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Ana Volpe/Agência Senado
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Dicas para a cobertura da retomada presencial

Condições de infraestrutura das escolas, abandono e evasão, além das desigualdades, são alguns pontos de atenção para os jornalista

03/08/2021
Marta Avancini

Este mês de agosto começa em um movimento diferente do que assistimos desde março do ano passado, quando a pandemia de Covid-19 se instalou no Brasil e as escolas fecharam: as aulas presenciais devem ser retomadas em boa parte do país.

 

Balanços recentes, publicados em veículos como o Estadão e na Folha, entre outros, apontam que somente três estados não devem reabrir as escolas para aulas presenciais: Acre, Paraíba  e Roraima devem iniciar a retomada em setembro.

 

A mudança de cenário tem a ver com a curva da pandemia: o país vive um momento de redução do número de infecçõesVAci associada à intensificação da vacinação da população em geral e, em especial dos professores e demais educadores, que já receberam pelo menos com a primeira dose em boa parte do país.

 

Ao mesmo tempo, desde a virada do ano, vem ganhando espaço no debate público a percepção de que os prejuízos aos estudantes gerados pela suspensão das aulas presenciais se tornaram muito grandes, afetando principalmente os mais vulneráveis. Somam-se a isso, as evidências baseadas em estudos de que a escola não é um espaço de intensa contaminação.

 

É nesse contexto que surgem iniciativas como o manifesto do Unicef (Fundo das Nações Unidas pela Infância), Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) e um movimento que reúne Fundação Lemann, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Fundação Roberto Marinho, Instituto Alana, Instituto Natura, Itaú Social e o Todos Pela Educação.

 

Ao mesmo tempo, há manifestações contrárias à reabertura em agosto. A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) considera prematura a volta às aulas presenciais massiva no Rio de Janeiro. Além disso, sindicatos de professores ameaçam greves.

 

As condições para a retomada variam

As condições para a retomada presencial variam conforme a região, o município e até entre bairros de uma cidade. Então, é importante ter em mente essas diferenças e desigualdades na apuração das matérias.

 

Uma indicação desse tipo de disparidade são os protocolos de biossegurança: 43% das redes municipais não finalizaram ou não tinham protocolos de biossegurança em julho, segundo levantamento da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação)  e Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

 

Além disso, muitas escolas não contam com uma infraestrutura adequada para a aplicação dos protocolos de segurança, essenciais para uma retomada segura. Estudo do Instituto Rui Barbosa, com base no Censo Escolar 2020, mostra que 10 milhões de estudantes estão matriculados em escolas sem condições de infraestrutura para aplicar os protocolos. O estudo possui dados por estado, município e escola, o que pode ajudar nas coberturas locais.

 

Ficar de olho nos protocolos e na infraestrutura das escolas é um ponto de atenção importante da cobertura, especialmente por causa da presença da variante delta, que é mais transmissível e se dissemina mais rapidamente do que as outras variantes. Especialistas analisam que, diante da ameaça de disseminação da delta, seria necessário aumentar os cuidados sanitários e acelerar a vacinação – caso contrário, a reabertura das escolas (e da economia em geral) pode ser colocada em risco.

 

A experiência internacional mostra que as reaberturas bem-sucedidas dependem da implementação correta dos protocolos, testagem e rastreamento dos casos confirmados, como mostra estudo do Vozes pela Educação. O alinhamento entre os órgãos de educação e saúde e a adoção de políticas coordenadas são aspectos relevantes também. Então, esses pontos também podem render pautas.

 

As desigualadas do ritmo e formato da reabertura entre as escolas, municípios e unidades da federação também merecem atenção dos jornalistas, pois pode intensificar ainda mais as desigualdades educacionais em termos da oferta de ensino e da aprendizagem. Na cobertura, é importante ter essa dimensão em vista na cobertura, atentando aos dados sobre infraestrutura, raça, nível socioeconômico, entre outros, que podem render bons enfoques para pautas.

 

Abandono e evasão

Um dos temas recorrentes durante a pandemia tem sido o risco de abandono e evasão. Com a retomada presencial é possível começar a desvincular quantos estudantes efetivamente se afastaram da escola.

 

Em várias cidades que já abriram parcialmente as escolas, o número de alunos que retorna é menor do que o esperado, o que está relacionado ao medo de contaminação e, também, à perda de vínculo com a escola.

 

Um levantamento da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), por exemplo, mostrou 80% dos entrevistados têm medo de contrair Covid-19 e que 44,1% dos alunos de ensino médio desaprovam o retorno presencial. Entre os pais, são 51,3% e entre os professores, 56,2%. Foram ouvidos 3.600 professores, pais e estudantes paulistas.

 

No entanto, o abandono e a evasão são temas centrais dessa cobertura, pelo impacto que podem na vida das pessoas, suas perspectivas de futuro e para a sociedade, ampliando as desigualdades. Uma pesquisa do DataFolha, encomendada pela Fundação Lemann, Itaú Social e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), mostrou que 43% dos estudantes negros estão no grupo de risco de abandonar a escola ante a 35% entre os brancos. O risco também é maior entre os mais pobres e moradores nas áreas rurais.

 

Pesquisa do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e Cenpec concluiu que os estudantes de 6 a 10 anos são os mais afetados pela exclusão escolar no atual cenário. Esse resultado é significativo porque esta é, justamente, a faixa etária onde o acesso à escola estava quase universalizado. A pesquisa contém dados de estudantes fora da escola ou sem atividades escolares por região e faixa etária no contexto da pandemia coleta

 

Os pontos de atenção aqui são levantar os números de estudantes que não estão retornando, identificar os motivos e as estratégias das redes e escolas para trazer os alunos de volta.

 

Para atrair os estudantes de volta, a Undime e o Unicef fazem uma campanha de busca ativa. Porém, em todo o país, as escolas têm adotado suas próprias estratégias, muitas vezes baseadas em estratégias simples, como monitorar o número de alunos que acompanham o ensino remoto, fazer contato com as famílias, mandar mensagens ou visitar as casas. As redes estaduais também mantêm ações de busca ativa, que podem ser consultadas no site do Consed (Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação) ou nas próprias redes de ensino.

 

Um ponto importante sobre a busca ativa: geralmente, esta é uma estratégia intersetorial, que envolve as áreas da saúde e assistência social, além da educação. A atuação conjunta dessas áreas é vista por especialistas como uma estratégia de garantir os direitos fundamentais das crianças e adolescentes.

 

Aprendizagem

Outro tema forte nesse retorno presencial é a perda de aprendizagem, já que a aula remota não oferece as mesmas condições para o ensino e a aprendizagem que a aula presencial. As crianças da educação infantil e na fase de alfabetização foram especialmente afetadas, já que nessas fases, a interação com o professor e com as outras crianças são centrais para o desenvolvimento: 78% dos professores entrevistados na pesquisa Educação e covid, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, perceberam que a expressão oral e corporal das crianças de pré-escola foi prejudicada. O estudo ouviu 2.070 professores e familiares.

 

Já o estudo  realizado pelo Insper e Instituto Unibanco calcula que os estudantes do 2.º ano do ensino médio perderam entre 9 e 10 pontos menor do que o esperado na escala do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica).

 

Em contrapartida, um estudo do Instituto Alfa e Beto no município de Viamão (RS) é um exemplo de ganhos de aprendizagem na fase da alfabetização durante a pandemia.

 

Nesse sentido, as avaliações dos estudantes são apontadas como uma das ações relevantes para identificar as lacunas e subsidiar as ações de recuperação.

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