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Os desafios da educação indígena e da docência na pandemia

De manhã, educadores falaram sobre as especificidades da educação indígena e, no período da tarde, enfocaram as dificuldades do ensino remoto e do retorno presencial

03/10/2021
Mariana Mandelli, Especial para a Jeduca

O último dia do 5.º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca trouxe para o centro do debate a educação indígena e a perspectiva dos professores sobre os impactos da pandemia na educação e os desafios da cobertura jornalística sobre a área.

 

A educação indígena

A educação escolar indígena não escapa do cenário atual de ameaças e precariedades que envolve os direitos dos povos originários no Brasil. Nesse contexto, o 5º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação realizou uma mesa para discutir o tema com educadores e especialistas que vivenciam, na prática, os desafios da modalidade.

 

Com mediação da jornalista Martina Medina, participaram do debate Gersem Baniwa, professor associado na Ufam (Universidade Federal do Amazonas); José Ribamar Bessa Freire, professor da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro); Sandra Benites Guarani Nhandewa, professora de ensino fundamental e médio, e Nodjadja Fulni-ô, professor e coordenador pedagógico da rede pública de educação básica.

 

Para os participantes, a situação política e pandêmica vigente agravou os problemas anteriores enfrentados pelas escolas indígenas, submetidas a lógicas que não representam valores ancestrais desses povos.

 

“Nunca houve uma escola indígena. Sempre eles trazem para cá o que querem. A todo instante precisamos lutar contra imposições das secretarias estaduais. Precisamos de uma política que atenda a educação indígena com as especificidades de cada povo”, afirmou Fulni-ô.

 

Sandra concorda. “O entendimento do que é educação de qualidade para nós é diferente do que é para os outros. Fora da aldeia, a sua vida é avaliada por notas. São métodos diferentes de avaliar o que é um ensino de qualidade”, explicou ela. “Há um preconceito, uma discriminação contra o nosso conhecimento. Como se um texto ou uma atividade fosse mais importante do que a nossa cultura”.

 

Na avaliação dos participantes do debate faltam, portanto, autonomia e reconhecimento da cultura indígena como um processo educacional, o que tem como consequências o apagamento dessas culturas e a falta de estrutura para que as escolas atendam crianças e jovens.

 

“Não existe apenas uma forma de ensinar e aprender. A compreensão da especificidade da escola indígena dentro do contexto da aldeia é fundamental’, explicou José Bessa.

 

Para os educadores, dispositivos que estruturam a educação básica, como é o caso da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e da lei do Novo Ensino Médio, também não consideram os saberes dessas comunidades.

 

“As escolas indígenas são geridas por sistemas não-indígenas. Isso é uma contradição. Um exemplo é o novo ensino médio, que é muito difícil de engolir”, complementou Baniwa. “Esse modelo tecnicista e burguês é trazido de outros países e querem que implantemos nas nossas escolas?”, questiona.

 

Para ele, o jornalismo tem um papel fundamental em dar mais visibilidade para esse tema e para as precariedades das escolas indígenas. “Aqui na Amazônia temos quase metade das escolas indígenas sem prédio. E isso explica tudo. Como ter internet, biblioteca, refeitório se não tem prédio? A imprensa precisa nos ajudar a denunciar essa situação, o que nós fazemos constantemente, para chamar a atenção do Estado para essa situação”, afirmou Baniwa. “É preciso que os jornalistas insistam um pouco mais na insensibilidade dos sistemas de ensino, que sempre se esforçaram para violar as leis e não efetivar os direitos indígenas nos termos de uma educação específica e diferenciada”, opinou.

 

Os professores e a imprensa

Com mais de um ano de pandemia de Covid-19 no Brasil, a última mesa de discussão do congresso Jeduca não poderia ter outro tema que não fosse a relação dos professores com as dificuldades impostas por esse cenário e, consequentemente, com a imprensa, que vem reportando os desafios do ensino remoto e da volta às aulas presenciais.

 

Com objetivo de ouvir educadoras de diferentes regiões do país, foram convidadas Cícera Barbosa, professora de história da rede estadual do Ceará; Gina Vieira Ponte, professora da educação básica no Distrito Federal, e Thais Lemes, professora da rede municipal de ensino de São Paulo.

 

Com mediação de Ângela Chagas, doutoranda em Educação na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e diretora da Jeduca, elas conversaram sobre como os diversos efeitos do coronavírus nas comunidades educacionais, passando pela falta de acesso às tecnologias e pelo impacto do isolamento na saúde mental.

 

“Além das dificuldades de adaptação do ensino online, foi complicado lidar com as nossas próprias questões”, lembrou Thais. “Os professores também tiveram medo da doença. Também tivemos familiares que pegaram Covid-19.”

 

Segundo Thais, a formação docente foi muito demandada durante esse período de suspensão de aulas presenciais, já que muitos educadores não tinham experiência alguma com encontros virtuais e, consequentemente, não sabiam como transformá-los em aprendizagem. “Foi um grande desafio, pois como atender, nesse contexto, as crianças com dificuldades cognitivas, por exemplo? Como incluí-las?”, refletiu.

 

O depoimento de Cícera seguiu a mesma linha. “Há o desafio da aprendizagem, mas sobretudo da vida. Ao longo desse um ano e meio, nós também perdemos familiares e colegas. Estar apta para dar aula em meio ao luto foi um grande desafio”, ponderou.

 

Para ela, algumas reportagens veiculadas pela imprensa nos últimos meses não romantizaram os esforços dos professores e alunos, mas sim retrataram a dura trajetória que muitos vivenciaram. “A vida foi transformada inclusive financeiramente durante a pandemia. Recebi mensagens de alunos de madrugada, pois era o horário em que conseguiam usar o celular dos pais. Contar isso não é romantizar, mas mostrar a realidade. É cobrar o estado para se fazer cumprir o direito à educação”, opinou.


Foi consenso entre as educadoras de que a situação de vulnerabilidade socioeconômica que muitas crianças e jovens enfrentam se aprofundou durante a pandemia, o que tem consequências diretas na efetivação do direito à aprendizagem.

 

“Educar não é uma transmissão de conteúdo, é um processo de humanização muito mais profundo, que desenvolve o pensamento crítico. Não é uma mera ferramenta de formação para o mercado de trabalho”, afirmou Gina. “Nossos problemas educacionais são, antes de tudo, problemas de desigualdades sociais. Para termos êxito na educação, é preciso garantir antes uma série de direitos”.

 

O 5.º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação conta com o patrocínio de Fundação Lemann, Fundação Telefônica Vivo, Instituto Unibanco, Itaú Social, Itaú Educação e Trabalho, e apoio do Colégio Rio Branco e Loures Consultoria.

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