A atuação de veículos de imprensa no furo que revelou o esquema de pagamento de propina a pastores em troca da liberação de verbas no MEC (Ministério da Educação), revelado pela imprensa no primeiro semestre deste ano, foi fundamental para suscitar a demissão de Milton Ribeiro, ex-ministro da pasta, e a investigação do caso pelos órgãos públicos.
Os percalços dessa investigação jornalística foram tema da segunda sessão da manhã do primeiro dia do 6º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca. A mesa contou com a presença do repórter da revista piauí e ex-Estadão, Breno Pires, da repórter do jornal O Globo Paula Ferreira e do jornalista da Folha de S.Paulo, Paulo Saldaña. A mediação foi de Tatiana Klix, diretora da plataforma Porvir e diretora da Jeduca.
De acordo com Breno Pires, autor da primeira reportagem que apontou indícios de corrupção no MEC, o responsável por derrubar o ministro Milton Ribeiro não foi um veículo específico, mas sim o jornalismo profissional. “Não foi o Ministério Público Federal nem a Polícia Federal, foi a imprensa”, afirmou.
Para os jornalistas, a revelação do escândalo foi resultado de uma investigação coletiva, fruto do trabalho colaborativo de vários veículos que se complementaram com informações durante a apuração. “O desenrolar dessa história foi resultado da cobertura de muita gente”, apontou Paulo Saldaña, autor da reportagem na qual foi divulgada um áudio com indícios do envolvimento de Milton Ribeiro no caso .
Saldaña também destaca a importância do jornalismo fazer investigações próprias depois do contexto da operação Lava Jato. “O jornalismo resgata a sua missão mais nobre que é a de revelar aquilo que o poder quer esconder”, diz. Para o repórter, a investigação abriu o caminho para outras pautas sobre a corrupção dentro do MEC. “O escândalo dos pastores é apenas uma parte do desmando e do descontrole dentro do FNDE”, disse o repórter referindo-se ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, autarquia na qual os pastores atuavam.
Governo x imprensa
Uma das principais dificuldades na cobertura da reportagem, de acordo com Paula, foi a postura agressiva e restritiva do governo diante dos jornalistas. Ela contou que fez um pedido via LAI (Lei de Acesso à Informação) à agenda pública do presidente Jair Bolsonaro (PL) com o objetivo de identificar registros de encontros com os pastores envolvidos no caso. Inicialmente o pedido foi negado, mas depois a informação foi liberada, confirmando que ocorreram encontros.
No entanto, ela afirma que esse tipo de restrição é comum no governo Bolsonaro. “O acesso nunca existiu. Fiquei oito meses sem receber respostas da assessoria de imprensa do MEC”, aponta. “Essa é uma prática desse governo. Negarem o pedido de informação dessa agenda diz muito”.
Confira a íntegra do papo no vídeo abaixo:
O 6º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca conta com o patrocínio master de Itaú Educação e Trabalho e Instituto Educbank, patrocínio de Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Fundação Telefônica Vivo, Instituto Península, Instituto Unibanco, Itaú Social e Santillana Educação, XP Educação e apoio da Fecap, Canal Futura/Fundação Roberto Marinho, Colégio Rio Branco, Loures Consultoria e Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil.
*Edição: Anelize Moreira
A cobertura oficial do 6º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação é realizada por estudantes, recém-formados e jornalistas integrantes da Redação Laboratorial do Repórter do Futuro, da OBORÉ. A equipe opera sob coordenação do Conselho de Orientação Profissional e do núcleo coordenador do Projeto, com o apoio da editoria pública e da equipe de comunicação da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação).