Nesta terça-feira (14/10), foi apresentado na Câmara dos Deputados o relatório do PL 2.614/2024, que, quando aprovado, instituirá o novo PNE (Plano Nacional de Educação) para o período de 2026 a 2034.
Após a apresentação pelo relator, deputado Moses Rodrigues (MDB-CE), na terça-feira (14/10), o relatório deverá ser analisado e aprovado na Comissão Especial da Câmara dos Deputados em duas a quatro semanas e, em seguida, votado na Câmara, conforme explica matéria do O Globo.
O relatório foi elaborado a partir dos resultados de audiências públicas, seminários estaduais e distritais, reuniões com entidades do setor educacional e da análise das emendas parlamentares apresentadas sobre o texto original, apresentado pelo MEC (Ministério da Educação) em julho do ano passado.
O PNE é o instrumento de planejamento da educação e de orientação das políticas públicas educacionais no Brasil que tem força de lei. Ele define um conjunto de metas e estratégias para o desenvolvimento das políticas educacionais no país ao longo de dez anos. Está previsto na Constituição Federal (artigo 214) e também no artigo 9 da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional).
A partir da aprovação do novo PNE, os estados e municípios terão de fazer seus planos estaduais e municipais.
PL original |
Parecer da Comissão |
18 objetivos |
19 objetivos |
58 metas |
70 metas |
253 estratégias |
354 estratégias |
Confira algumas das principais mudanças:
70% até o 5° ano e 100% até o 10° ano
65% até o 5° ano e 100% até o 10° ano
60% até o 5° ano e 100% até o 10° ano
Em posicionamento, o Todos Pela Educação apontou para a baixa viabilidade das metas de aprendizagem descritas no relatório, diante do cenário da educação brasileira. A entidade defende que a tramitação promova um alinhamento com os padrões de qualidade e aprendizagem pactuados para o SNE (Sistema Nacional de Educação). Em 3 de outubro, a Câmara aprovou o projeto que cria o SNE, que agora passará pelo Senado.
Calendário do PNE e monitoramento
O relatório ainda estabelece um calendário de monitoramento e execução das metas, conforme destaca matéria do Metrópoles. O documento, sendo aprovado em 2025, prevê que o PNE deverá entrar em vigor em 2026.
Um dos instrumentos de monitoramento serão os planos de ação, elaborados pela União, estados e municípios a cada dois anos. Esses planos operacionais terão a descrição das políticas, programas, ações e a alocação de recursos para cada objetivo do PNE, segundo matéria publicada no g1.
No calendário proposto, o primeiro plano de ações da União será entregue até 30 de junho do primeiro ano de vigência do PNE, enquanto que os planos de ações dos estados e municípios deverão ser apresentados até o fim do primeiro semestre do segundo ano de vigência do plano, possivelmente em 2027.
É importante lembrar que os planos de ação são diferentes dos Planos Estaduais, Distritais e Municipais de Educação, que devem ser formulados em até 12 e 15 meses após a publicação da lei, de acordo com o cronograma do relatório.
Os planos de ação têm caráter operacional e serão revistos a cada dois anos, enquanto os planos de educação são instrumentos de longo prazo que definem metas, diretrizes e estratégias gerais, de acordo com a realidade local de estados, municípios e distritos.
O calendário também prevê que o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) apresente os indicadores e projeções das metas nacionais em até 180 dias após a publicação da lei do PNE.
Financiamento
No relatório, o objetivo 19 trata do financiamento da educação básica. Segundo o texto, com base em um estudo realizado a pedido da Comissão Especial, foi calculado que a implementação do PNE exigirá um investimento de R$ 280 bilhões, dos quais R$ 130 bilhões deverão ser destinados à melhoria da infraestrutura das escolas públicas e à ampliação das redes municipais e estaduais de ensino.
Em posicionamento, a Campanha Nacional pelo Direito à Educação destaca o que chama de “retrocesso” no substitutivo: previsão de um investimento total de 11% do PIB, sendo 7,5% de investimentos públicos - o que abriria margem para privatização e financeirização da educação pública. Para a entidade, o relatório também adia a implementação do CAQ (Custo Aluno Qualidade) em mais um decênio.
Com relação ao financiamento, a Fineduca (Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação) defende em nota técnica que o cumprimento das metas do novo PNE exige investimentos públicos de 10% do PIB, o que seria possível por meio de uma mudança da estrutura tributária.
Programa Nacional de Infraestrutura Escolar
O relatório, que define a infraestrutura como uma dimensão da qualidade da educação, estabelece a criação do Programa Nacional de Infraestrutura Escolar, vinculado ao MEC, para melhorar e modernizar a infraestrutura das escolas públicas e construir novas unidades. O programa terá como metas:
No relatório, os 19 objetivos do PNE estão organizados em diversas temáticas, que incluem: educação infantil, alfabetização, ensino fundamental e no ensino médio, educação integral em tempo integral, conectividade, sustentabilidade socioambiental, educação escolar indígena, educação do campo e quilombola, educação especial, EJA, educação profissional e tecnológica, graduação e pós-graduação stricto sensu, formação e valorização dos profissionais da educação, participação social e gestão democrática e financiamento e infraestrutura.
Elaborado pelo MEC (Ministério da Educação) a partir do documento final da Conae (Conferência Nacional de Educação) 2024, o PL foi protocolado no Congresso Nacional em junho do ano passado, onde tramitou desde então. Após análise da Câmara, o projeto será encaminhado para ser votado no Senado, onde deverá ser um dos assuntos prioritários, segundo matéria da Agência Senado.
Em julho de 2024, com a sanção da Lei nº 14.934/2024, o atual PNE 2014-2024 foi prorrogado até o final de 2025. A prorrogação do plano, para parlamentares em matéria da Agência Câmara de Notícias, além de evitar a descontinuidade do processo de educação no Brasil, também oferece tempo para a discussão do novo PNE no Congresso Nacional.
De acordo com balanço divulgado pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, lançado em junho de 2025, durante os 11 anos de vigência do PNE, 4 das 20 metas foram ao menos parcialmente atingidas. O documento também aponta que a maioria dos objetivos descritos no PNE, mesmo com atraso, estão longe de serem cumpridos.
Em abril de 2025, foi instalada a Comissão Especial, presidida pela deputada Tábata Amaral (PSB/SP), para analisar o novo PNE. Ao longo do ano, a comissão realizou uma série de audiências públicas sobre o PL.
O texto do novo PNE também foi tema de um ciclo de 12 audiências públicas realizadas pela Comissão de Educação do Senado. Na primeira fase de tramitação do PNE, foram apresentadas 3.068 emendas parlamentares até 21 de maio.
Análise realizada pelo Todos pela Educação destacou que o número de propostas apresentadas ao PL 2.614/2024 foi superior ao registrado no PNE 2014-2024, que recebeu 2.916 emendas. As novas propostas foram apresentadas por 15% dos deputados federais, o equivalente a 77 parlamentares.
Além de parlamentares, diversas organizações apresentaram cadernos de emenda ao PL 2.614/2024, como a Campanha Nacional pelo Direito à Educação juntamente com mais 15 entidades, a Anpae (Associação Nacional de Política e Administração da Educação e outras quatro organizações científicas e a Coalizão Brasileira pela Educação Inclusiva.
De acordo com matéria da Carta Capital, entidades do setor educacional apresentaram emendas que tratam do financiamento do PNE, dos mecanismos de implementação e avaliação, da inclusão do combate ao racismo como eixo estruturante do projeto, da destinação de recursos financeiros para a redução das desigualdades raciais e da criação de metas intermediárias de cinco anos.
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