Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando neste site, você declara estar ciente dessas condições.
OK
A associação
Notícias
Guias
Congressos
Dados educacionais
Edital
Editora pública
Banco de fontes
CONTATO
ASSOCIE-SE
LOGIN ASSOCIADO
Rovena Rosa/Agência Brasil
Outros

Líderes escolares: entenda o impacto e papel na educação

Episódio de diretores afastados em São Paulo levantou debate sobre efeitos da gestão no desempenho dos estudantes, seleção e formação de profissionais

18/06/2025
Redação Jeduca

O afastamento de 25 diretores de escolas municipais pela Prefeitura de São Paulo em maio deste ano, justificado pelo baixo desempenho das unidades no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e Idep (Índice de Desenvolvimento da Educação Paulistana), trouxe para o debate a importância do papel da liderança escolar na educação e o impacto da gestão no aprendizado dos estudantes.

 

Os diretores, que foram convocados para um programa intensivo de requalificação, deveriam ficar afastados dos cargos de direção até o fim do ano letivo, conforme explica matéria publicada no jornal Estado de S.Paulo. Após pressão popular e reuniões com sindicatos, foi publicado ato normativo suspendendo o calendário previsto para o curso de formação. 

 

Segundo matéria do Brasil de Fato, o conteúdo e duração da formação, bem como a indicação dos assistentes de direção que assumirão unidades durante o afastamento dos titulares, serão discutidos com os diretores.


Em nota técnica publicada no início de junho, a Repu (Rede Escola Pública e Universidade) avaliou que a intervenção em escolas foi arbitrária e sem critérios objetivos. De acordo com a análise, a decisão foi tomada a partir de uma mescla de dois indicadores, sem que as escolas sob intervenção tivessem resultados mais baixos da rede. Um pano de fundo para este argumento é que indicadores como o Ideb, entre outros, não são capazes de abarcar todas as dimensões da qualidade de uma escola ou da educação.

Neste material:
- A gestão escolar e o desempenho;
- A responsabilização do diretor;
- A gestão e os desafios do cotidiano escolar;
- Perfil dos diretores escolares;
- Como funciona a seleção de gestores escolares?;
- Pontos de atenção para a cobertura.

 

 

A gestão escolar e o desempenho

 

A associação do impacto da gestão escolar aos resultados de aprendizagem em testes e nos indicadores e avaliações nacionais é sugerida por estudos recentes, como:

 

  • Tese de doutorado de pesquisadora da FGV (Fundação Getúlio Vargas) mostra que a liderança pode exercer uma influência positiva nos resultados de uma escola no Saeb, podendo aumentar até 12 pontos na nota em língua portuguesa e em matemática.

 

  • Pesquisa publicada na revista Estudos em Avaliação Educacional, da Fundação Carlos Chagas, analisa variáveis relacionadas ao trabalho do diretor escolar e a proficiência média dos estudantes na Prova Brasil entre 2013 a 2019, no 5º e 9º anos do ensino fundamental e 3º e 4º do ensino médio. Ela indica que a liderança do diretor pode impactar positivamente o desempenho em língua portuguesa e matemática.

 

  • Outra pesquisa da FGV EBAPE (Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas) aponta que, em escolas em que as decisões são compartilhadas com a equipe docente e há uma liderança transformacional atuante, os resultados acadêmicos dos estudantes tendem a melhorar, resultando em melhores notas no Ideb.

 

A responsabilização do diretor

 

O episódio dos diretores afastados em São Paulo levantou o debate sobre a atribuição de  responsabilidade exclusivamente ao diretor por resultados insatisfatórios da escola em indicadores e avaliações nacionais. 

 

Mesmo que o papel do gestor escolar seja relevante para o funcionamento da escola, pois é responsável por criar medidas que favoreçam bons resultados, como estratégias para melhorar o clima escolar e incentivar os professores, não é possível atribuir o mau ou bom desempenho em indicadores somente a ele. É o que explica pesquisador em matéria do Porvir.

 

Ao olhar para os resultados de uma escola, especialistas argumentam que é necessário considerar o contexto e o impacto da condição socioeconômica dos estudantes em avaliações de larga escala. Além disso, indicadores como o Ideb oferecem uma visão global, o que dificulta a avaliação do gestor, que é apenas um dos atores da educação.

 

O livro “Diretor escolar: educador ou gerente”, de Vitor Paro, professor da USP  (Universidade de São Paulo), destaca que o papel da escola é possibilitar a formação humana e cidadã do educando. Nesse sentido, além de ser um administrador dos recursos, o diretor deve ser, antes de tudo, um educador, exercendo a função de mediador e facilitador da aprendizagem dos estudantes.

 

O papel do diretor e os desafios do cotidiano escolar

 

Para além da discussão em torno da influência da gestão escolar no desempenho, a cobertura pode aprofundar a discussão sobre o papel do diretor na educação, as políticas públicas voltadas para esses profissionais e os desafios da gestão no dia a dia escolar.

