Monitorar os indicadores de alfabetização na idade esperada é necessário e importante. Porém, este é um processo complexo num país como o Brasil, diante das desigualdades na aprendizagem e das discrepâncias entre indicadores. Não bastasse isso, também é preciso aprimorar e fortalecer a formação de professores.
Essa foi uma das conclusões da mesa “Por que é tão difícil saber quantos são os alunos alfabetizados no País?”, com Kátia Schweickardt (SEB/MEC), Beatriz Cardoso (Laboratório de Educação), Ernesto Martins Faria (Iede) e mediação de Paulo Saldaña (Jeduca e Folha de S.Paulo). A sessão ocorreu na manhã do primeiro dia do 9º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca, realizado em 25 e 26 de agosto, em São Paulo.
Da esquerda para a direita estão Kátia Schweickardt (SEB/MEC), Beatriz Cardoso (Laboratório de Educação),
Paulo Saldaña (Jeduca e Folha de S.Paulo) e Ernesto Martins Faria (Iede)
Créditos Tiago: Queiroz/Jeduca
“Do que estamos falando quando falamos em uma criança alfabetizada?”. Com essa pergunta, o mediador Saldãna, iniciou o debate. Em resposta, Kátia chamou a atenção para o desafio de caracterizar uma criança alfabetizada, considerando as desigualdades socioeconômicas, etnicoraciais e regionais do Brasil. Segundo ela, esse cenário impacta o processo de aprendizagem das crianças. Nesse sentido, para ela, a diversidade é, ao mesmo tempo, uma característica positiva e um desafio, pois torna mais complexo o monitoramento da alfabetização no país.
“Por que é tão difícil reconhecer uma criança alfabetizada? Porque a gente não consegue reconhecer o quão difícil e desafiadora é a nossa diversidade. Temos que enfrentar o que está por trás dessa dificuldade, ela tem a ver com diversidade, que é potência, mas também com a nossa maior fragilidade: a desigualdade”, disse a secretária da SEB/MEC.
O palestrante destacou que o monitoramento em nível municipal efetuado pelo ICA (Indicador Criança Alfabetizada), criado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) em 2024 no contexto do Compromisso Criança Alfabetizada, pode contribuir para promover a responsabilização dos municípios frente à necessidade de alfabetizar as crianças na idade esperada. Em contrapartida, também resulta em uma pressão por resultados já no início do ensino fundamental.
“O monitoramento é importante. As consequências do monitoramento, a gente tem que pensar com cuidado para não gerar um foco excessivo nas métricas. O esforço do governo em acompanhar e monitorar a alfabetização é muito positivo”, afirmou Faria.
Com a criação do ICA, passaram a existir dois parâmetros diferentes para monitorar a alfabetização, pois os resultados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) já traziam dados de desempenho dos estudantes do 2º ano do ensino fundamental.
O novo indicador é calculado a partir das avaliações externas aplicadas pelos estados, às quais os municípios aderem. Apesar de o Inep ter definido diretrizes comuns para as avaliações estaduais, existem ponderações sobre diferenças existentes entre as provas dos estados, o que pode influir no ICA, lembrou Ernesto.
Outro aspecto é a divergência entre o percentual de crianças alfabetizadas no 2º ano do ensino fundamental segundo o ICA (56%) e o número apontado pelo Saeb 2023 (49%), divulgado em abril de 2025 após pressão da imprensa. A diferença entre os dois dados é de 7 pontos percentuais.
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Discutir a pedagogia é necessário para virar o jogo e mudar o cenário atual de gargalos na alfabetização, argumentou a pesquisadora Beatriz. Ela entende que os resultados de avaliações geram pressão nos professores, sendo preciso haver uma preocupação maior com a formação continuada desses profissionais.
“O que temos visto acontecer é uma loucura, é preparar para a prova, para o Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica]. Não se fala de pedagogia, sobre os recursos e mecanismos que temos, em dar a mão para o professor para que ele compreenda o desafio e traduza em atividades de sala de aula”, afirmou Beatriz.
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O 9º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca conta com o patrocínio de Imaginable Futures, Instituto Unibanco, Fundação Bradesco, Fundação Lemann, Fundação Itaú, Arco Educação, Fundação Telefônica Vivo, Grupo Eureka, Instituto Ayrton Senna, Instituto Natura e Santillana Educação e apoio da Fecap, Instituto Sidarta, do Colégio Rio Branco e da Loures. Conta também com apoio institucional da Abej, Abraji, Ajor, Canal Futura, Coalizão em Defesa do Jornalismo e Instituto Palavra Aberta.