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Marcelo Camargo/Agência Brasil
Estudos e pesquisas

Relatório da OCDE analisa impacto da pandemia na educação

No caso do Brasil, longa duração do período de ensino remoto e tamanho das turmas podem impactar a retomada presencial, indica organização

08/09/2020
Marta Avancini

(Atualizado em 10/9/2020)

O Education at a Glance, ou Panorama da Educação numa tradução livre para o português, é um relatório anual da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) com diversos tipos de dados sobre a educação no mundo. É, portanto, uma fonte que ajuda muito o jornalista em comparações internacionais ou para se ter um parâmetro de como o Brasil está em relação a outros países do mundo em determinada dimensão.

 

Em 2020, o foco do Education at Glance é o ensino técnico. Além do relatório, a OCDE também lançou um relatório sobre o impacto da pandemia de Covid-19 na educação.

 

Uma dica importante para quem está na cobertura, é que a OCDE divulga, juntamente como relatório, as country notes, documentos com os principais destaques de países que integram o levantamento. Há uma country note sobre o Brasil. Este é o caminho mais rápido para encontrar as principais informações.

Todo o material sobre o Education at a Glance 2020 pode sera acessado aqui

 

Efeitos da pandemia na educação brasileira

Escolas fechadas por mais tempo no Brasil

O período de fechamento das escolas no Brasil é maior do que nos países da OCDE, em média. Até o fim de junho, a média da OCDE era de 14 semanas. No Brasil, as escolas permaneciam fechadas há 16 semanas – o que deve impactar na aprendizagem e no desenvolvimento de habilidades dos estudantes.

 

Pesquisa realizada pela OCDE e Universidade de Harvard mostrou que o aprendizado propiciado pelo ensino remoto é uma pequena parcela do que o propiciado pelo ensino presencial. A pesquisa foi citada no relatório “The impact of Covid-19 on Education - Insights from Education at a Glance 2020”, lançado junto como EaG (Ver página 19).

 

No universo pesquisado, cerca de 50% dos estudantes acessaram todo ou a maior parte do conteúdo oferecido remotamente.

 

O estudo foi realizado com representantes do sistema educacional de 59 países, incluindo o Brasil.

 

Para a OCDE, o ensino remoto aumentou a percepção social sobre a importância das escolas e dos professores, o que pode ser importante num cenário em que risco de redução dos recursos disponíveis para a educação.

 

Turmas grandes devem ser desafio para a reabertura

Um desafio que o Brasil deverá enfrentar na reabertura das escolas é acomodar as turmas respeitando as regras de distanciamento social, pois aqui as turmas são maiores do que a média dos países da OCDE.

 

No ensino fundamental 1, as turmas têm em média 24 alunos, contra 21 na média da OCDE. No ensino fundamental 2, são 28 alunos em média no Brasil, e 23 na média da OCDE.

 

Este é, segundo a OCDE, um dos fatores mais importantes para a retomada presencial com segurança.  

 

A organização defende que a reabertura das escolas é importante para sustentar o desenvolvimento da aprendizagem e de habilidades, o que reflete, no longo prazo, em crescimento econômico. Também trará benefícios econômicos para as famílias, que poderão voltar a trabalhar.

 

No entanto, esses benefícios devem ser balanceados com os riscos sanitários e para a saúde. Evidências de epidemias anteriores apontam que o fechamento das escolas pode evitar até 15% das infecções – impacto considerado pequeno frente a medidas como o distanciamento social no trabalho, que pode reduzir em até 73% a disseminação.

 

No Brasil, estudo dos grupos de pesquisa Ação Covid-19 e Repu (Rede Escola Pública e Universidade) indica que, dependendo das condições das escolas na reabertura, até 46% dos estudantes podem ser contaminados com o novo coronavírus. O estudo usou como referência escolas do estado de São Paulo.

 

Desaceleração do investimento em educação e da economia mundial

O financiamento da educação deverá ser impactado pela pandemia já partir de 2021. A OCDE vinha constatando um aumento do gasto público com educação em nível internacional, mas por causa da pandemia, o ritmo de crescimento deve desacelerar.

 

No entanto, para a OCDE, os efeitos da desaceleração dos investimentos sobre os resultados dos estudantes, só serão percebidos daqui a alguns anos, pois para a OCDE não existe, necessariamente, uma relação entre volume de recursos e resultados - uma posição que não é consensual no meio educacional no Brasil e em outras partes do mundo.

 

Segundo a OCDE, em 2017, o Brasil aplicou 5,1% do PIB (Produto Interno Bruto) na educação, do ensino fundamental ao superior. O investimento total é 1 ponto percentual maior do que a média da OCDE.

 

Considerando a educação básica (sem educação infantil), o investimento do Brasil está na média da OCDE (4% do PIB). Considerando o ensino superior, investimento está acima da média da OCDE (1,1%).

