Em 2022, o ano letivo começará, mais uma vez, em meio a uma série de desafios impostos pela pandemia de covid-19. Em função do avanço da variante ômicron do novo coronavírus, mais contagiosa do que as anteriores, a volta às aulas está marcada por incertezas, num cenário que pode mudar de configuração dependendo da evolução da contaminação.
A tendência, neste início de fevereiro, é de preservação do calendário escolar em boa parte do país, como mostram matérias do G1, CNN Brasil e UOL.
Em contrapartida, há estados e redes que optaram por adiar o início do ano letivo, adotando diversos tipos de formatos: adiamento puro e simples, retorno escalonado - priorizando as faixas etárias já vacinadas -, aulas remotas ou combinação do ensino presencial e remoto. O Estadão noticiou que a rede estadual de Tocantins e as de pelo menos quatro capitais estão nessa situação.
O retorno presencial é apontado como uma necessidade por especialistas da educação – e mesmo da área médica – por conta dos prejuízos gerados às crianças e adolescentes em função do longo período que as escolas brasileiras funcionaram no sistema remoto.
Em contrapartida, o risco sanitário não pode ser desprezado, especialmente porque a vacinação das crianças de 5 a 11 anos está caminhando a passos lentos e de forma desigual. Há locais com uma parcela significativa desta população imunizada, enquanto outros estão tendo baixa procura.
Vale lembrar que, em nível nacional, cerca de 70% da população brasileira recebeu as duas doses da vacina contra a covid-19, mas especialmente nas regiões Norte e Nordeste existem bolsões onde os níveis de imunização são significativamente menores, como mostrou o podcast Ao Ponto.
Além de ficar atento ao ritmo da imunização das crianças, também é importante que os jornalistas conheçam os protocolos de prevenção contra a disseminação do novo coronavírus adotados pelas redes e escolas e, sobretudo, se estão sendo colocados em prática de maneira adequada.
Neste caso, é preciso levar em conta as condições e características locais em várias dimensões: o nível de infecção e a proporção da população vacinada na região e se as escolas contam com infraestrutura adequada, entre outros pontos.
No que diz respeito à exigência do passaporte vacinal, o cenário é bastante diversificado, como mostram levantamentos do Jota e do G1. São Paulo anunciou que vai exigir o comprovante de vacinação contra covid-19 dos estudantes, mas quem não tiver o documento não será impedido de frequentar as aulas e a escola terá de comunicar às autoridades, mostra o Jornal Nacional. Outros estados e municípios também devem adotar a medida, noticia a Record. Na cobertura, é preciso ficar atento às decisões dos governantes, já elas podem ser revistas a depender da evolução da pandemia.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) divulgou uma nota informando que, no contexto da ômicron, a grande maioria dos países (entre eles o Brasil) está mantendo as escolas abertas, graças à adoção de sistemas de monitoramento e alertas que acionam diferentes tipos de medidas, dependendo dos níveis de infecção. Então, pode ser interessante, para quem está na cobertura, conhecer o sistema de seu estado e/ou município, as medidas previstas para cada situação e acompanhar o impacto delas no dia a dia das escolas, da permanência dos estudantes, professores e demais profissionais e na aprendizagem.
Perdas de aprendizagem e evasão
A Unesco também divulgou uma pesquisa internacional (em inglês) da Associação Internacional para a Avaliação do Desempenho Educacional, que relata que mais de 50% dos professores afirmaram que os estudantes não avançaram para os níveis esperados no contexto da pandemia. O estudo contou com a participação de estudantes, professores e diretores de 11 países.
No Brasil, um estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) mostra que a evasão foi maior entre os estudantes na faixa de 5 a 9 anos do que entre os mais velhos. Ainda neste grupo, os estudantes mais pobres e das regiões mais remotas tiveram menos tempo de estudo durante o período do ensino remoto – o que interfere diretamente na aprendizagem. A BBC publicou uma reportagem com alguns dos principais resultados deste estudo.
Já entre especialistas educacionais, há aqueles que relativizam a ideia de que os estudantes tiveram perdas de aprendizagem durante o ensino remoto.
Impactos da pandemia
O Censo Escolar 2021, divulgado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) também traz dados que ajudam a compreender e podem servir de ponto de partida para pautas no contexto da volta às aulas.
Um deles é a queda de matrículas nas creches: segundo o Inep, houve redução de 9% das matrículas entre 2019 e 2021, sobretudo na rede privada.
Essa retração pode estar associada à pandemia, à decisão das famílias de manterem seus filhos em casa, já que a matrícula em creche não é obrigatória. No entanto, isso pode impactar tanto a trajetória escolar futura dessas crianças, quanto a política educacional, pois a queda reverte uma tendência de expansão existente até 2019. Vale lembrar que a meta 1 do PNE (Plano Nacional de Educação) prevê oferta de atendimento em creche para 50% da faixa etária de 0 a 3 até 2024.
Outro aspecto que merece atenção por parte dos jornalistas é a “taxa de insucesso” (reprovação + abandono), como chamou o Inep no material de divulgação do Censo. Os dados sinalizam que houve uma redução significativa da taxa de insucesso em todos os anos da educação básica, porque as redes de ensino implementaram um contínuo curricular entre 2020 e 2021, em função da pandemia. Assim, é preciso acompanhar a evolução desses indicadores, tendo em vista a aprendizagem dos estudantes.
Assista aos vídeos a seguir, nos quais as repórteres Júlia Marques (Estadão), Isabela Palhares (Folha) e Isabella Sander (Zero Hora) falam sobre o cenário e dão mais dicas de cobertura:
No vídeo a seguir, Luiza Nobre (Lição de Casa - AP) e Thais Borges (Correio - BA) falam da cobertura da volta às aulas em 2022 no contexto das regiões Norte e Nordeste do Brasil: