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Mulheres jornalistas são principais vítimas de ataques à imprensa durante eleições 2024

Levantamento foi realizado pela Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor) durante as eleições municipais 2024

13/12/2024
Redação Jeduca

Durante as eleições municipais de 2024 no Brasil, a Coalizão em Defesa do Jornalismo, da qual a Jeduca faz parte, monitorou os desafios enfrentados pela liberdade de imprensa num período marcado por intensa polarização política e crescente hostilidade contra jornalistas e veículos de comunicação. Em parceria com o Laboratório de Internet e Ciência de Dados (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e o ITS Rio, a Coalizão lança o relatório final com análises detalhadas com base no monitoramento realizado entre 15 de agosto, véspera do início oficial da campanha eleitoral, e 27 de outubro, data do segundo turno.

 

Abrangendo tanto os ambientes digitais, com foco no X (antigo Twitter), Instagram e TikTok, quanto episódios fora das redes, as análises revelam padrões de agressões que ameaçam o exercício do jornalismo no país e o papel fundamental da mídia como vigilante do poder público.

 

Confira o relatório completo aqui

 

No ambiente digital, as redes sociais se consolidaram como os principais espaços para a disseminação da violência. O X foi a plataforma com maior concentração de discursos hostis, registrando 35.876 ataques, o que corresponde a 17,7% do total de publicações coletadas na rede. O TikTok, com 10.239 ataques, destacou-se como uma plataforma emergente para a difusão de agressões, enquanto o Instagram foi palco de 10.889 comentários com ofensas. As publicações analisadas frequentemente utilizavam expressões como “lixo”“militante” e “fake news” para desqualificar jornalistas e veículos, reforçando uma retórica de descrédito da imprensa que permeou debates e campanhas eleitorais.

 

Um padrão preocupante identificado no relatório foi a dimensão de gênero e raça nos ataques. Mulheres jornalistas foram mais visadas, recebendo 50,8% do total de ataques, mesmo representando 45,9% dos profissionais atacados. No Instagram, elas foram alvo de 68,3% das agressões, enquanto no X o percentual foi de 53%. Jornalistas negros também foram duramente atacados, como foi o caso de Pedro Borges, cofundador do portal Alma Preta Jornalismo, vítima de racismo nas redes sociais após a entrevista de Pablo Marçal no Roda Viva. Parte dos insultos foram direcionados ao seu cabelo black power.

 

Fora do ambiente digital, o relatório registrou 11 casos de violência física ou verbal contra jornalistas, abrangendo ameaças (45,4%), agressões físicas (27,3%), hostilizações (18,2%), intimidações (9,1%), discursos estigmatizantes (9,1%), furtos de equipamentos (9,1%) e atentados a sedes de veículos (9,1%). Muitos desses ataques foram promovidos por agentes políticos ou estatais, expondo profissionais a riscos imediatos e criando um clima de medo que pode levar à autocensura. As capitais São Paulo (SP)Fortaleza (CE)Cuiabá (MT) e Porto Alegre (RS) foram os principais focos de ataques, refletindo a intensidade de suas disputas eleitorais.

 

As recomendações do relatório refletem a necessidade urgente de ações coordenadas para enfrentar esses desafios. Propõem-se medidas que incluem, entre outros aspectos:

 

  • Fortalecimento de políticas públicas para proteger jornalistas;
  • Responsabilização de agressores dentro e fora do ambiente online;
  • Revisão de práticas judiciais abusivas;
  • Desenvolvimento de mecanismos mais eficazes pelas plataformas digitais para conter ataques digitais.

 

O relatório conclui que a violência contra jornalistas ou organizações jornalísticas, seja física, digital ou judicial, não é um ataque isolado, mas uma ameaça direta à democracia. Garantir um ambiente seguro para o exercício do jornalismo é essencial para assegurar o direito da sociedade a informações confiáveis e plurais, fundamentais para o fortalecimento do debate público e a construção de um futuro mais justo e democrático.

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