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Cinco jornalistas de diferentes veículos compartilharam, em mesa do 9º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca, suas experiências com a produção jornalística nas redes sociais, desde quando elas surgiram até hoje. Em um momento de maior maturidade e compreensão do papel do jornalismo nesses ambientes, a mesa discutiu a relação dos veículos com algoritmos e influenciadores digitais, além das complexidades do trabalho no cotidiano da redação.
Da esquerda para a direita estão Raíssa Galvão (Mídia Ninja), Leonardo Cruz (Estadão), Thais Borges (Jornal Correio/BA), Danilo Meirelles (A Gazeta/ES), Camila Nascimento (Portal g1) e Jacqueline Saraiva (Metrópoles)
Foto por Tiago Queiroz/Jeduca
“Primeiro você começa, depois você melhora”. Foi com essa trend viral do TikTok que a repórter do jornal Correio (BA) e mediadora Thais Borges abriu a mesa “Jornalismo e redes sociais”, referindo-se à maneira como os veículos utilizam as redes sociais. A sessão aconteceu em 26 de agosto.
Raíssa Galvão, co-fundadora do Mídia Ninja, lembrou como foram as primeiras coberturas jornalísticas e transmissões ao vivo do veículo nas Jornadas de Junho, em 2013. “Ali estávamos começando o jornalismo digital e a mostrar direto da rua. Foi um grande diferencial, hoje lidamos com isso de outra forma, está projetado em quem faz comunicação”, afirmou a jornalista.
“Começou com esse espírito de trazer o usuário para o site e depois em lidar com o usuário na plataforma em que ele está”, disse Leonardo Cruz, editor do jornal Estado de S.Paulo. Para ele, as redes sociais, que antes eram vistas como um meio de geração de tráfego para os sites, agora são tratadas como canais para exposição de marca e criação de comunidades de seguidores.
No contexto da cobertura sobre a adultização de crianças, iniciada após o vídeo-denúncia produzido pelo youtuber Felca em agosto, os jornalistas falaram sobre a relação com os algoritmos, especialmente em pautas que envolvem temas sensíveis.
Jacqueline Saraiva, editora assistente de redes do Metrópoles, destacou a importância da sensibilidade para evitar a publicação de conteúdos que possam gerar gatilhos e maneiras de driblar o algoritmo em redes como TikTok e Instagram, como desconfigurar palavras. “Em qualquer caso que envolva temas sensíveis, é preciso ter um olhar atento dentro do jornalismo em redes sociais. Precisamos prestar atenção nas diretrizes das redes e aos temas”, falou.
Ao tratar de temas sensíveis, Camila Nascimento, responsável pelas redes sociais do portal g1, explicou que, ao publicar um conteúdo nas redes, o veículo não se concentra no impacto das restrições do algoritmo no engajamento. “A gente encara que estamos prestando um serviço, não estamos conectados se [o conteúdo] vai dar views”, apontou Camila.
Foto por Tiago Queiroz/Jeduca
Já ao trabalhar com pautas de educação nas redes sociais, os jornalistas apontam que é necessário analisar o nível de aprofundamento e jogar segundo as regras de cada plataforma a fim de entregar conteúdos que façam sentido. “Educação não tem o mesmo apelo que outros temas. Não adianta brigar com isso, em relação às redes é preciso buscar estratégias, o que as redes têm que possam levar adiante o jornalismo de educação”, afirmou Leonardo.
Nas redes sociais do g1, Camila explicou que o conteúdo de educação é pensado também para conversar com o público jovem. “A gente usa as trends para explicar física, ciência, só que dentro da linguagem de rede social. Mas somos jornalistas, então como vamos falar de um jeito simples e direto para quem está consumindo rede social?”, disse.
“O trabalho de redes sociais para os jornais é de formiguinha, é uma construção da reputação feita pouco a pouco”, acrescentou Danilo Meirelles, editor de redes sociais do A Gazeta (ES). Segundo ele, selecionar plataformas em que conteúdos aprofundados são mais aceitos e soltar “pílulas” de cada assunto em várias postagens são estratégias.
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No dia a dia da redação, as equipes de redes sociais trabalham integradas a repórteres e editores. Essa dinâmica, segundo os palestrantes, envolve respeitar a individualidade dos jornalistas, estimular que eles se familiarizem cada vez mais com as plataformas e entendam que nem sempre o conteúdo parte do texto.
“A gente parte da pauta e define onde ela vai ser distribuída. Em cada rede, vai ter um formato. Tem conteúdo que nem tem texto. Às vezes, é uma série de vídeos, um carrossel mais educativo ou mais provocativo. O conteúdo funciona sozinho em cada canal”, afirmou Raíssa, sobre a experiência no Mídia Ninja.
“Uma coisa que a gente não negocia é que todo jornalista esteja antenado sobre o que é falado e acontece nas redes sociais”, disse Danilo, que reforçou a necessidade de que os repórteres acompanhem como seu próprio trabalho é distribuído nas redes e o retorno dos usuários.
Num espaço compartilhado com influenciadores digitais e páginas não jornalisticas que também publicam notícias, os palestrantes destacaram como o papel do jornalismo se diferencia desses perfis. “A gente preza pela agilidade, mas ela não vem antes da certeza do que estamos informando. Não estamos competindo com os influencers, muitas vezes explicamos o que eles estão falando e o que está acontecendo”, destacou Camila.
Seguindo a mesma ideia, Jacqueline afirmou: “Quando você coloca um assunto na internet, é a importância dele que vai fazer com que ele engaje. Não vejo os influenciadores como um empecilho ao jornalismo, eles postam para o público que os acompanha e o jornalismo tem um público que o acompanha por ser jornalista”.
Para Raissa, desde a publicação do Marco Civil da Internet, em 2014, por conta do avanço das Big Techs, é necessário que haja novos marcos. “Ao regulamentar, tem que entender quais são os conteúdos que estão ali, quem é a pessoa, a instituição e como a informação é passada. A checagem e a veracidade da informação tem que passar pela regulamentação. E a sociedade tem que acompanhar”, disse Raissa.
O 9º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca contou com o patrocínio de Imaginable Futures, Instituto Unibanco, Fundação Bradesco, Fundação Lemann, Fundação Itaú, Arco Educação, Fundação Telefônica Vivo, Grupo Eureka, Instituto Ayrton Senna, Instituto Natura e Santillana Educação e apoio da Fecap, Instituto Sidarta, do Colégio Rio Branco e da Loures. Conta também com apoio institucional da Abej, Abraji, Ajor, Canal Futura, Coalizão em Defesa do Jornalismo e Instituto Palavra Aberta.