 

Em matéria do Estado de S.Paulo, especialista reflete que não houve construção de identidade da liderança do diretor escolar, que acaba lidando com funções administrativas financeiras e recebendo alunos em casos de indisciplina.

 

Além dos resultados das provas, outras variáveis que devem ser levadas em conta na avaliação do trabalho do diretor escolar são o engajamento, clima escolar, enfrentamento às desigualdades e a relação com a comunidade.

 

Em 2021, o CNE (Conselho Nacional de Educação) aprovou a Base Nacional Comum de Competências do Diretor Escolar. O texto, que define diretrizes para o desenvolvimento dos diretores e parâmetros para as políticas de formação e trabalho desses profissionais, não chegou, no entanto, a ser homologado.

 

Para educador entrevistado em podcast do Instituto de Estudos Avançados Preto (IEA-RP) da USP, as competências de um diretor escolar devem estar alinhadas com questões pedagógicas, contábeis e financeiras, de gestão de pessoas e com a comunicação e novas tecnologias.

 

No contexto dos ataques a escolas e ameaças de violência no ambiente online, supervisora pedagógica consultada em matéria do Porvir destaca que a valorização de questões socioemocionais e a elaboração de soluções digitais são parte do papel do líder escolar, assim como buscar ampliar a relação e a parceria com as famílias.

 

Na Talis (Pesquisa Internacional de Ensino e Aprendizagem) 2018, realizada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), 28% dos diretores brasileiros de escolas dos anos finais do fundamental apontam que situações de intimidação ou bullying acontecem semanal ou diariamente.

 

Relatório produzido pelo Instituto Unibanco destaca que a influência da gestão escolar na educação é indireta, estando relacionada a construção de contextos em que professores, estudantes e toda comunidade possam desenvolver o aprendizado de alta qualidade.

 

Segundo o material, as políticas de liderança escolar podem apoiar a prática de gestão, definir critérios de acesso ao cargo, desenvolver programas de qualificação profissional inicial ou continuada para os diretores, entre outras questões. 

 

Perfil dos diretores escolares 

 

O diretor é a principal figura da liderança escolar, que também inclui o vice-diretor e o coordenador pedagógico da unidade. Em 2024, segundo o Censo Escolar, havia 190.623  gestores escolares no país, sendo 86% diretores e 14% exercendo outros cargos. A maioria dos cargos de direção escolar é ocupada por mulheres (80,6%). 

 

  • Quanto à formação, 99,7% dos diretores da rede federal e 97,8% da rede estadual possuem ensino superior completo. Na rede municipal, esse percentual é de 91,6%;

 

  • 86,5% dos diretores da rede privada têm formação no ensino superior;

 

  • Em 2023, 20,1% dos diretores escolares possuíam formação continuada em gestão escolar, segundo levantamento do Instituto Unibanco com  dados do Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) e Censo Escolar.

 

  • O mesmo levantamento indica que 38% dos diretores brasileiros tinham graduação em pedagogia, enquanto 55,2% eram graduados em cursos da área de educação. 

 

  • O levantamento também aponta que o percentual de diretores com pós-graduação aumentou entre 2019 e 2023, passando de 60% para 73,7%. 

 

O QUE DIZ A LEI? 

 

O Artigo 64 da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) estabelece que os profissionais de educação para a administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação devem ter graduação em pedagogia ou pós-graduação na área.

 

Já o Artigo 14 prevê que as normas de gestão democrática no ensino público sejam estabelecidas conforme a legislação dos municípios e estados e Distrito Federal. 

 

 

 
 

Como é feita a seleção de gestores escolares?


Os meios de acesso ao cargo de diretor escolar incluem a eleição com participação da comunidade escolar, concurso público e a nomeação política e seleções mistas, ou seja, que empregam dois métodos. Segundo o Censo Escolar:


  • Em 2024, a nomeação pela gestão foi o principal meio de acesso na rede municipal (39,6%). Em 2019, antes da pandemia e antes do novo Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), esse percentual era 66,2%. Nas redes estaduais, a escolha da gestão diminuiu de 25,1%, em 2019, para 18,9%, em 2024;

  • Nas redes estaduais, o meio de acesso mais utilizado foi o processo seletivo junto com a eleição direta (26,4%), seguido pelo processo eleitoral (26,1%);

  • Em 2019 e 2024, o acesso por meio de concursos públicos nos municípios aumentou de 7,2% para 8%. Nas redes estaduais, esse meio de acesso teve diminuição de 12,1% para 8,1%;

  • Em 2024, na rede privada, ser proprietário ou sócio-proprietário da escola é a principal forma de acesso ao cargo de diretor (52,2%), seguida pela escolha da gestão (33,4%);

  • Nas redes federais, o processo eleitoral corresponde a 71,4% das nomeações, seguido pelo processo seletivo com eleição (12,4%).

 

Vale lembrar que a distribuição de recursos do VAAR (Valor Aluno Ano Resultado) do Fundeb está vinculada à utilização de critérios técnicos e de desempenho para escolha dos gestores escolares. Essa mudança passou a valer com a publicação da lei nº 14.113, de 2020.

 

Em 2024, Carlos Moreno, diretor do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), avaliou que a mudança no Fundeb contribuiu para o aumento de diretores escolares selecionados a partir de critérios técnicos, segundo matéria do O Globo.

 

O PNE (Plano Nacional de Educação) determina que a escolha dos diretores escolares seja por meio de processos seletivos qualificados. A Meta 19 estabelecia que, até 2016, deveriam ter sido asseguradas condições para garantir a gestão democrática da educação. 

 

De acordo com a estratégia 19.1 do PNE, a transferência de recursos financeiros da União deveria priorizar estados e municípios com legislações sobre gestão democrática e adotassem critérios técnicos de mérito e desempenho juntamente com a participação da comunidade escolar na nomeação de diretores.

 

Em matéria do Centro de Referências em Educação Integral, especialistas argumentam que um único meio de seleção é insuficiente para escolha do diretor escolar, destacando a organização de seleções mistas, como eleições com participação da comunidade  de profissionais selecionados com base em critérios técnicos. 

 

Apesar do que diz a lei e dos avanços recentes, a nomeação persiste como o principal meio de escolha de diretores. A principal crítica a nomeação política é que, por não levar em conta critérios técnicos, pode resultar na escolha de diretores não qualificados. Outras críticas incluem a influência política negativa e a falta de autonomia da escola. 

 

Os demais métodos de seleção reúnem argumentos contra e a favor. Por um lado, a eleição direta com participação da comunidade é vista como um meio democrático de escolha. Por outro, é criticada por ter poder absoluto, na qual o eleito não pode ser contestado, e pela valorização de critérios pessoais e de relacionamento dos candidatos. 

 

A análise de critérios técnicos é um dos argumentos a favor do concurso público, que pode ter como instrumentos de seleção: provas, análise de títulos e tempo de atuação, por exemplo. 

 

Em contrapartida, as críticas envolvem a falta de instrumentos de seleção que avaliam a prática, a escolha de diretores que não se identificam com a comunidade escolar e a dificuldade de retorno ao cargo de professor, caso o gestor não tenha se adaptado.

 

Outro aspecto importante é que, para além do processo de seleção, as secretarias de educação devem garantir o suporte contínuo e a oferta de formação continuada para os gestores escolares relacionada aos desafios cotidianos da função, destaca pesquisadora em matéria do Uol.

 

Pontos de atenção para cobertura

 

  • Um caminho é aprofundar os desafios enfrentados pelos gestores escolares. Vale investigar como acontece o acompanhamento, com qual frequência, como e se é dado algum apoio aos diretores. Além disso, vale investigar que tipo de avaliação da gestão é feita por parte das secretarias de educação dos estados e municípios. Foram oferecidos cursos de formação continuada? Como é feita a avaliação do trabalho dos gestores? Foram estabelecidas metas e competências específicas para cada diretor?

 

  • As reportagens também podem explorar as ações e estratégias implementadas pelos diretores para promover ambientes escolares propícios ao aprendizado dos estudantes, como práticas de acompanhamento e incentivo aos professores e para melhorar o clima escolar. 

 

 
 

Para saber mais


Líderes na escola (2020) - Livro do jornalista Antônio Gois, editado pela Fundação Santillana/Moderna


Liderança escolar (2022) - Relatório produzido pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura)


Liderança escolar para a melhoria da educação: Contribuições para o debate público no Brasil - Relatório do Instituto Unibanco e Universidade Diego Portales (Chile)


Eficácia escolar, liderança e aprendizagem nas escolas estaduais brasileiras: uma análise multivariada em painel (2020) - Tese de Doutorado de Filomena Siqueira, da FGV (Fundação Getúlio Vargas)


Desempenho acadêmico, Índice de Liderança do Diretor e Índice de Confiança do Diretor - Artigo publicado revista Estudos em Avaliação Educacional, da Fundação Carlos Chagas


Efeitos conjuntos da liderança compartilhada e transformacional no desempenho em burocracias de nível de rua: evidências do setor educacional - Estudo da FGV EBAPE Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas)


Diretor Escolar: educador ou gerente? - Livro lançado por Vitor Paro, editado pela Cortez Editora

 

Tem mais sugestões e indicações sobre este tema? Escreva para contato@jeduca.org.br.

 

 

 

#LiderançaEscolar #GestãoEscolar #DiretoresEscolares #EducaçãoBásica

PARCEIROS FINANCIADORES
PARCEIROS INSTITUCIONAIS
ASSOCIAÇÃO DE JORNALISTAS DE EDUCAÇÃO