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Tomaz Silva/Agência Brasil
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Ensino de matemática: entenda o cenário

MEC prepara novo programa em um contexto marcado por baixos resultados em avaliações, pelo aumento da ansiedade matemática nos estudantes e pelas desigualdades de gênero na educação

03/04/2025
Redação Jeduca

A matemática é um dos grandes desafios da educação básica brasileira. Resultados de avaliações nacionais e internacionais, como Saeb e Pisa, têm indicado déficit no ensino e aprendizagem da matéria. Além de ser uma área de conhecimento que integra a formação básica dos estudantes, a matemática é também uma ferramenta para compreensão do mundo.

 

Diante da necessidade de investir na melhoria do desempenho dos estudantes e da sua relevância para a vida das pessoas, o MEC (Ministério da Educação) está elaborando um programa nacional com foco no ensino de matemática.

 

De acordo com o Estadão, a pasta deve definir uma nota mínima em avaliações nacionais como referência de aprendizagem adequada em matemática para alunos do 5º e 9º anos do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio. Outra ação da nova política é voltada para a formação de professores.

 

Desde 17 de março, o MEC realiza a Escuta Nacional de Professores que Ensinam Matemática, para coletar a contribuição de professores de ensino fundamental, médio e da educação profissional e tecnológica sobre formação e os desafios no ensino e práticas pedagógicas. O prazo da escuta, que inicialmente seria realizada até 28 de março, foi estendido para 6 de abril.


Em entrevista ao Porvir, a secretária de Educação Básica do MEC, Kátia Schweickardt , disse que o material da escuta será organizado para que se entenda como articular a visão dos professores com os componentes curriculares e com a gestão das escolas e das secretarias.

Neste material:
- Matemática nas principais avaliações;
- Ansiedade matemática
- Matemática e desigualdades por gênero
- Formação de professores
- Para ficar de olho

 

Matemática nas principais avaliações

 

         Saeb

  • Aplicado a cada dois anos, o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) é a principal avaliação nacional que mostra como está a aprendizagem em língua portuguesa,  matemática e ciências. No ensino fundamental, a prova é realizada com estudantes dos 2º, 5º e 9º anos. Os estudantes do 3º ano do ensino médio também participam da avaliação.  

 

 

Série histórica da proficiência média em matemática - 5º ano do ensino fundamental

 

Saeb

2011

2013

2015

2017

2019

2021

2023

Média

210

211

219

224

227,9

216,9

224,8

Fonte: Inep - Divulgação dos resultados



Série histórica da proficiência média em matemática - 9º ano do ensino fundamental

 

Saeb

2011

2013

2015

2017

2019

2021

2023

Média

253

252

256

258

263

256,3

257,1

Fonte: Inep - Divulgação dos resultados

 

 

  • A queda de desempenho verificada em 2021 está associada à baixa participação dos estudantes na prova em decorrência do fechamento de escolas na pandemia de covid-19. Recuperar o desempenho e voltar, no mínimo, ao desempenho dos estudantes em matemática pré-pandemia de covid-19 deverá ser a primeira meta do programa a ser lançado pelo MEC, conforme apurado pelo Estadão.

 

  • Os resultados do Saeb 2023 mostram que as médias em matemática não ficaram próximas aos resultados obtidos em 2019. O mesmo não aconteceu com as médias em língua portuguesa. Esta análise do Iede (Instituto Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional) aponta para dificuldade dos estudantes na recuperação dos conhecimentos e habilidades não consolidadas por conta da pandemia.

 

  • Dados do Qedu indicam que o índice de estudantes com aprendizado considerado adequado em matemática é menor do que em língua portuguesa no 5º e 9º ano do ensino fundamental e 3º do ensino médio. Em 2021, por exemplo, entre os estudantes do 5º ano, esse percentual era 37% em matemática, contra 51% em língua portuguesa.

 

  • Esta classificação foi definida por José Francisco Soares, ex-presidente do Inep, considerando os níveis Proficiente e Avançado do Saeb.

 

  • Um aspecto que pode ajudar a explicar a diferença de desempenho nas duas áreas é que, ao contrário dos números, a língua portuguesa está muito mais presente na infância das crianças, como pontua Kátia Smole, ex-secretária de educação básica do MEC, em matéria da Folha de S.Paulo. Nesse sentido, é importante garantir a exposição à matemática desde a educação infantil.

 

  • Em 2023, 69% das escolas estaduais ficaram nos menores patamares de desempenho do Saeb em matemátia, segundo o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) 2023, conforme relatado em matéria do jornal O Globo.

Escala Saeb
No Saeb, os resultados dos estudantes são apresentados em pontos dentro de uma escala de proficiência, que pode ser comparada com uma régua. Há uma escala para cada disciplina e ano/série.

A escala do Saeb é dividida em faixas a cada 25 pontos. Ela é formada por níveis de proficiência, que vão do mais baixo ao mais alto, que representam um conjunto de habilidades que os estudantes nesta faixa apresentam. A escala do Saeb pode ser conferida aqui.

 

         Pisa

  • Outra avaliação que traz informações sobre o cenário do ensino em matemática é o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), realizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), a cada três anos. A avaliação é voltada para estudantes com 15 anos. 

 

  • O propósito do Pisa é que os estudantes apliquem o conhecimento de matemática em situações do cotidiano, como controle de gastos e decisões de compra, por exemplo.
 

Série histórica da pontuação dos estudantes brasileiros em matemática 


Pisa

2003

2006

2009

2012

2015

2018

2022

Média

356

370

386

389

377

384

379

Fonte: OCDE - Pisa 2022 - Country Note Brazil

 

  • No Pisa 2022, o desempenho do Brasil em matemática foi de 379 pontos, abaixo da média dos países que compõem a OCDE (480). 

 

 

  • 27% dos estudantes brasileiros atingiram a faixa 2 de desempenho, que corresponde ao mínimo de proficiência esperada para essa faixa etária. O percentual da OCDE é 69%. 

 

  • 1% dos estudantes brasileiros estão nos níveis 5 e 6, considerados mais avançados, em que se espera que os alunos consigam resolver problemas complexos e abstratos e possuam pensamento criativo e flexível para desenvolvimento de soluções. A média da OCDE é 9%.

 

         TIMSS

  • Em 2023, pela primeira vez, o Brasil participou do TIMSS (Trends in International Mathematics and Science Study), realizado pelo IEA (Associação Internacional para a Avaliação do Desempenho Educacional), que avalia os jovens no 4º e 8º ano do ensino fundamental em matemática e ciências.

 

  • O TIMSS utiliza os currículos nacionais para estruturar a prova. As matrizes são elaboradas em colaboração com os países participantes, compreendendo os conhecimentos e habilidades esperados dos estudantes em cada série.

 

  • No 4º ano do ensino fundamental, as áreas temáticas são números, medidas e geometria e dados e a média dos estudantes brasileiros foi 400 pontos, abaixo da média de todos os países (503 pontos). 

 

  • No 8º ano, as áreas são números, álgebra, geometria e dados e probabilidade e a média brasileira foi de 378 pontos, enquanto a média internacional foi 478 pontos.Confira mais informações sobre a estrutura do TIMSS 2023 nesta matéria da Jeduca.

 

  • 51% dos estudantes brasileiros do 4º ano não alcançaram o nível baixo de proficiência. No 8º ano, o percentual é de 62%.

 

  • No Brasil, 4% dos estudantes do 4º não acertaram nenhuma das perguntas da prova de matemática, segundo matéria do Estado de S.Paulo, enquanto que 16% tiveram um desempenho pior do que se tivesse chutado todas as questões.

 


Ansiedade matemática

 

Ansiedade matemática é o sentimento de medo exagerado em situações que envolvem matemática, afetando o estado físico, cognitivo e comportamental do aluno. Além de impactar o desempenho escolar, a ansiedade matemática pode prejudicar a disposição dos jovens em aprender matemática ao longo da vida, conta reportagem veiculada na TV Cultura.

 

  • Os dados do Pisa 2022 revelaram que a ansiedade dos estudantes em relação à matemática aumentou na maioria dos países avaliados. A avaliação também indicou que o nível de ansiedade em matemática é maior em países onde os estudantes têm menor crença em sua capacidade de realizar tarefas.

 

  • No Brasil, 79,5% dos jovens que participaram da prova responderam que se sentem ansiosos em relação às notas de matemática, a média internacional é 65%. Ao resolver problemas matemáticos, 62,3% dos estudantes brasileiros relatam se sentirem ansiosos, a média internacional é 40%, como detalha matéria do g1.

 

A ansiedade matemática se manifesta no estudante em diferentes situações: ao resolver um exercícios, durante provas e até ao ver ou escutar um professor de matemática, por exemplo, aponta médico especialista em neurociência em matéria do Correio Braziliense. Os sintomas físicos incluem sudorese, náuseas e taquicardia, entre outros.

 

O desconforto emocional do estudante e o medo em relação à matemática podem vir de situações de estresse passadas que tenham envolvido lógica e cálculos. Além disso, no início da trajetória escolar, é comum que os estudantes escutem que a matemática é uma disciplina para pessoas inteligentes e não se sintam capazes.

 

Ya Jen Chang, presidente do Instituto Sidarta, consultada em matéria da Folha de São Paulo, aponta dois fatores que impedem o avanço no ensino são a crença de que existem “pessoas de exatas” e a mentalidade de que é necessário ter o “dom” para aprender matemática.

 


Formação de professores

 

Dados do Censo da Educação Superior 2023 alertam para alta evasão nos cursos de licenciatura em matemática. A taxa de desistência acumulada em matemática (70%) é a segunda maior entre os cursos de formação de professores, ficando atrás apenas da licenciatura em física (73%). O percentual de estudantes que concluem a licenciatura em matemática é de 28%.

 

Para docente consultado em matéria da Folha de S.Paulo, por conta da desvalorização docente, pessoas que costumam ter facilidade na área de exatas, tendem a optar por cursos como engenharia, por exemplo, por conta do retorno financeiro. 

 

Outro debate em andamento propõe repensar as práticas pedagógicas no ensino de matemática. Por meio de novas metodologias e estratégias que contrapõem ao ensino tradicional da disciplina, o propósito é diminuir o medo de muitos estudantes e tornar a matéria mais acessível.

 

No Brasil e em outros países, têm surgido experiências com metodologias voltadas para o ensino criativo de matemática, como conta reportagem publicada no Estado de S.Paulo

Ao contrário do ensino a partir da memorização de fórmulas e cálculos, as atividades buscam estimular o desenvolvimento e a descoberta do pensamento lógico dos estudantes.

Para ficar de olho:



  • A partir da divulgação da nova política do MEC, a cobertura poderá acompanhar o processo de implementação. Quais ações estão previstas no programa? Qual o orçamento para colocar essas ações em prática? Vale repercutir as medidas previstas com especialistas, gestores, organizações da sociedade civil e, especialmente, com gestores escolares e os professores da educação básica.

  • Desde 2024, o MEC tem realizado ações relacionadas ao ensino de matemática. Em novembro, promoveu o webinário Ensino da Matemática para equidade. Em janeiro, o ministério lançou o Guia de Recomendações Curriculares e Pedagógicas e o Caderno de Inovação Curricular em Matemática e o Clube de Letramento Matemático. 

  • Por meio da SEB, o MEC promoveu em fevereiro o webinário “Somando Vozes por Toda Matemática”, que debateu a aprendizagem em matemática, com professores e estudantes. 

 

 

Para saber mais

O cenário do ensino de matemática no brasil: o que dizem os indicadores nacionais e internacionais, IEDE - Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional, leia aqui.


Tem mais sugestões e indicações sobre este tema? Escreva para contato@jeduca.org.br.

 

 

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