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'Jornalismo e educação falharam nas eleições nos EUA'

Presidente da Education Writers Association, Greg Toppo falará no dia 7, no Congresso da Jeduca, sobre a experiência de cobrir a campanha que levou Trump ao poder, em 2016

31/07/2018
Redação Jeduca

Presidente da EWA (Education Writers Association), entidade que serviu de inspiração para a criação da Jeduca, Greg Toppo cobriu, com foco em educação, a corrida eleitoral que terminou com a vitória de Donald Trump, em 2016. Toppo, que falará sobre essa experiência no dia 7 de agosto, no 2º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, considerou a campanha frustrante, em termos de debate e de cobertura.

 

"Comentava frequentemente com amigos que duas instituições respeitadas – educação e jornalismo – pareciam ter falhado durante a campanha, porque eu várias vezes me peguei perguntando: 'O que as pessoas sabem e como é que ficam sabendo essas coisas?'”, diz Toppo, que na época trabalhava para o jornal USA Today (hoje ele é editor sênior do Inside Higher Ed, respeitado site de notícias sobre ensino superior).

 

Para Toppo, tanto Trump quanto Hillary Clinton foram superficiais nas poucas menções que fizeram a educação. A proposta que atraiu mais atenção permanece nebulosa até hoje: a promessa do republicano de destinar US$ 20 bilhões para garantir às famílias o direito à escolha, ou school choice. Bandeira eleitoral de Trump, o school choice oferece instrumentos como vouchers aos pais que preferem buscar alternativas à rede pública, de escolas particulares às charter (que têm administração privada, mas são bancadas com recursos públicos).

 

Toppo acredita que os jornalistas americanos, em geral, estavam despreparados para o rumo que a campanha tomou. Esperavam que o legado de Barack Obama desse o tom dos debates, mas a agenda acabou sendo dominada por temas polêmicos como imigração e a crise dos opioides. "Além disso, acho que muitos jornalistas não tinham muita noção de como lidar com a ascensão das fake news – e com as críticas à nossa profissão." Veja abaixo a entrevista concedida por ele à Jeduca:

 

Quais foram os principais desafios da cobertura da última eleição presidencial americana? O tema educação recebeu mais atenção que em campanhas anteriores?

A eleição de 2016 foi algo tão fora da curva sob tantos aspectos – a maioria dos jornalistas americanos estava realmente despreparada para o ritmo e o caráter da corrida eleitoral. O que a princípio parecia que se tornaria um referendo do legado de Barack Obama rapidamente se transformou em um exercício bastante diferente, com temas explosivos como imigração, Islamofobia e a crise dos opioides ocupando espaço em boa parte da campanha. Além disso, acho que muitos jornalistas não tinham muita noção de como lidar com a ascensão das fake news – e com as críticas à nossa profissão.

 

Quanto ao segundo item da pergunta: educação não teve muito espaço na cobertura. Essa é uma questão bastante antiga na política americana, algo que o jornalismo e ativistas têm tentado trabalhar pelo menos desde 2008, quando houve uma mobilização do grupo de advocacy “Ed in ‘08” para tornar a educação um tema da eleição. Eles tiveram sucesso relativo, mas acredito que a maioria dos envolvidos diria que deveriam ter feito muito mais. Educação nem chega aos pés da importância dada a outros temas nas eleições americanas.

 

Quais foram os principais temas educacionais discutidos pelos candidatos? E quais deles causaram mais controvérsia?

Como disse, educação recebeu muito pouca atenção durante as eleições. Quando teve alguma, foi muito superficial – Hillary Clinton, por exemplo, apoiou cautelosamente as charter schools, enquanto Donald Trump defendeu mais enfaticamente o school choice. Essa divergência, se é que de fato havia ali uma divergência, recebeu pouca atenção na cobertura.

 

Clinton apoiou o Common Core [o equivalente à Base Nacional Comum Curricular, mas restrita e português e matemática], enquanto Trump se opunha a ele – mas os candidatos raramente falaram sobre suas diferenças a esse respeito. O Common Core era extremamente controvertido entre republicanos, que o consideravam um programa típico de “governo grande”, intervencionista – Trump chegou a dizer que o Common Core era a “educação via Washington, D.C.” Isso induz o público a erro, já que os padrões do Common Core são aprovados (ou rejeitados, como aconteceu em vários casos), pelos estados, não pelo governo federal.

 

Quanto a controvérsias, durante a campanha Trump teve muito pouco a dizer sobre educação. Numa certa altura, ele prometeu gastar US$ 20 bilhões em school choice. Foi, como eu escrevi em 2016, “praticamente a única ideia na área da educação vista na campanha”.

