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Crise política, falta de verbas e o papel da imprensa

Priscila Cruz diz que Brasil faz 'voos de galinha' em vez de pensar educação a longo prazo; para Daniel Cara, fim de editorias especializadas afetou cobertura da imprensa e enfraqueceu debate público

28/06/2017
Redação Jeduca

Juliana Causin

Repórter do Futuro

 

O desafio de implementar ou manter políticas públicas de educação em meio ao cenário de instabilidade política foi o tema da mesa “A educação em tempos de incerteza”, que contou representantes do movimento Todos Pela Educação, da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e representantes de secretários estaduais e municipais. No painel, foi destaque o papel do jornalista para o debate qualificado sobre a continuidade (ou a falta dela) das políticas na área.

 

Priscila Cruz, presidente do Todos Pela Educação, disse que a descontinuidade das políticas na área deveria ser um dos grandes pontos de questionamento dos jornalistas na cobertura. "A gente fala tanto que educação é feita a longo prazo, mas o que temos são voos de galinha", disse Priscila. “Temos um histórico no Brasil de programas abandonados.” Apesar disso, ela reconheceu avanços na cobertura sobre o tema.

 

Já o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, discorda. Para ele, a demissão de jornalistas e a desativação de editorias especializadas vem enfraquecendo o debate. “É preciso dar um passo além de ouvir os dois lados -- uma fonte crítica e outra governamental.” A falta de uma abordagem mais profunda resultou, para ele, em uma discussão superficial sobre a reforma do ensino médio. “A imprensa deveria ser mais analítica sobre fatos constituídos.”

Daniel também disse que a imprensa precisa questionar análises que atrelam a preservação de direitos à situação da economia. “A economia deve servir à educação, não a educação à economia” , afirmou.

 

Para o secretário de Educação do Ceará,  Idilvan Alencar, a reforma do ensino médio é um exemplo de política pública que "traz mais dúvidas do que respostas”. Alencar, que também preside o Consed (Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação), ressaltou que alguns Estados, como Minas Gerais, metade dos municípios tem somente uma escola. Em casos como esse não haveria condições de oferecer currículos diversificados, como propõe a reforma.

 

Alencar afirmou que a reforma é insuficiente para resolver problemas estruturais que atingem essa etapa da educação. “Não foi feita uma reforma do ensino médio, mas apenas do seu currículo.”

 

“Os municípios são os que mais sofrem nesse cenário crítico”, disse Alécio Costa Lima, presidente da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação). Segundo ele, após as eleições de 2016 a troca de cadeiras atingiu pelo menos 80% dos gestores educacionais. Lima acrescentou que a União é “a que mais arrecada e a que menos contribui”, deixando para os municípios a maior parte do ônus de financiar a educação básica. “Não dá para fazer milagre só com o aperfeiçoamento da gestão”, observou. 

 

Sobre o papel da imprensa, Idilvan Alencar afirmou que ela tem sido tímida em se contrapor à atual "onda conservadora". Ele criticou a retirada de menções sobre a questão de gênero da Base Nacional Comum Curricular em um país onde esse tema ainda alimenta muito preconceito. Ele também criticou outras formas de preconceito, como o racial. "Intolerância, para mim, só à lactose." 

 

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