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Tiago Queiroz/Jeduca
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Racismo nas escolas precisa deixar de ser tratado como situação extraordinária pela imprensa

Debatedores apontaram avanços e desafios na maneira como instituições escolares com diferentes características lidam promovem a educação antirracista

04/09/2024
Lucas Andrade/Oboré Projetos Especiais*

(Com ediçao de Anelize Moreira)

 

Compreender a escola enquanto espaço onde podem ocorrer atos racistas, buscar maneiras de superar essa violência no ambiente escolar e identificar como o jornalismo deve se posicionar perante estes casos foram temas de debate da mesa desta terça-feira (03/09) “Jornalismo e o racismo nas escolas”, no 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação organizado pela Jeduca. 


As inscrições para a versão online do #Jeduca2024 estão abertas aqui.


Participaram da sessão a socióloga e coordenadora executiva adjunta da ONG Ação Educativa, Ednéia Gonçalves, Halitane Rocha, editora do site Mundo Negro, Daniel Helene, coordenador da Escola Vera Cruz, e Renata Cafardo repórter especial do Estadão e presidente da Jeduca. A discussão foi mediada por Cintia Gomes, jornalista e cofundadora da Agência Mural de Jornalismo das Periferias

 

Ednéia afirma que é preciso superar a visão da escola romantizada, onde ela seria “um local protegido, de espaço de igualdade e de experiências essenciais para a constituição como sujeito na sociedade”. Para a socióloga, muitas vezes a escola representa um espaço aterrorizante para a população negra, sendo na educação infantil o primeiro contato que muitas crianças têm com a violência do racismo. 

 

Em sua exposição, Daniel Helene diz que a escola tem o papel fundamental de construir outros futuros diferentes do presente que temos. Para o coordenador “a escola está no mundo e o mundo está na escola, aquilo que reconhecemos como racismo estrutural presente na sociedade está presente também na escola”.

 

Segundo Ednéia, é no pátio das instituições de ensino durante os intervalos de aulas que acontecem os casos mais graves de racismo. “É quando o aluno pode estar à vontade. Se o aluno precisa tomar cuidado para não se expressar em função do racismo, a escola precisa ter todo um trabalho a ser feito”. Ela finaliza que é preciso entender o que é educação antirracista e articular diferentes conhecimentos e culturas que façam sentido para que todas as pessoas possam se engajar na superação do racismo. Ednéia explica que a escola não precisa ser punitivista, mas é preciso um trabalho constante de luta contra o racismo.

 

Halitane ressalta que o racismo é crime e no âmbito escolar, é preciso pensar: “se são crianças e adolescentes estão cometendo o crime, onde elas aprenderam isso? Em escolas de elite estamos falando de pais, professores e colegas, onde elas aprendem esse comportamento e acham que não estão erradas”. Para ela, é preciso entender como a escola age nestes casos e o que será feito para coibir o racismo.


A educadora Ednéia disse que as escolas públicas apresentam o debate de uma educação antirracista  há algum tempo, não só pela presença de uma maioria negra nestas escolas, mas como uma política pública que teve avanços e que foi exitosa. Na visão dela, as escolas privadas achavam que era uma questão de opção abarcar esta política, mas afirmou que atualmente há um movimento dessas escolas de construirem práticas que visam combater a discriminação racial, promover a inclusão e a diversidade nesses espaços. .

 

Helene, que coordena uma escola privada de elite, afirmou que “historicamente a escola no Brasil recria o racismo, reforça as desigualdades e colabora para manter os privilégios. E faz isso invisibilizando situações de violência racista que ocorrem em seu cotidiano”. Currículos que celebram brancos e apresentam negros em posições subalternas, materiais didáticos que reiteram o racismo e as desiguldades, além da falta de funcionários não-brancos em todos os quadros de uma instituição de ensino,  esses são alguns exemplos de como a escola perpetua o racismo, segundo educador Helene. 

 

Ednéia afirma que em casos de alunos negros bolsistas em escolas predominante de pessoas brancas e de elite, é preciso pensar que estes alunos não podem estar lá só para trazer uma cor diferente a sala de aula. Para a educadora essa é uma oportunidade de trazer sujeitos com conhecimentos que irão aprimorar a educação escolar. Ela ressalta ainda que o papel de acolhimento aos bolsistas deve ir além de abraçar o aluno, mas “ é se interessar de forma sincera pelo conhecimento do outro”. 

 

Como cobrir o racismo nas escolas

Renata Cafardo afirmou que partindo da realidade que há racismo nas escolas, o jornalismo deve ir além de simplesmente noticiar o fato e precisa se distanciar da repercussão das redes sociais. “Nosso papel como jornalistas é fazer a reflexão da educação antirracista e as redes sociais são exatamente o contrário disso”.

 

A jornalista disse que há reportagens rasas sobre o assunto e que é necessário se estender na pauta do racismo nas escolas. “Faltam pessoas na imprensa para fazer essa discussão, principalmente em relação às escolas de elite que estão tentando se abrir”.  Ela finaliza afirmando que as redações são predominantemente brancas e que isso precisa mudar.

 

Halitane ressaltou que muitas demandas de justiça em casos de racismo nas escolas vêm da imprensa negra e dos movimentos negros e que, se não fosse por essa mobilização, o diálogo sobre o assunto não seria tão divulgado. Ela ainda falou como o site Mundo Negro trabalha internamente essa tipo de cobertura, dizendo que nem todos os casos são noticiados, que há uma divisão entre os repórteres para evitar o cansaço e que há um acolhimento dos profissionais. 

 

Daniel afirma que a imprensa que se compromete com a educação precisa entender o que qualquer escola está fazendo para combater o racismo.”Quando o racismo é tratado como situação extraordinária pela imprensa, ele abre mão da complexidade da questão racial, perpetuando a ideia perversa de que o racismo só está em quem pratica a violência.

 

Por fim Ednéia ressalta a importância do jornalismo melhorar o tratamento com a fonte, pois um ato de racismo não atinge somente a vítima, mas toda a população negra. Ela confidenciou que quando entrevistam ela para falar sobre racismo esquecem que ela é uma mulher preta que teve em sua trajetória a experiência de vergonha e humilhação na educação. “É importante o cuidado que se tem com a fonte, pois ela está sofrendo junto, é vítima também”.

 

O 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca já conta com o patrocínio master de Fundação Itaú, Fundação Lemann e Instituto Sonho Grande, patrocínio ouro de Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Fundação Telefônica Vivo e Instituto Unibanco, patrocínio prata de Instituto Ayrton Senna, Instituto Natura e Santillana Educação e apoio da Fecap, Canal Futura, Colégio Rio Branco e Loures Consultoria. O evento conta também com o apoio institucional da Abraji (Associação de Jornalismo Investigativo), Abej (Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo), Ajor (Associação de Jornalismo Digital), Coalização em Defesa do Jornalismo, Instituto Palavra Aberta, Jornalistas&Cia e Unesco Mil Alliance.

 

*A cobertura oficial do 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação é realizada por estudantes, recém-formados e jornalistas integrantes da Redação Laboratorial do Repórter do Futuro, da OBORÉ. A equipe opera sob coordenação do Conselho de Orientação Profissional e do núcleo coordenador do Projeto, com o apoio da Editoria Pública e da equipe de Comunicação da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação).

  

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