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O que dizem e como usar evidências na cobertura de volta às aulas

As principais conclusões de pesquisas sobre o impacto da reabertura das escolas na disseminação do novo coronavírus foram tema de webinário da Jeduca

29/01/2021
Redação Jeduca

Quais são as principais evidências científicas relacionadas à disseminação de Covid-19 no ambiente escolar? Como os jornalistas podem se valer delas em suas matérias? Esses foram os eixos de debate no webinário “Ciência e Covid-19: o que o jornalista de educação precisa saber?”, realizado pela Jeduca em 27 de janeiro.

 

O evento contou com participação de Fred Amancio (secretário municipal de Educação de Recife), Marco Aurelio Sáfadi (presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria) e Sabine Riguetti (jornalista de educação e ciência e coordenadora da Agência Bori). A mediação foi da jornalista Marta Avancini, editora pública e editora de conteúdo da Jeduca.

 

O debate ganha relevância no atual cenário em que, em meio ao aumento do número de casos de Covid-19 no país, o formato e a data o início letivo de 2021 não estão definidos em boa parte das redes de ensino e escolas.

 

A seguir, um resumo dos principais pontos debatidos no webinário.

 

Transmissão nas escolas

Estudos realizados em várias partes do mundo indicam que as crianças e adolescentes transmitem a Covid-19 com menos relevância do que outros grupos etários – os jovens adultos, por exemplo, são vetores mais importantes. Além disso, quando se contaminam, crianças e adolescentes raramente desenvolvem complicações.

 

Esse comportamento em relação ao novo coronavírus é diferente do que ocorre com outras infecções, em que as crianças contribuem para surtos na comunidade.

 

“Medidas exitosas implementadas em outros países geraram uma experiencia acumulada. As crianças são pouco importantes na transmissão quando comparadas com adultos, os surtos nas escolas foram limitados e não houve, no ambiente das escolas, indicação de que há mais risco de contaminação de que outros ambientes”, afirmou o infectologista Sáfadi.

 

Ele também chamou a atenção para uma pesquisa realizada nos Estados Unidos que mostra que as taxas de contaminação em escolas são inferiores do que na comunidade em geral. “Os casos identificados de doença ocorreram com mais frequência fora do ambiente escolar”, comentou.

 

Prejuízos para o desenvolvimento

Um argumento central em defesa da reabertura das escolas são os impactos do afastamento do ambiente escolar por longos períodos sobre as crianças e adolescentes. Esse tipo de evidência já existia antes mesmo da pandemia de Covid-19.

 

“Evidências sob ótica da educação mostram que longos períodos de afastamento da escola trazem prejuízos para a aprendizagem, o desenvolvimento emocional, a saúde mental. Além disso, no Brasil, muitas crianças vivem em um contexto familiar de vulnerabilidade, enfrentam a violência doméstica. Para muitas, a escola é o principal ambiente para garantir a segurança allimentar”, descreve Amancio.

 

Nesse contexto, enfatiza ele, a escola assume um papel essencial do ponto de vista social. “Assume um papel de proteção da infância”.

 

Ele disse também que a escola é, em certos contextos, um ambiente onde as crianças em vulnerabilidade recebem mais cuidados do que na comunidade.

 

Implementação de protocolos

A abertura das escolas está diretamente relacionada à implementação dos protocolos de biossegurança.

 

Nesse sentido, a jornalista Sabine Riguetti chamou a atenção para a centralidade das diretrizes para reabertura das escolas lançadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em setembro de 2020 enquanto parâmetro para os protocolos nacionais, regionais e locais.

 

“Quando se fala de cobertura de educação e o debate de volta às aulas presenciais, em tempos de pandemia, estamos falando sobretudo da cobertura de pandemia. Os jornalistas têm que olhar as questões da educação à luz das questões da pandemia. E qual é a referência máxima, o que guia os países em relação a protocolos para pandemia? Essa orientação é da OMS, que divulgou um manual sobre retorno presencial às aulas com base em evidências”.

 

Essa é, na visão da jornalista, uma referência à qual os jornalistas devem recorrer em suas pautas. Além disso, ela chamou a atenção para a importância de não tomar os resultados como verdades, pois a ciência é dinâmica e, no que diz respeito aos estudos sobre a Covid-19, há muita pesquisa nova o tempo todo. Assim, é importante que os jornalistas usem resultados de estudos revisados por pares e publicados e os repercutam com diversas fontes. 

 

Prioridade às escolas

Para os participantes do webinário, a reabertura das escolas deve ser tratada como uma prioridade, dentro dos cenários delineados pelas evidências científicas.

 

O infectologista Sáfadi considera que fechar as escolas não deve ser a primeira medida a ser tomada para conter a pandemia, preservando restaurantes, igrejas e outras atividades abertas. “As escolas são essenciais e têm que ser preservadas. O fechamento deve ser a última das medidas porque as escolas têm impactos mínimo na transmissão na comunidade”, defende o infectologista.

 

Nesse contexto, a jornalista Sabine, por sua vez, sugere que os jornalistas tomem o protocolo da OMS como referência em suas coberturas. “A volta às aulas deve ser uma prioridade, mas é essencial que o processo aconteça segundo as orientações de segurança”.

 

Além de recomendar que a volta às aulas presenciais ocorra num contexto de queda do número de casos de Covid-19, a OMS inclui em suas orientações a oferta de equipamentos de proteção individual a educadores e estudantes e a testagem, como estratégia de monitoramento.

 

Na avaliação de Fred Amancio, a reabertura das escolas com segurança está mais associada a uma mudança de comportamento do que a grandes investimentos em infraestrutura escolar, o que é um fator que conta a favor da escola pública, mesmo que a infraestrutura apresente falhas. Segundo ele, não adianta uma escola ter uma boa infraestrutura, mas não cumprir as regras e cuidados sanitários.

 

Assista ao resumo do webinário:

 

 

Mais informações:

 

Página do Movimento Ciência pela Escola no Instagram.

Notas técnicas da Repu (Rede Escola Pública e Universidade).

Recomendações do Todos pela Educação para a volta às aulas. 

 

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