 

Durante a corrida eleitoral, ninguém sabia ao certo de onde viria aquele dinheiro – mas ele prometeu que, entre recursos estaduais e federais, milhões de crianças receberiam cerca de US$ 12 mil cada uma. Ainda mais desconcertante para mim e para outros que acompanharam a campanha era a pergunta: Para quem vai esse dinheiro? Fiz um texto específico sobre isso.

 

A campanha de Trump atraiu principalmente eleitores brancos de áreas rurais e subúrbios. Mas para eleitores rurais os vouchers de escolas privadas não têm virtualmente nenhuma utilidade, porque na maioria dos casos as escolas públicas são a única opção a uma distância razoável. Já os moradores de subúrbios frequentemente escolhem onde vão morar com base na qualidade da escola da vizinhança. E os vouchers iriam na verdade contra essa escolha. Então a proposta era – e continua sendo – meio que um mistério. Não conseguiu atrair muito apoio no Congresso.

 

Quais assuntos considerados muito importantes por você não receberam a atenção devida na corrida pela Casa Branca?

Em primeiro lugar, diria que fiquei extremamente desapontado pela qualidade geral do debate. Comentava frequentemente com amigos que duas instituições respeitadas – educação e jornalismo – pareciam ter falhado durante a campanha, porque eu várias vezes me peguei perguntando: “O que é que as pessoas sabem? E como é que ficam sabendo essas coisas?”

 

Fiquei surpreso com o fato de os candidatos não falarem nem mesmo de questões mais básicas da educação – não apenas o Common Core ou school choice, mas de como aperfeiçoar as competências das pessoas, seu desempenho escolar e sua qualificação para o mercado de trabalho do futuro.

 

Fiquei abismado de ver que não houve quase nenhuma discussão sobre automação, algo que promete transformar o nosso sistema educacional nos próximos 20 anos – na verdade estou escrevendo um livro em parceria sobre isso e é algo que considero estimulante discutir.

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Qual matéria sua teve mais repercussão durante a campanha?

Uma história que acabou atraindo bastante atenção veio do meu interesse por escrever um feature divertido sobre estudantes que cobriram a campanha presidencial como se fossem jornalistas. Comecei a ouvir pessoas que organizavam esses projetos e elas estavam tensas com os eventos de campanha de Trump, já que na primavera e no verão de 2016 alguns deles acabaram em violência. Então fiz um texto sobre os cuidados extras que os adultos tiveram que tomar para proteger os jovens repórteres.

 

Outra reportagem, escrita alguns dias depois da votação, foi surpreendente até mesmo para mim: ela detalhou como muitos professores sindicalizados votaram em Trump apesar do forte apoio de seus sindicatos a Clinton. Acho que isso surpreendeu até mesmo os sindicatos:

 

Trump (e sua secretária de Educação, Betsy DeVos) deixarão um legado na área educacional? 

Até agora, o legado deles tem sido cortes razoavelmente profundos no Departamento de Educação [órgão equivalente ao Ministério da Educação]. DeVos enxugou os departamentos de direitos civis e de investigação sobre empréstimos estudantis, e eu acredito que essa tendência vai prosseguir. Conservadores aplaudiram esses movimentos, enquanto grupos de defesa de estudantes marginalizados – de baixa renda, de minorias raciais, LGBT ou vítimas de abuso e assédio sexual – afirmam que suas preocupações têm sido deixadas em segundo plano.

 

Uma das primeiras iniciativas de DeVos em termos de política pública foi se reunir não apenas com estudantes universitários que sofreram ataques sexuais nos câmpus, mas com os acusados – ela disse que eles também mereciam ter voz no debate, o que irritou bastante defensores das vítimas. Os encontros aconteceram um dia depois de o chefe do departamento de direitos civis nomeado por DeVos ter sido forçado a pedir desculpas por ter dito que a maioria das denúncias de estupro nos câmpus envolvia, no fim das contas, jovens "que tinham ambos bebido demais".

 

Uma outra preocupação: como seu chefe, Betsy DeVos não tem sido receptiva com a imprensa. Como presidente da EWA, tenho tentado, com meus colegas, levar DeVos ao nosso congresso anual, realizado sempre em maio. Ela recusou nossos convites – duas vezes. Na primeira, em 2017, o encontro da EWA foi realizado a, literalmente, 6 quilômetros do gabinete dela. Devos rejeitou nosso convite para ser uma das principais palestrantes. Sua agenda mostra que, em vez de ir ao congresso da EWA, ela teve um encontro com a chefia do Instituto Nacional pela Excelência de Serviços Automotivos.

 

Ela só deu uma entrevista coletiva cinco meses depois de assumir o cargo.

 

 

 

 

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