(Com edição de Anelize Moreira/Oboré Projetos Especiais*)
A autorregulação da imprensa é um dos caminhos para evitar o efeito contágio do ataque às escolas. Assim concordaram as especialistas no assunto, Sherry Towers, pesquisadora norte-americana e Telma Vinha, professora em psicologia educacional na Unicamp. Elas participaram do 7º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação organizado pela Jeduca. O debate foi mediado por Marina Tokarnia, vice-presidente da Jeduca e repórter da Agência Brasil.
“O que aconteceu no Brasil, foi algo louvável, porque não foi por leis. Foi um processo de autorregulamentação da imprensa. Um processo que não foi acrítico, foi de discussões, de debates, de questionamentos e isso foi muito importante”, disse Vinha, referindo-se às mudanças da linha de cobertura adotada por alguns veículos e grupos de comunicação em função da sequência de ataques a escolas em março e abril últimos.
Porém, ela chama atenção para o fato de que existem pessoas que fazem uma leitura contrária, interpretando que é justamente a ausência de cobertura que gera os ataques.
A pesquisadora Sherry Towers defende, com base em seus estudos que demonstram associação entre o tipo de cobertura e a ocorrência de novos ataques a escolas, que é importante considerar este impacto, considerando que em países como os Estados Unidos e no Canadá a imprensa é livre. “Eles podem contar uma história da forma que bem entenderem, mas isso pode acarretar deslizes que levam ao contágio de ataques às escolas”. Por isso ela defende uma autorregulação da imprensa, tal como ocorre no Canadá, onde os mais diversos veículos, passaram a tomar cuidados ao anunciar um caso de suicídio.
O efeito contágio e como evitar
O efeito contágio ocorre quando as informações divulgadas numa notícia sobre um ataque a uma instituição de ensino - por exemplo, arma e estratégia utilizadas pelo agressor - acabam sendo utilizadas como modelo e estímulo para outros episódios semelhantes num espaço relativamente curto de tempo.
A pesquisadora norte-americana ainda afirmou que a imprensa tem papel no aumento deste contágio, ao espalhar informações desnecessárias sobre os ataques.
Telma concordou com Sherry sobre a responsabilização da imprensa no contágio. Ambas recomendam que a imprensa não identifique o agressor, evite publicar vídeos e fotos do ataque e foquem naas vítimas do caso, dentre outros pontos.
Por fim, as participantes da mesa comentaram sobre como evitar ataques futuros. Sherry comentou que temos que olhar para estes ataques da mesma forma que tratamos a covid-19, com uma abordagem multifatorial que leve em conta a atuação da imprensa, a regulação de redes sociais e a melhoria no convívio entre crianças e adolescentes na escola.
Já Telma salientou que “a qualidade de clima e convivência é uma das funções principais da escola”. Para ela é necessário que se crie condições para uma convivência ética entre alunos, professores, funcionários e toda a comunidade escolar, com a finalidade de evitar novos ataques.
O 7º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca conta com o patrocínio master de Fundação Itaú, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal e YouTube, patrocínio ouro de Fundação Lemann, Fundação Telefônica Vivo, Instituto Sonho Grande e Instituto Unibanco, patrocínio prata de Instituto Península e Santillana Educação, apoio do Instituto Ibirapitanga, Fecap, Canal Futura, Colégio Rio BrancoConsulados dos EUA no Brasil, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e Loures Consultoria e apoio institucional da Abraji, Ajor, Unesco MIL Alliance, Énois, Jornalistas&Cia, Instituto Palavra Aberta e Núcleo Jornalismo.
* A cobertura oficial do 7º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação foi realizada por estudantes, recém-formados e jornalistas integrantes da Redação Laboratorial do Repórter do Futuro, da OBORÉ. A equipe opera sob coordenação do Conselho de Orientação Profissional e do núcleo coordenador do Projeto, com o apoio da editoria pública e da equipe de comunicação da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação).