Brasil: 384 (Desempenho comparável a Argentina e Indonésia)
Média OCDE: 489
A pontuação melhorou em relação ao Pisa 2015 (377), mas o país permaneceu na mesma faixa de desempenho, o nível 1 (358 a 419 pontos).
Na faixa 1 de desempenho, os alunos são capazes de resolver problemas em que todas as informações estão explicitas.
A série histórica do Pisa mostra que o Brasil melhorou a performance em matemática. Porém, o avanço se concentra no período 2003 a 2009. A OCDE relaciona a melhora do desempenho com a expansão das matrículas no ensino fundamental 2 e ensino médio no período. Desde 2009, o desempenho dos estudantes brasileiros nas três áreas avaliadas tende a permanecer o mesmo, não houve avanços significativos de acordo com a OCDE. Essa é uma linha relevante de análise que pode render pautas sobre o desempenho em matemática e nas outras áreas avaliadas no Pisa.
Ciências (Tabela I.4.3 – Relatório 1)
Média Brasil: 404 (Desempenho comparável a Peru, Argentina, Bósnia e Herzegovínia e Baku – Afeganistão)
Média OCDE: 489
Pontuação melhorou em relação ao Pisa 2015 (401), mas a faixa de desempenho permanece a mesma, 1.a (335-409 pontos).
Na faixa 1.a, os alunos conseguem usar o conhecimento básico para reconhecer ou explicar fenômenos científicos simples.
Brasil: desempenho das regiões
Uma novidade no Pisa 2018,que merece atenção dos jornalistas, são as tabelas que incluem regiões de alguns países (onde a amostra permitiu) no ranking geral. Isso foi possível para o Brasil, então é possível conhecer a performance de cada região na avaliação, nas três áreas. Este ano, não há dados por unidades da federação, como ocorreu na edição de 2015.
O Pisa 2018 permite conhecer os escores médios das cinco regiões brasileiras, o que é um elemento para analisar as desigualdades e semelhanças de desempenho entre elas. Ao usar esta informação de maneira adequada é preciso ficar atento ao intervalo de confiança (descrito nas tabelas do relatório) para evitar comparações indevidas.
O Sul é a região que tende a apresentar as melhores pontuações e o Nordeste, as piores. Mas os escores do Sul, Centro-Oeste e Sudeste estão dentro da margem de erro, ou seja, estão tecnicamente empatados. O mesmo acontece com o Norte e Nordeste. Para conferir esses dados, consulte as Tabelas I.4.4, I.4.5 e I.4.6 do Relatório 1.
Desigualdade de gênero
No Brasil, as meninas são melhores em leitura e os menos em matemática. Em ciências, o desempenho dos dois gêneros é semelhante. Esse desempenho segue a tendência geral. A pontuação das meninas brasileiras em leitura foi 26 pontos maior do que a dos meninos, por exemplo.
Clima escolar
Segundo o Pisa, 29% dos estudantes brasileiros reportaram sofrer bullying algumas vezes por mês ante a 23% na média dos países da OCDE. A informação está no terceiro volume do Pisa 2018.
Os estudantes que dizem que o professor tem que esperar muito tempo para iniciar a aula até os alunos acalmarem em todas ou na maioria das aulas fizeram 19 pontos a menos em média em leitura do que alunos que informaram que isso nunca acontece. Este é um tema importante, mas precisa ser analisado no contexto das escolas e dos sistemas de ensino e não apenas no àmbito do comportamento e das condutas individuais dos estudantes.
O Pisa registra que 50% dos estudantes brasileiros faltaram à aula uma vez e 44% chegaram tarde na escola nas duas semanas antes do Pisa. A médias da OCDE são, respectivamente, 21% 48%. Segundo a OCDE, é possível estabelecer uma relação entre bullyiing e faltas.