Isabella Siqueira
No 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, realizado pela Jeduca nos dias 2 e 3 de setembro, os congressistas que estiveram no evento presencial puderam participar de uma das quatro oficinas de formação oferecidas no local do evento, a Fecap.
As oficinas abordaram temas atuais da cobertura de educação, como bullying, IA no jornalismo, cenário das juventudes e indicadores educacionais.
Aqui, compilamos algumas dicas e referências trazidas pelos organizadores das oficinas.
É Bullying?
Diante de repercussões recentes na imprensa, o bullying foi escolhido para ser tema da oficina “O que é bullying e como diferenciá-lo de outros problemas de convivência na escola?”. Luciene Tognetta, uma das coordenadoras do Gepem (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral), conduziu a atividade e sugeriu alguns pontos de atenção para a cobertura do assunto:
- Procure entender a diferença entre os problemas de convivência na escola e o que caracteriza bullying ou não. Compreender essa diferença é primordial para identificar o bullying no ambiente escolar e pode ajudar na criação de estratégias eficazes de superação;
- Busque entender a dinâmica da violência extrema na escola e como o bullying é parte dessas violências;
- Em 2024, foi sancionada a Lei n.º 14.811/2024, que criminaliza o bullying e o cyberbullying. Vale conhecer o Método de Preocupação Compartilhada, estratégia de intervenção com os envolvidos em situações de bullying que permite a aprendizagem de formas pacíficas da resolução do problema.
Sugestões de leitura de Luciene Tognetta:
- Ataques a escolas no Brasil: análise do fenômeno e recomendações para ação governamental - Grupo de Trabalho de Especialistas em Violência nas Escolas, disponível aqui.
- Relatório: Ataques de violência extrema às escolas no Brasil: causas e caminhos. São Paulo: D3e (Dados para um Debate Democrático na Educação), 2023. O relatório está disponível aqui.
- O desafio da convivência: ao tratar da mesma forma indisciplina e violência, a escola perde a oportunidade de agir de forma reflexiva e transformadora. Sugestão de leitura aqui;
- Artigo Bullying e cyberbullying: quando os valores morais nos faltam e a convivência se estremece, disponível na Revista Iberoamericana aqui;
- Compilado de estudos, artigos e pesquisas correlacionados ao trabalho com as Equipes de Ajuda do Gepem e a prevenção do bullying nas escolas, confira aqui.
IA na prática jornalística
Na oficina “Como a IA pode me ajudar em tarefas reais do jornalismo?”, Luiz Fernando Toledo (Jeduca/BBC Brasil) mostrou como os jornalistas podem usar ferramentas de Inteligência Artificial em atividades do dia a dia, incluindo resumir textos, analisar e gerar dados e transcrever entrevistas, por exemplo. Confira algumas opções de ferramentas de IA e dicas de como usá-las:
- Julius AI - a ferramenta faz a análise de dados a partir de planilhas que o próprio jornalista insere, ela pode ser usada para analisar dados educacionais, sugerir recortes e possíveis fontes. Atenção, a ferramenta não analisa planilhas extensas, que tenham folhas com mais de 1 milhão de linhas, como os microdados do Enem ou Censo Escolar, por exemplo.
- DocumentCloud - pode ser usada para resumir e categorizar informações de vários documentos PDF. Após fazer o upload dos documentos na plataforma, o jornalista pode pesquisar por palavras-chaves, inclusive em vários PDFs ao mesmo tempo. Um plugin da ferramenta ainda permite enviar perguntas para o GPT, chatbot de IA, que irá respondê-las com base nos PDFs que o usuário importou.
- ChatGPT e ChatBase - hoje, é possível criar chatbots, programas que simulam conversas com a linguagem humana, sem conhecimentos de programação. Os chatbots editam matérias para encontrar erros de conteúdo e sugerem fontes específicas para um determinado assunto, por exemplo. Para evitar respostas estranhas que a IA fornece, a dica é alimentar o chatbot com arquivos próprios para servir de ‘fontes’, como sites e PDFs com tutoriais.
Um exemplo de chatbot personalizado criado com a ferramenta é o LaiBot, que ajuda usuários a registrar pedidos de informação por meio da Lei de Acesso à Informação.
