Evasão escolar, permanência na educação e fome são temas que desafiam os candidatos à presidência e governos estaduais nas eleições de outubro deste ano. “O que se diferencia nessas eleições sobre o debate educacional e que é preciso desafiar os candidatos que querem disputar o Parlamento ou Executivo é sobre como nós vamos resolver o problema da evasão escolar”, inicia Bruna Brelaz, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), em mesa do primeiro dia do 6º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca.
Segundo os dados da Pnad contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) do segundo trimestre de 2021, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística) e analisado pela organização Todos Pela Educação, a evasão escolar quase triplicou durante a pandemia, chegando a aumentar em 171% em relação ao mesmo período em 2020 na faixa etária de 6 a 14 anos.
A educação, entretanto, não é necessariamente o assunto mais urgente no atual cenário. “Não acho que este ano a prioridade do país seja a educação. A prioridade é a fome”, destaca João Marcelo Borges, pesquisador do Centro de Desenvolvimento da Gestão Pública e Políticas Educacionais da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), em 2022, o Brasil voltou para o Mapa da Fome após oito anos. Mais de 60 milhões de brasileiros enfrentam algum tipo de insegurança alimentar, atingindo um em cada três brasileiros. Desse total, 33 milhões de pessoas estão passando fome.
Educação superior
Com a defasagem nas políticas assistenciais, a permanência também é um desafio na educação superior. Desde 2013, quem escolhe fazer pós-graduação recebe apenas R$ 1,5 mil no mestrado ou R$ 2,2 mil no doutorado.
"Se nós não instituirmos um resgate automático das políticas de assistência estudantil, perderemos aquelas pessoas que mais devotam seu tempo e seus recursos, e que mais receberam do estado brasileiro para chegar ao ensino superior. Esse é o maior desperdício. Perder talentos já com muito investimento", diz o pesquisador.
Garantir a existência dos estudantes é garantir seu futuro. “As questões simbólicas são importantes, mas as questões materiais são fundamentais”, afirma a presidente da UNE, enfatizando a necessidade da estabilidade econômica, da reestruturação do Brasil e do combate à fome.
Para a cobertura, Suzana Singer, editora do Núcleo de Treinamento e Debates do Grupo Folha, estimula os jornalistas a trocarem o olhar assistencialista por dados e análises de especialistas. “Às vezes estamos preocupados em discutir grandes políticas públicas, reformas, números, evasão, sem chegar lá embaixo”, pontua a editora.
"Onde ainda deixamos a desejar é em gastar sola de sapato e mostrar a realidade da escola como ela é mesmo”, diz Suzana. Para entender a realidade da educação brasileira, em toda a sua diversidade e carências, os jornalistas devem estar dispostos a diversificar as suas fontes. “O mais interessante é você discutir o que está acontecendo com o grosso dos estudantes e professores. E eu acho que falta inclusive ouvir os estudantes e professores que estão lidando com o dia a dia”, acrescenta.
Impactos da covid-19
Os efeitos da pandemia de covid-19, fome e saúde estão presentes no debate político. Entretanto, o tema educação ainda foge da pauta dos presidenciáveis. "A gente se pergunta muitas vezes: a educação dá voto?”, provoca Borges, que destaca que a educação pode demorar a gerar resultados.
A necessidade de uma reestruturação democrática dos poderes atrasa outros debates. Nesse cenário, a presidente da UNE aponta para a importância da criação de um plano emergencial da educação e para a construção de políticas de estado com uma agenda de prioridade nacional.
Já o pesquisador da FGV adiciona a necessidade de uma agenda de prioridade nacional à primeira infância e às mães. “Não adianta só ofertar a creche e a mãe não ter nenhuma oportunidade de qualificação profissional e serviço social para construir uma trajetória de desenvolvimento pessoal”, diz. Além disso, fica como responsabilidade do jornalista questionar sobre como os governantes vão articular potencialidades locais com diretrizes e políticas nacionais dentro de uma perspectiva democrática e republicana. “A educação é sempre a chave para todos os problemas do Brasil, de A a Z, de qualquer polo”, finaliza Singer.
Confira a íntegra do papo no vídeo abaixo:
O 6º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca conta com o patrocínio master de Itaú Educação e Trabalho e Instituto Educbank, patrocínio de Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Fundação Telefônica Vivo, Instituto Península, Instituto Unibanco, Itaú Social e Santillana Educação, XP Educação e apoio da Fecap, Canal Futura/Fundação Roberto Marinho, Colégio Rio Branco, Loures Consultoria e Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil.
*Edição: Ronald Sclavi
A cobertura oficial do 6º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação é realizada por estudantes, recém-formados e jornalistas integrantes da Redação Laboratorial do Repórter do Futuro, da OBORÉ. A equipe opera sob coordenação do Conselho de Orientação Profissional e do núcleo coordenador do Projeto, com o apoio da editoria pública e da equipe de comunicação da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação).