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Diretor da OCDE vê evolução do Brasil na série histórica do Pisa

Em videoconferência da Jeduca, Andreas Schleicher diz que país incorporou jovens ao sistema de ensino sem queda no desempenho, mas adverte que há um longo caminho a percorrer para melhorar a educação

07/12/2016
Redação Jeduca

O Brasil teve mais uma vez desempenho ruim na edição de 2015 do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, na sigla em inglês). Mas o principal responsável pelo exame, o diretor de Educação da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), Andreas Schleicher, chama a atenção para aspectos não retratados no ranking. O país incorporou mais jovens à rede escolar sem que isso afetasse a qualidade do ensino, tem sido relativamente bem-sucedido em oferecer oportunidades iguais no acesso à educação e tem uma diferença na performance entre alunos de baixa e alta renda menor que a de outros países. “O Brasil fez tremendos progressos, embora ainda tenha um longo caminho pela frente”, disse Andreas em videoconferência promovida pela Jeduca nesta quarta-feira.

 

Na videoconferência, mediada pelo presidente da Jeduca, Antônio Gois, Andreas fez uma apresentação e mostrou alguns gráficos antes de responder a perguntas de jornalistas brasileiros. No fim do evento, questionado sobre a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 55, que congela os gastos federais em educação por 20 anos, ele disse: “Eu entendo a situação econômica, é um período difícil para o Brasil, mas a questão não é de dinheiro, é de prioridades.”

 

No início da videoconferência, Andreas analisou gráficos sobre equidade na oferta de educação. Eles mostraram que o Brasil evoluiu bastante desde 2006, distanciando-se de países mais desiguais, como Chile, Uruguai e Costa Rica. “Se você é um estudante de família pobre em um desses países, vai se sair pior do que um estudante brasileiro de baixa renda.”

 

Andreas também ressaltou o aumento do porcentual de jovens de 15 anos matriculados a partir do 7º ano no Brasil desde o início da aplicação do Pisa, nos anos 2000. Em 2003, eram 56%, ante os 71% atuais. A OCDE fez uma simulação que mostrou que a performance do Brasil teria avançado em média 25 pontos a cada edição do Pisa se a população escolar não houvesse aumentado. “Esses 25 pontos são o equivalente a um ano letivo na escala do Pisa", disse. “É um resultado impressionante. A melhora de performance é uma das maiores do mundo.”

 

Andreas ressaltou que o Brasil tem condições de avançar mais. Um dos caminhos passa por aumento de investimento. O gasto per capita na formação de estudantes dos 6 a 15 anos é inferior a US$ 40 mil no país, ante pouco menos de US$ 180 mil na Suíça. “Dinheiro não é garantia de sucesso, mas seria importante que o Brasil investisse mais recursos. Os seus estudantes de hoje serão a sua economia, a sua sociedade de amanhã.”

 

Mas o diretor da OCDE também mostrou exemplos de países mais pobres que têm melhor desempenho que o Brasil. “Há muito espaço para progresso no Brasil, mesmo sem mudanças no contexto social”, disse. Ele exemplificou com um gráfico sobre o desempenho de escolas que atendem a clientelas de nível socioeconômico semelhante no Brasil e no Vietnã, com clara vantagem para o país asiático. “Pobreza é um desafio. Mas alguns sistemas de ensino têm sido muito bem-sucedidos ao lidar com esse desafio.”

 

Uma das áreas em que os resultados brasileiros foram considerados “desapontadores” por Andreas foi a da distribuição do investimento, que deveria privilegiar escolas mais carentes. Não é o que acontece aqui. Entre 66 países, o Brasil ficou na 59ª colocação numa avaliação sobre desigualdade na aplicação de recursos, tanto financeiros como humanos. “O Brasil não foi bem-sucedido em atrair os professores mais talentosos para as salas de aula mais desafiadoras”, disse. “Aliás, toda a América Latina vai mal nesse aspecto.”

 

Na questão dos professores,  Andreas mostrou um gráfico segundo o qual o tamanho das salas de aula não difere muito no Brasil em comparação com potências do Pisa, como Japão e Cingapura. Aqui o número de estudantes fica na faixa de 35/40 por sala, a mesma do Japão – em Cingapura o número oscila na faixa de 30/35. O que diferencia os países é a proporção professor-aluno, que é de 1 para 30 no Brasil e de 1 para pouco mais de 10 nas nações asiáticas. “Isso significa que os professores brasileiros vivem muito ocupados, dando uma aula depois da outra. Em Cingapura e no Japão eles têm muito mais tempo para preparar aulas, atender pais e alunos e investir na sua formação profissional”, disse. “A maioria dos sistemas educacionais bem-sucedidos paga bem os professores e dá a eles boas condições de trabalho.”

 

O diretor da OCDE também comentou o desempenho das escolas particulares brasileiras no Pisa, que considerou decepcionante. “Elas vão melhor que as públicas, mas, quando você olha a condição socioeconômica dos estudantes, a diferença é bem pequena, na verdade”, disse. “Por atender a um público privilegiado, elas deveriam se comparar com escolas do mundo em situação semelhante. Mas elas não conseguem competir.”

 

Respondendo a uma pergunta de Gois, o diretor da OCDE negou que tenha havido problemas com a amostra brasileira no Pisa – especialistas levantaram a hipótese de que mudanças na amostra teriam provocado o melhor desempenho em matemática verificado em 2009 e, em menor escala, em 2012. “Olhamos para isso com muito cuidado na OCDE e avaliamos que as amostras eram acuradas tanto em 2009 quanto em 2012”, disse. Mas ele afirmou que é preciso ter cautela quando se fala em progresso, porque o correto é comparar as provas do Pisa de acordo com o foco – Ciências em 2006 e 2015, Matemática em 2003 e 2012, e Leitura em 2000 e 2009. “No caso de Matemática, os resultados de  2003 e 2012 são consistentes. Existiu uma melhora no caso brasileiro”, afirmou. “Se há flutuações, elas não dizem respeito à amostra, são flutuações estatísticas.”

 

Respondendo à pergunta de um internauta, Andreas comentou críticas de que o Pisa faz comparações injustas entre países, que não levam em conta, por exemplo, diferenças culturais. O diretor da OCDE admitiu que é difícil comparar países, mas relativizou a suposta injustiça usando como exemplo a situação de dois alunos, de alta e baixa renda. “Quando eles saem da escola, vivem no mesmo mundo, na mesma cidade, competem pelos mesmos empregos. Não é justo esperar que o aluno pobre se saia tão bem quanto o rico, mas a realidade vai acabar forçando essa comparação, queiramos ou não”, disse.

 

Para o diretor da OCDE, o mesmo raciocínio vale para países, nos quais as comparações permitem identificar experiências de sucesso. “Nos anos 60, a Coreia do Sul tinha um nível de desenvolvimento igual ao do Afeganistão hoje. Mas eles fizeram da educação sua prioridade número 1 e construíram um dos melhores sistemas de ensino do mundo”, disse. “É tudo uma questão de escolha de políticas e é importante olhar pelo mundo para ver como outros países lidaram com isso.”

 

A pergunta de um internauta sobre a PEC foi a última da videoconferência. Andreas citou como exemplo países como a China, que, segundo ele, fizeram a opção de preservar o investimento em educação. “Se o Brasil não aumentar o investimento – e fazendo escolhas sensatas, gastando bem o dinheiro –, vai ser muito difícil melhorar o resultado educacional”, disse. “Isto é algo muito, muito claro.”

 

   

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