(Com edição de Anelize Moreira)
"O jornalismo foi essencial, porque foram os jornalistas que trouxeram para a gente todas as informações", afirmou Giovanna Corrêa, 18 anos, estudante do ensino médio na escola Liberato Salzano Vieira da Cunha, em Porto Alegre (RS), ao comentar sobre as enchentes no Rio Grande do Sul no final de abril deste ano.
A estudante participou da mesa de abertura do 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação que começou na manhã desta segunda-feira (2/9), na Fecap (Fundação Armando Alvarez Penteado), em São Paulo. O debate de abertura teve o tema "Jovens alertam sobre o aquecimento global".
Além de Giovanna, as jovens estudantes universitárias Jahzara Ona (SP), 19 anos, e a ativista indígena da etnia Paiter Suruí, Txai Suruí (RO), 26 anos, contaram sobre a importância do jornalismo para as lutas diárias que vivenciam e suas experiências no campo do ativismo ambiental. A mesa foi mediada pelas jornalistas Renata Cafardo, repórter especial do jornal O Estado de S.Paulo, e Tatiana Klix, diretora do Instituto Porvir.
Giovanna exemplificou como as notícias falsas afetaram a sua comunidade durante as enchentes. "Lá no meu bairro, falaram que o dique da Fiergs [Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul] tinha estourado. Apavoraram todo mundo, fizeram todo mundo sair correndo, pessoas se machucaram, caíram uma em cima da outra, sendo que o dique não estourou, ele rachou, está em manutenção, mas não estourou".
Txai, é colunista da Folha de S.Paulo e estudante de direito, e ressaltou que há muita desinformação sobre a realidade educacional dos povos indígenas. "Hoje a gente vive no mundo de fake news e até para o jornalista é difícil", lembrou Txai e completou dizendo que muitas vezes a população dúvida do jornalismo devido à forte presença da desinformação.
Para Jahzara, técnica em Meio Ambiente e estudante de Geociências e Educação Ambiental na USP (Universidade de São Paulo), e nascida na favela do Pantanal na periferia da zona leste de São Paulo (SP), informar é essencial para arranjar soluções para os problemas ambientais. "Quanto mais a gente falar sobre, quanto mais a gente mostrar o que está acontecendo, mais a gente vai buscar fazer algo sobre", disse a jovem que costuma realizar atividades em escolas para debater temas ligados às mudanças climáticas.
Racismo ambiental e ecoansiedade
Elas também debateram o racismo ambiental e a ecoansiedade, termos que têm sido discutidos nas redes e dentro do próprio jornalismo. Jahzara explica que o termo racismo ambiental foi cunhado nos Estados Unidos, mas que não é preciso ir longe para entender como ele impacta a vida das pessoas. "Falta de acesso à educação, perder um sofá na enchente", o que ela vive em sua comunidade pode ser caracterizado como racismo ambiental.
Jahzara afirma que "quando se vive os impactos socioambientais cotidianamente, é muito complicado entender que aquilo não é comum". Isso porque a sua comunidade sofre constantemente com enchentes.
A estudante do Rio Grande do Sul conta que a tragédia das chuvas no estado afetou a escola e sua comunidade. "A gente busca a educação sempre, apesar das adversidades dos infortúnios que a gente teve", afirmou Giovanna sobre a própria forma de ativismo.
"As pessoas estão com muito medo de que aconteça de novo, as pessoas estão mais com medo do que conscientizadas", afirma Giovanna sobre como as pessoas ainda não entendem diretamente as mudanças climáticas.
Já a ecoansiedade é a ansiedade causada pelas incertezas que as mudanças climáticas trazem. Para as jovens que participaram do debate, é importante ter cuidado para falar do aquecimento global e dos problemas que cada comunidade vive. Além disso, é sempre importante trazer soluções, para não causar ansiedade nos jovens.
Elas também contaram como foi a entrada no ativismo ambiental. Txai afirmou que já nasceu ativista. "Quando a gente é indígena eu vejo que não se tem essa escolha, se a gente vai querer lutar ou não", disse Txai.
O debate terminou num tom de esperança pelas palavras da Txai "Eu tenho esperança em quem luta do meu lado, eu tenho esperança na floresta. Ainda há tempo de mudar". Jahzara lembrou do livro do ambientalista Ailton Krenak, "Ideias para adiar o fim do mundo", dizendo que “o mundo que podemos mudar pode ser o nosso bairro”.
"Se a gente fizer um pouquinho com a gente, com a nossa família e a nossa casa, de pouquinho em pouquinho a gente acaba mudando o mundo", foram as palavras finais da Giovanna que apesar do medo de que novas chuvas afetem a comunidade onde vive, quer mudar a realidade dentro da escola e do bairro.
Confira a íntegra da mesa, que conta também com a abertura do #Jeduca2024:
O 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca contou com o patrocínio master de Fundação Itaú, Fundação Lemann e Instituto Sonho Grande, patrocínio ouro de Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Fundação Telefônica Vivo e Instituto Unibanco, patrocínio prata de Instituto Ayrton Senna, Instituto Natura, Santillana Educação e Imaginable Futures e apoio da Fecap, Canal Futura, Colégio Rio Branco e Loures Consultoria. O evento contou também com o apoio institucional da Abraji (Associação de Jornalismo Investigativo), Abej (Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo), Ajor (Associação de Jornalismo Digital), Coalização em Defesa do Jornalismo, Instituto Palavra Aberta, Jornalistas&Cia e Unesco Mil Alliance.
*A cobertura oficial do 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação é realizada por estudantes, recém-formados e jornalistas integrantes da Redação Laboratorial do Repórter do Futuro, da OBORÉ. A equipe opera sob coordenação do Conselho de Orientação Profissional e do núcleo coordenador do Projeto, com o apoio da Editoria Pública e da equipe de Comunicação da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação).