Além da adequação das escolas aos protocolos sanitários, a retomada das aulas presenciais, atualmente em discussão, exige um planejamento capaz de dar conta das demandas pedagógicas e psicológicas de estudantes, professores e demais profissionais da educação.
O processo não é simples, pois vai requerer dos gestores das escolas e das secretarias de educação capacidade de adequar as demandas pedagógicas aos protocolos de higiene e distanciamento social, além de dar conta de necessidades pontuais e específicas, como é o caso da educação infantil e da educação especial.
Esse foi o tema do webinário “Recomendações para a volta das aulas presenciais”, com Beatriz Abuchaim, , gerente de conhecimento aplicado da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Maria Helena Guimarães de Castro, membro do CNE (Conselho Nacional de Educação) e Maria Teresa Mantoan, coordenadora do Leped/Unicamp (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diferença), ligado à Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas.
Durante o webinário, Maria Helena detalhou o Parecer 11/2020 do CNE, que oferece orientações para os gestores escolares e de secretarias de educação, e Beatriz apresentou um documento com orientações para a educação infantil, elaborado pela Fundação.
Maria Teresa, por sua vez, analisou o texto original do parecer, que flexibilizava o retorno às aulas dos estudantes com deficiência, transtornos de desenvolvimento e altas habilidades, o que poderia caracterizar discriminação. Várias entidades e grupos de pesquisa reagiram contra este trecho do parecer e o Ministério Público Federal recomendou a retirada do trecho do documento, o que foi acatado pelo CNE. O MEC (Ministério da Educação) homologou o parcialmente o parecer.
Na visão dela, o cenário atual poderia servir de mote para repensar a escolas e as práticas pedagógicas, de modo que elas passassem a ser inclusivas, pautadas pelas potencialidades de cada um e pela busca do desenvolvimento delas ao máximo.
No evento foram debatidos outros vários aspectos que devem ficar no radar dos jornalistas que estão fazendo a cobertura da retomada das aulas presenciais, entre eles:
Formação dos docentes - Outro aspecto importante debatido no webinário e que vale checagem dos jornalistas na cobertura, é a preparação dos docentes para o período pós-retomada. A expectativa é que as escolas adotem o modelo híbrido – atividades presenciais e a distância -, pois dificilmente todos os alunos retornarão juntos. Deverá haver rodízio nas turmas e nas escolas e os professores terão que estar preparados para atuar tanto com os alunos que estão na sala de aula quanto com aqueles que estão em casa.
Organização do ano letivo - O calendário escolar de 2020 deverá se estender para 2021. A legislação brasileira permite esse tipo de flexibilização, prevista na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) e na BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e tem sido praticado em vários países. A medida deverá ser necessária porque a Medida Provisória 934 flexibilizou os 200 dias letivos em 2020, mas manteve a carga de 800 horas. Nesse sentido, vale ficar atento à maneira como a unificação dos anos letivos será feita: como o currículo será organizado? Que metodologias serão adotadas? Quais habilidades e conteúdos serão priorizados? Como fica a situação dos estudantes que estão fechando um ciclo ((5.º e 9.º anos do ensino fundamental e 3.º ano do ensino médio)?
Aprendizagem - O planejamento da recuperação da aprendizagem é outro ponto de atenção. Esta tem disso apontada como uma estratégia importante para suprir as falhas de aprendizagem dos estudantes que não tiveram acesso ou que tiveram dificuldade de estudar durante o ensino remoto e reduzir as desigualdades que se acentuaram nesse período. Vale acompanhar e repercutir com especialistas as estratégias programadas e implementadas em cada localidade.
Na educação infantil, deverão ser necessárias adaptações a fim de que os princípios que orientam as práticas pedagógicas dessa etapa sejam mantidos com a devida segurança. Os pontos a seguir podem ser usados pelos jornalistas como referência em pautas sobre a retomada:
Higienização dos materiais – Os ambientes e materiais são muito importantes na educação infantil. Então, ao invés de privar as crianças de usá-los, seria importante que as escolas se preocupem em fazer a higienização corretamente, a fim de que as crianças possam utilizá-los.
Grupos pequenos – Para tentar reduzir os contatos entre as crianças e entre elas e os adultos, é possível pensar em rodízio, a fim de diminuir os tamanhos dos grupos. Também é importante que as crianças passem todo o tempo com um único adulto.
Escuta ativa da criança – O planejamento das atividades pode ser feito a partir de uma escuta das crianças, a partir de suas percepções e de seu entendimento da pandemia e do isolamento social.
Assista ao webinário na íntegra: