O relatório Education at a Glance 2022 da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), lançado nesta segunda-feira (3/10), tem como tema central a educação superior, mas também contém dados sobre o impacto da covid-19 nos anos escolares de 2021 e 2022, remuneração e condições de trabalho dos professores (jornada e desenvolvimento profissional), relação entre educação e mercado de trabalho e os “nem-nem” (jovens de 18 a 24 anos que não estudam nem trabalham) e financiamento do sistema educacional.
A OCDE fez um lançamento em português via webinário com Manuela Fitzpatrick, analista de políticas educacionais da organização. O evento teve o apoio da Jeduca para divulgação e contou com a mediação da editora pública e de conteúdo da associação, Marta Avancini. A apresentação usada por Manuela durante o evento pode ser baixada aqui.
O relatório completo e a nota sobre o Brasil (ambos em inglês) podem ser baixados no site da OCDE. Vale lembrar que as informações sobre o país são fornecidas por fontes oficiais, como o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).
Uma das principais utilidades do Education at a Glance é mapear como o Brasil está em relação a outros países nos temas abordados, de modo que ele pode ser uma fonte de consulta para reportagens e análises sobre o cenário educacional. Vale atentar que no relatório são usados os últimos dados disponíveis comparáveis entre os países analisados; então, nem sempre é o mais recente e, em algumas situações, não existe análise para o Brasil.
A seguir alguns destaques da edição 2022 do relatório.
Educação superior
Um dos principais eixos de análise é a relação entre formação de nível superior, empregabilidade e remuneração.
Num universo de 35 países analisados, o Brasil é o que apresenta a taxa mais baixa de adultos (25 a 64 anos) com formação de nível superior: 15% em média.
É importante atentar às disparidades regionais, pois, assim como ocorre em outros países, no Brasil há uma grande variação entre as unidades da federação. Assim, em 2015, o Distrito Federal era a unidade da federação com maior proporção de adultos com formação de nível superior (35%). No extremo oposto, está o Maranhão (7%) - ou seja, uma diferença de 25 pontos percentuais.
Esta discrepância é um aspecto importante a se levar em conta em pautas sobre o acesso e permanência no ensino superior. Qual a relação entre as desigualdades socioeconômicas e as desigualdades de acesso e permanência ao ensino superior? Quais as discrepâncias em termos de oferta de cursos e de vagas?
A evasão é um dos pontos de atenção sinalizados pelo relatório. No Brasil, 49% dos estudantes se graduam três anos após o tempo esperado para concluir o curso, contra 68% na média da OCDE. No que diz respeito ao recorte por gênero, as mulheres estão em vantagem: 52% das mulheres se formam nesse prazo, enquanto entre os homens a taxa é de 44%. Este comportamento é semelhante nos demais países da OCDE.
No universo de países analisados, o Brasil é o que possui a maior proporção de matrículas no ensino superior privado, chegando a 75% do alunado. A média da OCDE é de 17%. Segundo a análise da organização, essa característica está relacionada à oferta de ensino superior a distância no país.
Este achado também pode dar origem a pautas que enfoquem não somente a diferença entre a quantidade de matrículas no setor privado no Brasil e em outras partes do mundo, mas também que aprofundem as análises sobre como o segmento funciona no país, quais as condições de oferta do ensino a distância, o perfil dos estudantes que optam por essa modalidade, entre outras.
Educação e emprego
De acordo com a OCDE, adultos (25-64 anos) com ensino médio no Brasil ganham 49% a mais do que aqueles com ensino fundamental completo. Já quem tem ensino superior ganha, em média, três vezes mais do que as pessoas que têm ensino fundamental completo.
O Education at a Glance 2022 revela um descompasso de gênero, inclusive no Brasil, onde 37% das mulheres com ensino fundamental completo e 78% das mulheres com ensino superior estavam empregadas no ano de 2021. Para os homens, as taxas foram, respectivamente, de 75% e 87%.
Ensino médio e jovens que não trabalham, nem estudam
No Brasil, segundo a OCDE, 29% dos jovens adultos na faixa de 25-34 anos não concluíram o ensino médio. A média da OCDE é 14%.
O Brasil é o segundo país com maior proporção de jovens de 18 a 24 anos que não estudam nem trabalham: 36%, abaixo apenas da África do Sul. Ao todo, foram analisados dados de 37 países. Além disso, os jovens brasileiros estão entre os que permanecem mais tempo nessa condição: cerca de 50% deles ficam pelo menos 12 meses sem trabalhar e estudar.
Condições de trabalho e formação docente
Ao contrário do que ocorre na maior parte dos países analisados, a carga horária dos professores brasileiros tende a manter-se a mesma, independentemente do nível no qual leciona, cerca de 800 horas por ano. Nos demais países, predomina a tendência de uma carga horária maior para os professores dos níveis iniciais (como educação infantil, por exemplo) do que para o secundário (ensino médio).
Outro dado relevante, que pode ser mote para pautas sobre condições de trabalho e valorização docente é um dado sobre formação inicial: no Brasil, os professores estudam, em média, por quatro anos, qualquer que seja o nível em que atuará depois de formado. Em outros países, o tempo de formação inicial varia - como é, por exemplo, o caso da Holanda, onde os professores de ensino fundamental estudam por 4 anos e os de ensino médio, 6 anos. A Alemanha, que possui a formação inicial mais longa entre 35 países investigados, 6,5 anos, independentemente do nível em que o professor atua.