A pandemia do novo coronavírus trouxe as questões socioemocionais para o centro da pauta da educação.
Os desafios do ensino remoto, a preservação do vínculo dos estudantes com a escola, o apoio psicológico a professores sobrecarregados, além do acolhimento quando houver a retomada das aulas presenciais são alguns dos aspectos que merecem a atenção dos gestores e formuladores de políticas públicas, segundo as participantes do webinário “Impactos da saúde mental na educação durante o isolamento social”, promovido pela Jeduca.
Participaram do evento Tatiana Filgueiras (vice-presidente de Educação do Instituto Ayrton Senna), Lia Glaz (gerente de Projetos do Instituto Península) e Christianne Famer Rocha (professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul ligada à Anped - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação).
No webinário, elas enfatizaram que o atual cenário é propício para integrar, de maneira mais efetiva, as competências socioemocionais à educação, na medida em que estas podem ser ferramentas relevantes para apoiar os docentes nas demandas de ensino remoto e os estudantes, tanto durante o período em que estão em casa, quanto na retomada das aulas.
Segundo Tatiana, a experiência internacional mostra que, após uma catástrofe, o tempo de recuperação no campo da educação varia de um país para outro, dependendo das medidas adotadas. Nessas situações, pode ocorrer aumento das desigualdades educacionais, da evasão e perdas de aprendizagem. “Alguns países demoraram quatro anos para se recuperar, outros levam 16 anos. Depende das ações e políticas adotadas. Existe uma série de decisões que precisam ser tomadas e podem impactar no aumento da desigualdade”, analisa. Ela defende que um trabalho mais efetivo com as habilidades socioemocionais - durante o isolamento e na retomada das aulas presenciais - pode fortalecer a aprendizagem.
Nesse cenário, a incorporação, de maneira mais efetiva, das competências socioemocionais às práticas pedagógicas, pode colaborar para reduzir efeitos negativos gerados pela suspensão das aulas presenciais, além de funcionarem como apoio à comunidade escolar durante o isolamento social e as aulas remotas.
Os professores, em especial, têm demandado esse tipo de apoio, reiterou Lia com base nos resultados de pesquisa sobre suas percepções nesta fase. O estudo, realizado com cerca de 7,7 mil docentes mostra que 83,4% dizem não se sentir preparados para o ensino remoto e 55% dizem que gostariam de receber algum tipo de suporte emocional e psicológico.
Embora a maioria se sinta despreparada, a maioria deles (83%) têm buscado meios para manter contato com seus alunos.
“O professor precisa ser visto além do aspecto técnico, do cognitivo. Ele precisa ser bem preparado, bem formado, mas isso precisa vir acompanhado de preparo emocional e saúde. É preciso pensar o desenvolvimento integral do professor. Dessa maneira, eles terão condições de promover o desenvolvimento integral dos estudantes”, afirma Lia.
Para Christianne, além da complexidade do atual cenário, as questões estruturais relacionadas às condições de trabalho dos professores intensificam a pressão sobre eles. “Há uma disparidade de situações nos diversos estados, com condições muito diferenciadas para os professores em termos do salário e condições de trabalho. Isso afeta toda a compreensão do que é um ser humano útil e produtivo numa situação como a que estamos vivendo”. Essa situação se soma às novas demandas que foram incorporadas às rotinas e às pressões geradas pela necessidade de oferecer ensino remoto. “Os professores tiveram que se reinventar da noite para o dia”, comenta Christianne.
Acompanhe o webinário na íntegra: