Uma matéria de educação é interessante quando trata de assuntos relacionados ao cotidiano das pessoas e utiliza recursos – fotos, vídeos, gráficos - que as ajudem a compreender sobre o que se está falando. Essa é uma das conclusões que se extrai de duas pesquisas desenvolvidas a pedido da Jeduca em 2018 com o objetivo de investigar o impacto do noticiário de educação sobre o público: um levantamento quantitativo feito pelo Datafolha e uma pesquisa qualitativa realizada pela Rede Conhecimento Social.
O DataFolha mostrou que 80% das pessoas têm muito interesse em notícias de educação – o maior índice entre oito temas investigados. A amostra, representativa para o país, foi composta por 2.084 pessoas com pessoas com 16 anos ou mais e perfis distintos de escolaridade.
O levantamento revela também que, quando querem se informar sobre educação, as pessoas preferem a tevê aberta, o principal canal de informação (55%). Na sequência estão as redes sociais (31%) e o rádio (26%). Os jornais impressos são fonte de 20% das pessoas, e as revistas, de 10%.
Ainda segundo o Datafolha, quanto maior o grau de escolaridade, maior o interesse por notícias sobre educação: 86% entre os que têm ensino superior, 81% dos que têm ensino médio e 74% entre os que têm ensino fundamental.
Interesse x busca ativa
A pesquisa da Rede Conhecimento Social mostrou que o interesse por notícias de educação deve-se à importância do tema para o país. No entanto, essa visão não se traduz, necessariamente, numa busca ativa por notícias sobre o tema.
O estudo baseou-se em grupos focais com pessoas com perfis distintos de escolaridade e de fluência de leitura com o objetivo de investigar o impacto das notícias sobre educação.
Os resultados apontam que, independentemente da escolaridade e da fluência de leitura, o leque de interesse do público é amplo - políticas públicas, formas de aprendizagem, metodologias pedagógicas, mobilização social, qualidade de ensino, formação pessoal, histórias de superação, inclusão e temas sensíveis (drogas, medicalização da infância etc.).
Porém, as pessoas se sentem mobilizadas a buscar notícias quando o tema está relacionado com a vida cotidiana, especialmente se tiverem relação com a etapa escolar de filhos, sobrinhos. Também mobilizam os entrevistados temas que mexem com a emoção e assuntos para comentar em rodas de conversa.
Distanciamento do público
O aprofundamento da análise, por meio da exposição dos participantes dos grupos focais a determinadas notícias, reforça a hipótese acima: de maneira geral, os grupos de “alta fluência de leitura” e “baixa fluência de leitura” se sentiram atraídos por notícias mais próximas de seu universo cultural e de vida.
Por exemplo, os primeiros se interessaram por uma notícia sobre escolas de elite, ao passo que para os segundos ela pareceu distante de sua realidade. Em contrapartida, o grupo de “baixa fluência”, especialmente aqueles que têm filhos, se interessou por um texto sobre a reforma do ensino médio, pois impacta diretamente suas famílias. Em contrapartida, reportagens de denúncia atraem a atenção dos dois grupos.
Na avaliação aprofundada da versão online de uma matéria de jornal sobre a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), integrantes dos dois grupos apontam falta de clareza na matéria e a percepção de que o texto havia sido produzido para especialistas. A terminologia técnica e a ausência de elementos gráficos foram apontadas como aspectos que dificultam a compreensão.
Já uma matéria em vídeo sobre o resultado do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), também analisada em profundidade, foi mais bem recebida por ambos os grupos, que consideram a linguagem do vídeo mais acessível do que a escrita. Apesar disso, apontaram como negativo o uso de termos técnicos e revelaram desconhecimento sobre o que é o Ideb.
Dicas
A partir da pesquisa qualidativa é possível identificar alguns tópicos que merecem atenção de quem está na cobertura de educação:
- A autoria bem visível no começo do texto gera credibilidade.
- O grifado e o negrito no texto são positivos e chamam a atenção.
- Ter dados no título ajuda a criar interesse pela matéria, especialmente se forem surpreendentes. Dados no decorrer do texto são bem-vindos, se for um texto mais informativo e desde que não complique a compreensão.
- Gráficos são vistos de forma bastante positiva, muitas vezes são complementos que ajudam na compreensão do que a matéria quer transmitir. Alguns disseram que ele pode fazer um resumo do texto.
- Fotos e vídeos agregam credibilidade, especialmente porque permitem ver a realidade que está sendo contada.
- Falas de pessoas envolvidas, seja no texto, vídeo ou em reportagem de rádio, além de gerarem proximidade com a notícia, trazem um tom de verdade ao que está sendo comunicado.
Para saber mais sobre a pesquisa realizada pela Rede Social, consulte a apresentação do estudo no 2.º Congresso de Jornalismo de Educação da Jeduca, realizado em agosto de 2018, e o documento com os principais resultados.
Assista também ao vídeo da mesa sobre as pesquisas no 2.º congresso da Jeduca.