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Educação sob ataque: reflexos do trumpismo no Brasil e o jornalismo nesse cenário

Os desafios enfrentados pelas universidades, os efeitos do cenário norte-americano no Brasil e importância de dar visibilidade às novas práticas na educação foram pontos abordados na quinta mesa do #Jeduca2025

17/09/2025
Redação Jeduca

No contexto de investidas à educação nos Estados Unidos, a quinta mesa do 9º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca abordou os desafios das instituições educacionais para se defenderem de ataques e como o jornalismo e a educação podem fortalecer a democracia em um cenário em que a extrema direita tem ganhado espaço.

 

No primeiro dia do congresso, 25 de agosto, a mesa “Democracia em crise e a imprensa nesse cenário” reuniu Bianca Santana, colunista da Folha de S.Paulo e comentarista da TV Cultura, Marcelo Lins, jornalista paulista da GloboNews, o sociólogo Simon Schwartzman, e Beatriz Bulla, apresentadora da RedeTV! e do Amado Mundo, na mediação.

 

 

Da esquerda para direita estão Bianca Santana (Folha de S.Paulo e TV Cultura), Marcelo Lins (GloboNews), Simon Schwartzman (sociólogo) e Beatriz Bulla (Rede TV! e Amado Mundo), mediadora da sessão
Créditos: Tiago Queiroz/Jeduca

 

 

Citando como exemplo a guerra na Faixa de Gaza, Lins lembrou que as investidas contra a educação, enquanto parte de um plano político, não são um movimento exclusivo do governo Trump. “A educação, pode parecer que não, está em todos os cantos. Se pegarmos a tragédia que se aprofunda em Gaza por conta da ação militar israelense, um dos principais alvos dos ataques foram as universidades, quase nenhuma escola sobreviveu”, disse o jornalista. 

“A educação é importante de ser destruída quando se quer quebrar a espinha de uma população”, disse Lins.

 

 
No entanto, sobre o cenário norte-americano, ele chamou atenção para a parcela de responsabilidade das universidades que,  por não externalizarem os debates à sociedade,  teriam ajudado na imagem negativa dessas instituições construída pelo Trumpismo, opinou.

“Uma elite que não está preocupada com as questões cotidianas dos Estados Unidos, isso caiu como uma luva para o discurso radicalizado que quer achar culpados para problemas”, completou Lins, que enxerga o mesmo discurso antiuniversidade no Brasil e em outros países.

 

 
 

Perguntado sobre como as universidades podem se fortalecer diante dos ataques de movimentos da extrema direita, Schwartzman indicou que elas precisam ter consciência dos próprios problemas, lidar com eles e comunicá-los com transparência à sociedade. Porém, o sociólogo também alertou que, muitas vezes, o jornalismo faz um retrato mistificado dessas instituições. 

“Se a instituição não fizer o seu dever de casa e os meios de comunicação não derem um retrato fiel das universidades, da sua realidade, dilemas e da forma com que estão lidando com seus problemas, elas se tornam mais vulneráveis”, afirmou Schwartzman.

 

 
A colunista Bianca Santana, apesar de reconhecer a influência dos e a necessidade de se olhar para o que está acontecendo nos Estados Unidos, enfatizou a necessidade de os jornalistas  construírem novas referências e aprendizados em outras partes do mundo, como os países africanos Citando o exemplo da Etiópia, o único país africano que nunca foi colonizado, Bianca questiona: “o que podemos aprender com a Etiópia, que tem outra língua, outras instituições, outros valores?”. Para ela, a importância que damos às decisões de Trump e ao que acontece nos Estados Unidos é uma escolha coletiva - e poderíamos agir de maneira diferente.

Sobre o reflexo das ações do presidente norte-americano no Brasil, ela afirmou que: “Tem embates de poder que o Trump explícita, ele afirma o racismo e sexismo sem meias palavras. Para uma parte da sociedade brasileira, que também compartilha desses valores, é um alívio ter governantes que explicitam uma ideologia sem precisar se esconder”. 


A jornalista enfatizou que a educação é um campo de disputa de visões de mundo. Nesse sentido, ela acredita que “Também podemos aproveitar esse momento e explicar assuntos sem tantos véus”.

 

 

 

 

Como fica a cobertura da educação no governo Trump?

 

Para Lins, dois desafios que os jornalistas enfrentam ao cobrir o governo Trump é lidar com a Flood the Zone (em tradução livre: “inundar a área"), a estratégia baseada na na criação de polêmicas diárias para direcionar a atenção dos críticos a temas superficiais e evitar que a cobertura de educação fique nichada.

 

“É dar uma quantidade de notícias em várias áreas, ataques coordenados, inclusive na educação, cobrir tudo é complexo. O segredo é achar onde está a interseção dessas iniciativas do governo”, disse o jornalista. “A educação precisa ser encarada com essa transversalidade, isso vale também no jornalismo, nos Estados Unidos e no Brasil”, completou.


Já Bianca chamou a atenção para a necessidade de lidarmos com a nossa própria realidade, olhando para problemas como a evasão escolar de jovens negros e como ela está relacionada aos indicadores de violência. De acordo com o Atlas da Violência 2024, de 2012 até 2022, uma pessoa negra foi assassinada no Brasil a cada 12 minutos. “A gente convive com esse dado como se ele fosse absolutamente natural”, refletiu a jornalista.
 

“Eu me sinto desconfortável de olhar e dar tanta atenção ao que o Trump fala ou faz, temos alguma ingerência sobre o que está no nosso quintal. As reportagens que produzimos podem ter alguma influência nesse cenário, podemos fazer as melhores análises sobre o que o Trump está fazendo nas universidades americanas, o nosso poder de influência é zero”, afirmou Bianca.

 

 
 
Neste contexto,  seu conselho é que os jornalistas foquem nas boas práticas das redes públicas de ensino e escolas. “Muitas vezes a gente reduz a democracia ao voto, mas vivemos num país onde metade da população negra não tem a possibilidade de exercer os direitos constitucionais. Essa democracia precisa ser aprimorada também pela educação. A gente pode olhar boas práticas para sobreviver ao Trumpismo e, de fato, construir alternativas”, disse.
 
 
 

O 9º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca conta com o patrocínio de Imaginable Futures, Instituto Unibanco, Fundação Bradesco, Fundação Lemann, Fundação Itaú, Arco Educação, Fundação Telefônica Vivo, Grupo Eureka, Instituto Ayrton Senna, Instituto Natura e Santillana Educação e apoio da Fecap, Instituto Sidarta, do Colégio Rio Branco e da Loures. Conta também com apoio institucional da Abej, Abraji, Ajor, Canal Futura, Coalizão em Defesa do Jornalismo e Instituto Palavra Aberta.

 

#Jeduca2025 #9CongressoJeduca

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