Às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas 2025 (COP30), que acontece em novembro em Belém (PA), palestrantes de mesa do 9º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca reforçaram a necessidade de a imprensa dar mais visibilidade às iniciativas de educação ambiental e chamaram a atenção para a importância de a educação midiática estar mais presente nas escolas.
Participaram da sessão, que encerrou a programação do primeiro dia do congresso, 25 de agosto, a indigenista Maria do Carmo Barcellos, o professor Márcio Gonçalves (MidiaCOP) e a jornalista Tayana Narcisa (CNN Brasil), e a mediação foi feita pela jornalista Luciene Kaxinawá, da Abrinjor (Articulação Brasileira de Indígenas Jornalistas).
Da esquerda para a direita estão Maria do Carmo Barcellos (indigenista de Cacoal/RO), Márcio Gonçalves (MidiaCOP), Tayana Narcisa (CNN Brasil) e a mediadora Luciene Kaxinawá (Abrinjor)
Foto por Tiago Queiroz/Jeduca
Valorizar e apresentar os projetos e soluções de educação climática que existem nas escolas e universidades em várias regiões do Brasil é um dos papéis do jornalismo, destacou Tayana Narcisa, que também falou sobre a dificuldade em comunicar o tema do meio ambiente. “Como jornalistas, temos o papel de traduzir, mas também de falar sobre casos de sucesso na Amazônia; não somente sobre a questão da infraestrutura, mas dar voz a projetos incríveis”, afirmou, referindo-se ao espaço dado pelo mídia à alta dos preços de hospedagem em Belém por causa da COP30.
“Vários assuntos estão rolando, mas divergindo do que realmente é a COP: um diálogo para acertarmos acordos para termos um futuro”, completou. Para ela, a atenção às questões relacionadas à logística tem desviado a atenção do principal objetivo do evento e feito com que a pauta da educação fique de lado.
“Existem escolas e universidades que desenvolvem casos de sucesso que poderiam ter mais visibilidade. A Amazônia é plural e diversa, mostrar isso é uma forma de mostrar a COP 30", disse Tayana.
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Durante a mesa, os palestrantes reforçaram a importância de educar a nova geração para que seja mais consciente sobre questões ambientais e no consumo de mídias, apontando esses caminhos como maneiras para enfrentar a crise climática.
“A educação tem um papel fundamental diante das mudanças climáticas, tanto no entendimento desses processos quanto na busca de formas de, ao menos, minimizar seus efeitos, que tendem a se acentuar”, afirmou a indigenista Maria do Carmo, que realiza trabalho relacionado ao fortalecimento da identidade das crianças indígenas em seus territórios, à produção de materiais didáticos e à formação de professores indígenas em Rondônia.
“As populações indígenas têm respostas que a nossa sociedade não tem em relação ao conhecimento das florestas e do território. É muito importante que as crianças indígenas valorizem sua identidade e seu território. Não é possível um futuro sem o conhecimento dos povos originários”, salientou Maria.
Na conversa, o jornalista e educador Márcio Gonçalves contou sobre sua experiência no projeto MidiaCOP, que capacita professores de escolas públicas em educação midiática e em educação ambiental. A ideia é que esses docentes possam ser replicadores do projeto em seus territórios, a fim de que os próprios estudantes façam, como repórteres e correspondentes, a cobertura da COP30 em novembro.
Ao falar sobre a importância de formar cidadãos críticos, capazes de compreender o cenário em que vivem, ele explicou que a inclusão de materiais do campo jornalístico em sala de aula busca orientar os jovens a interpretar os conteúdos que consomem nas redes sociais, em plataformas como Instagram e TikTok.
“Quando vamos trabalhar educação midiática com crianças e jovens, estamos ensinando o porquê de tais pautas estarem sendo silenciadas. Se não, eles não conseguem criticar a cidade que habitam”, observou Gonçalves.
No entanto, o educador também salientou a dificuldade do trabalho. “Fazer isso nas diversas esferas da educação, em que você tem educação básica, superior e também os professores, é um cenário bem desafiador, porque nós precisamos primeiro formar cidadãos com consciência crítica”, disse.
O 9º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca contou com o patrocínio de Imaginable Futures, Instituto Unibanco, Fundação Bradesco, Fundação Lemann, Fundação Itaú, Arco Educação, Fundação Telefônica Vivo, Grupo Eureka, Instituto Ayrton Senna, Instituto Natura e Santillana Educação e apoio da Fecap, Instituto Sidarta, do Colégio Rio Branco e da Loures. Conta também com apoio institucional da Abej, Abraji, Ajor, Canal Futura, Coalizão em Defesa do Jornalismo e Instituto Palavra Aberta.