De acordo com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), mais de 1,6 bilhão de crianças sofreram alguma perda relacionada à educação em decorrência da pandemia de covid-19. O impacto sobre elas, porém, tomou proporções diferentes ao redor do mundo.
Essas desigualdades no ensino foram tema da mesa de abertura do segundo dia do 6º congresso Jeduca. Repórteres da Colômbia, México, Costa Rica e Uganda contaram os impactos na educação e na cobertura jornalística do setor em seus países. A mesa teve mediação de José Brito, gerente de Comunicação e Distribuição da Fundação Roberto Marinho e diretor da Jeduca.
Durante a crise da covid-19, Bogotá, capital da Colômbia, teve que apelar ao uso do rádio para garantir o ensino de parte da população. Assim, a jornalista Paula Mogollón, do El Espectador, contou que, em seu país, o acesso aos equipamentos tecnológicos necessários para o ensino remoto foi cheio de dificuldades. “Muitos estavam cansados porque não aprendiam. Os problemas de saúde mental aumentaram”, conta.
Na Costa Rica, o afastamento das escolas se somou a uma antiga crise na educação em que professores estavam sem receber seus salários. Como resultado, o ensino eletivo foi afetado por quatro anos. “Temos que reconhecer os estudantes que não tinham acesso à internet, mas também os docentes não tinham a capacidade de ensinar a distância”, afirmou o repórter Allan Arroyo, da Radio Columbia.
O repórter mexicano Erick Pineda, do La Jornada, complementa o cenário de precariedade encontrado em países subdesenvolvidos. Além do acesso à tecnologia, a segurança alimentar e a saúde mental foram aspectos pouco presentes nos lares do México. “O impacto da covid-19 nas escolas aumentou as brechas de desigualdade. O nosso sistema educacional se viu minado”, ele conta.
A cobertura
Allan, Erick e Paula aproveitaram para destacar uma outra dificuldade, dessa vez enfrentada por jornalistas. Apesar de se mobilizar em prol da imunização, o que foi vital para a retomada das aulas presenciais, e até pelo investimento em higiene nas escolas colombianas, o governo faltou com dados e com monitoramento da educação.
Além disso, diante da necessidade de investimento em educação remota, jornalistas de educação também tiveram que assumir o papel de vigilantes dos recursos públicos. “Como jornalistas, temos que ser rigorosos e pedir contas ao governo pela forma que eles estão educando e pelos programas de estudo e [temos que] evidenciar à população a importância que a educação tem”, afirmou Allan, da Radio Columbia.
Mesmo com esses obstáculos, o país que mais tempo ficou com as escolas fechadas ainda não foi a América. Uganda, na África, passou 22 meses nessa condição, liderando o ranking da Unicef.
Em Uganda, as crianças de classes mais ricas foram menos afetadas, relatou a jornalista ugandense Patience Atuhaire, da BBC. Além disso, aquelas que ficaram longe das escolas acabaram expostas ao trabalho infantil e até ao abuso sexual, episódios que podem inviabilizar o retorno desses alunos à sala de aula. De acordo com a jornalista, para as meninas que engravidaram essa desigualdade pode ser ainda maior, pois será preciso avaliar a melhor maneira de realizar o retorno delas às escolas.
Coletar essas histórias certamente foi mais fácil do que vivê-las na pele. Afinal, Patience revelou que as comunidades rurais são acessíveis a repórteres que cobrem educação. Com essa experiência, ela aproveitou para reafirmar alguns princípios: “A educação molda o futuro de um país. A mensagem [aos jornalistas] é ficar de olho nas histórias. Os problemas terão efeitos duradouros nas crianças, nas famílias e nos países”, conclui.
Confira a íntegra desta mesa abaixo:
O 6º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca conta com o patrocínio master de Itaú Educação e Trabalho e Instituto Educbank, patrocínio de Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Fundação Telefônica Vivo, Instituto Península, Instituto Unibanco, Itaú Social e Santillana Educação, XP Educação e apoio da Fecap, Canal Futura/Fundação Roberto Marinho, Colégio Rio Branco, Loures Consultoria e Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil.
*Edição: Anelize Moreira e Ilustração: Camila Araujo
A cobertura oficial do 6º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação é realizada por estudantes, recém-formados e jornalistas integrantes da Redação Laboratorial do Repórter do Futuro, da OBORÉ. A equipe opera sob coordenação do Conselho de Orientação Profissional e do núcleo coordenador do Projeto, com o apoio da editoria pública e da equipe de comunicação da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação).