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Facebook e WhatsApp precisam de regulação, defendem especialistas

Para Ortellado e Durán, plaraformas têm responsabilidade na disseminação de conteúdo de baixa qualidade

19/08/2019
Mariana Mandelli, Especial para a Jeduca

Para conter o cenário de desinformação que se agravou no Brasil nos últimos anos, a regulação de plataformas de redes sociais como empresas de mídia é um caminho necessário. Esta é a opinião de Pablo Ortellado, professor de Gestão de Políticas Públicas na EACH-USP (Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo) e Tomás Durán Becerra, diretor de pesquisa da CUN (Universidade Corporação Unificada Nacional de Educação Superior), da Colômbia,durante o 3.º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca.

 

Segundo os pesquisadores, é “inevitável” que Facebook, WhatsApp e YouTube passem por um processo de regulação e, também, de autorregularão - este já vem ocorrendo, mas de maneira tímida -, com fins de evitar a propagação de conteúdo malicioso.

 

“Temos um debate importante: como regular as mídias sociais se nunca se fez um marco regulatório da mídia no Brasil? Ao mesmo tempo, o algoritmo está privilegiando conteúdo de baixa qualidade e que gera reações inflamadas. E há estudos que mostram que a informação de baixa qualidade e o caráter indignante do conteúdo estão altamente relacionados com o potencial de compartilhamento deles”, afirmou Ortellado durante a mesa “Como as informações, falsas ou verdadeiras, nascem e se espalham hoje”, com mediação da jornalista Vera Magalhães, durante o primeiro dia do 3.º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca.

 

Para ele, há um deslocamento da desinformação desde 2018, migrando do Facebook para o WhatsApp e, mais recentemente, para o YouTube. O fenômeno, analisa Ortellado, pode ser decorrência das medidas de "endurecimento contra a desinformação”, adotadas pelo Facebook. “O problema está relacionado com a maneira como essas plataformas são organizadas. O WhatsApp surgiu como substituto do SMS e ganhou status de meio de comunicação de massa com grupos e listas de transmissão: são elas que permitem a disseminação de informações não verificadas ou falsas”. Segundo Ortelllado, os níveis de criptografia e segurança do WhatsApp é muito alto, então não é possível rastrear a origem das mensagens, o que é bom para a privacidade do usuário, mas torna muito difícil identificar autores de campanhas de desinformação e difamação.

 

Censura x regulação

O risco de a regulação transformar-se em censura também foi discutido pelos palestrantes. Apesar de achar que é uma questão delicada, Ortellado afirma que uma iniciativa desse porte poderia partir da União Europeia, que teria “musculatura regulatória” para “lançar uma tendência”. Durán, de sua parte, acredita ser possível propor um algoritmo limitado como um passo para a regulação dessas empresas.

 

Ambos consideram que os sistemas democráticos correm riscos com a disseminação de desinformação em um ambiente polarizado e de intensa “paixão política”. “Vivemos momentos muito perigosos para a democracia. Governos autocráticos ‘comem’ as instituições pelas bordas, sabotando os processos da democracia liberal e apoiando-se em ações baseadas em desinformação”, disse Ortellado, que também é coordenador do Monitor do Debate Político no Meio Digital e colunista da Folha de S. Paulo.

               

Educação midiática

 O colombiano Durán defendeu a educação midiática – também conhecida como alfabetização midiática e informacional – como forma de fazer com que a sociedade saiba escolher melhor as fontes e veículos com que se informa, o que deve ocorrer desde cedo, com a inclusão desses conteúdos nos currículos escolares. No caso brasileiro, a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) para o ensino fundamental, aprovada no fim de 2017, já contempla competências relacionadas a esse tema dentro do campo da língua portuguesa.

 

“Vemos que nos países do norte da Europa, há uma grande preocupação que a sociedade tenha essas habilidades – o que também não deixa de ser uma relação de interesse da grande mídia, que quer reconquistar seu público e a condição de agente legitimo que informa a sociedade. É uma estratégia para recuperar mercado e empoderar pessoas também”, afirmou.

 

De acordo com ele, apesar de a discussão ainda não ter a mesma proporção na América Latina, algumas inciativas podem ser citadas, o projeto Alfabetzação Midiática e Informacional da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), além do projeto global da BBC Leitura Crítica de Notícias, que ganhou uma versão para o Brasil, e o EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta que pretende formar professores nessa temática..

 

“Como usuários, precisamos compreender as estruturas. Como utilizamos as plataformas, quais decisões tomamos, o que estamos perdendo? Que informações entreguei ao fazer um login? Se não compreendemos tudo isso, deixamos que a máquina nos imponha a informação que vamos consumir”, explicou. “Recuperar a democracia passa por reforçar a capacidade de discernimento crítico das pessoas. Precisamos pensar na informação que elas consomem – os meios de comunicação devem fazer campanhas nesse sentido e os governos podem discutir esses processos em toda a estrutura educacional”, disse Durán.

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