 

O investimento por aluno, na média dos países da OCDE, em 2017, foi de:

 

- Educação básica (sem educação infantil): US$ 9.084

 

- Ensino superior: US$ 11.360

 

- Geral (educação básica sem educação infantil até ensino superior): US$ 9.402

 

A OCDE apresentou uma estimativa do impacto econômico de longo prazo da interrupção do ano letivo por causa da pandemia, em nível internacional.

 

A organização parte do pressuposto que a capacidade produtiva das pessoas será impactada pela perda de habilidades, por causa da suspensão das aulas presenciais por um período equivalente a cerca de 1/3 do ano letivo.

 

Com isso, estima-se que o PIB pode ser cerca de 1,5% menor, na média, até o final do século 21. Segundo a OCDE, quanto mais tempo demorar para as escolas voltarem a funcionar normalmente, maior o impacto (Para mais detalhes sobre a estimativa, ver página 5 do relatório sobre o impacto da pandemia de Covid-19 na educação).

 

Aumento do desemprego entre jovens menos qualificados

- As pessoas com menos escolaridade deverão ser mais impactadas pelo aumento do desemprego – uma das consequências esperadas da pandemia.

 

De acordo com a OCDE, em 2019, 14% dos jovens adultos (25 a 34 anos) com ensino médio incompleto estavam desempregados, contra 8% daqueles com ensino superior completo.

 

A título de referência, a OCDE lembra que, após a crise econômica de 2008, o desemprego entre os jovens com ensino médio incompleto cresceu 1,5 ponto percentual (2008 e 2009); entre os jovens com ensino superior completo, o aumento foi de 0,2%.

 

Para dimensionar o que isso significa, vale recorrer à Pnad Contínua de 2019 (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística), que mostra que 51,2% (69,5 milhões) dos adultos não concluíram o ensino médio no Brasil.

 

Outros destaques do EaG 2020

Brasil tem menos matrículas no ensino profissionalizante que média da OCDE

No Brasil, as matrículas em cursos profissionalizantes de nível médio e superior estão abaixo da média dos países da OCDE:

 

- 8% dos estudantes brasileiros estão matriculados em cursos tecnológicos (profissionalizante de nível superior). Nos países da OCDE, a média é de 32%.

 

- 11% das matrículas no ensino médio são em cursos técnicos (profissionalizante de nível médio). Nos países da OCDE, a média é de 42%.

 

Alto impacto do ensino superior sobre empregabilidade e renda

Entre 2009 e 2019, houve um aumento de 10 pontos percentuais do número de jovens de 25 a 34 anos com formação de nível superior no Brasil – mais do que a média dos países da OCDE (9 pontos percentuais). Mas, considerando a população desta faixa etária, a parcela de brasileiros com diploma de nível superior esta abaixo da média da OCDE: respectivamente, 21% e 45%.

 

No Brasil e nos países da OCDE, a proporção de mulheres com formação de nível superior é maior que a de homens. No Brasil, o cenário é: 25% das mulheres contra 18% dos homens de 25 a 34 anos.

 

O diploma de nível superior tem um forte impacto sobre a empregabilidade. No Brasil, 73% dos que têm ensino médio completo ou nível superior estavam empregados em 2019, contra 62% entre aqueles que não completaram ensino médio. Nos países da OCDE, as taxas são de 61% e 78%, respectivamente.

 

No Brasil, a renda quem tem ensino médio ou superior, trabalha período integral e durante todo o ano, em 2019, era 144% maior do que quem não tem ensino médio e trabalhavas nas mesmas condições. Na OCDE, a diferença é de 54%.

 

Acesso à creche é menor que média da OCDE

Considerando as crianças de até 1 ano, 21% estavam matriculadas em creches em 2018. Nos países da OCDE, são 34%.  Para as crianças de 2 anos, a taxa de matrícula é de 43% no Brasil e 46% na faixa da OCDE.

 

A média de crianças por professor na creche e na pré-escola é maior no Brasil do que nos países da OCDE. Na creche, são 14 crianças por professor (na OCDE, são 7). Na pré-escola, são 20 crianças por professor (na OCDE, são 14).

 

Professores jovens são minoria e salários são menores  que a média da OCDE

Em todos os níveis de ensino, o salário médio do professor brasileiro está abaixo da média da OCDE. Por exemplo, no ensino fundamental, o professor brasileiro ganha, em média, US$ 25.005 contra US$ 43.942.

 

O Brasil tem 11% de professores jovens (com menos de 30 anos) – um pouco abaixo da média da OCDE, 12%. Esse cenário impõe uma pressão pela contratação de mais professores, pois muitos vão se aposentar nas próximas décadas.

 

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