Sugestão de leitura de Luiz Fernando Toledo:
- Generative AI exists because of the transformer - Matéria do Financial Times
Dados sobre juventudes
A oficina “O que os dados dizem sobre as juventudes e o trabalho no Brasil?”, organizada pela Fundação Itaú (patrocinadora master do evento), foi ministrada por Katcha Poloponsky, Luana Bunese e Raquel Sobral Nonato, que propuseram aos participantes elaborar uma pauta jornalística a partir dos dados e infográficos sobre as juventudes brasileiras disponíveis na plataforma QEdu Juventudes e Trabalho.
- Em 2023, na faixa etária de 15 a 29 anos, mais de 10 milhões de jovens brasileiros não estudavam e não trabalhavam, segundo a Pnad Contínua 2023, destaca-se a maior incidência entre a população mais pobre (42%) e entre as mulheres (28%). Nesse contexto, ao pensar em uma pauta, a sugestão é entender como gênero, renda, região e escolaridade atravessam a população jovem que está fora da escola e do mercado de trabalho;
- Outro ponto para ficar alerta é a passagem do bônus demográfico no Brasil, período em que o número de jovens é maior do que idosos e crianças, a inversão da pirâmide etária, e a importância de garantir educação de qualidade e inclusão no mercado de trabalho;
- Analisar os dados de diferentes formas pode ajudar a obter diferentes perspectivas que orientem grandes investigações. Na plataforma Qedu Juventudes e Trabalho, por exemplo, os dados estão desagregados por territórios, área e marcadores sociais como sexo, cor ou raça, faixa etária, escolaridade e renda.
Sugestão de leitura das organizadoras da oficina:
- Plataforma QEdu Juventudes e Trabalho (Fundação Roberto Marinho, Iede e Fundação Itaú). Acesse aqui.
- Pesquisa "Juventudes fora da escola" (Fundação Roberto Marinho). Leia aqui.
Dados e indicadores educacionais
Lecticia Maggi e Lucas Landin conduziram a oficina “Conheça e aprenda a analisar alguns dos principais indicadores da educação brasileira”, organizada pelo Instituto Sonho Grande (patrocinador master do evento, em parceria com o Iede).
Na atividade, eles falaram sobre o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e exploraram dados da plataforma Qedu.
Confira algumas dicas da oficina:
- O Ideb não é apenas um indicador de aprendizagem. Ele é uma fórmula matemática que considera dois fatores: indicador de aprendizado em Português e Matemática, aferido pelas avaliações do Saeb, e as Taxas de Rendimento (ou Fluxo), porcentagem de alunos de uma determinada etapa da rede de ensino que foram aprovados no ano de aplicação do Saeb. A dica é considerar o fluxo escolar do ano em que os dados foram coletados;
- Comparar escolas ou municípios apenas pelo Ideb pode ser enganoso. É importante considerar que cada local tem suas particularidades, como características socioeconômicas e desafios locais, que influenciam os resultados. Essa é uma das razões, por exemplo, para a meta do Ideb ser diferente para cada município. Um bom Ideb pode ser o resultado de muitos fatores além do ensino em si;
- Leve em consideração os questionários do Saeb. Eles oferecem uma visão mais ampla da realidade das escolas, incluindo aspectos como gestão, infraestrutura, condições de trabalho dos professores e nível de satisfação dos alunos. Podem ajudar a entender melhor os resultados do Ideb e aspectos relevantes das políticas educacionais que estão sendo aplicadas.
Sugestões de leitura dos organizadores:
- Entendendo o Ideb – um dos mais importantes indicadores de qualidade da educação brasileira (Qedu Conteúdos), leia aqui.
- Como funcionam as metas do Ideb? (Qedu Conteúdos), leia aqui.
- Questionário Saeb: Brasil (QEdu), acesse aqui.
Assista ao vídeo-resumo sobre como foram as oficinas do #Jeduca2024:
O 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca contou com o patrocínio master de Fundação Itaú, Fundação Lemann e Instituto Sonho Grande, patrocínio ouro de Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Fundação Telefônica Vivo e Instituto Unibanco, patrocínio prata de Instituto Ayrton Senna, Instituto Natura, Santillana Educação e Imaginable Futures e apoio da Fecap, Canal Futura, Colégio Rio Branco e Loures Consultoria. O evento contou também com o apoio institucional da Abraji (Associação de Jornalismo Investigativo), Abej (Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo), Ajor (Associação de Jornalismo Digital), Coalização em Defesa do Jornalismo, Instituto Palavra Aberta, Jornalistas&Cia e Unesco Mil Alliance.
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