Como os temas da área da educação aparecem em conteúdos de desinformação no contexto das campanhas eleitorais? E como a educação pode contribuir com jornalistas e as pessoas em geral para não caírem nas armadilhas da desinformação?
Esses foram alguns temas debatidos no webinário A educação e a desinformação nas eleições, com participação de Bruno Ferreira (Instituto Palavra Aberta) e Marta Alencar (Coar Notícias), realizado pela Jeduca nesta quarta-feira (3/7). A mediação foi de Marta Avancini, editora pública da associação.
O evento abriu a série A cobertura de educação nas eleições 2024, composta por quatro webinários promovidos pela Jeduca (leia mais aqui).
Bruno Ferreira chamou a atenção para a influência de conteúdos mentirosos e opinativos, propaganda eleitoral disfarçada e cobertura jornalística tendenciosa sobre as escolhas dos eleitores. Como contraponto, enfatizou a importância do papel da imprensa profissional enquanto meio de disseminação de informações confiáveis, ao lado dos tribunais eleitorais, institutos de pesquisa e agências de checagem.
“É importante que as pessoas acessem diferentes veículos e comparem informações”, sugere ele, como estratégia para evitar ser enganado por conteúdos mentirosos ou que falseiam a realidade. “Nas eleições de 2022, falou-se muito da relevância das agências de checagem e elas devem se tornar cada vez mais importantes no contexto das campanhas eleitorais”, prevê Ferreira.
A jornalista Marta Alencar, por sua vez, falou sobre como a educação aparece em conteúdos de desinformação nas regiões interioranas e nos chamados desertos de notícia, ou seja, localidades onde não há meios jornalísticos.
Com base em apurações da agência de checagem Coar, que atua no Nordeste e Norte do país, a jornalista apresentou alguns exemplos de como a desinformação é apresentada: há desde a utilização de dados imprecisos até informações falsas ou verdades alternativas, como o caso de uma prefeitura que noticiou a inauguração de uma escola no lugar onde, de fato, funciona uma igreja. “Com o uso da inteligência artificial, as verdades alternativas relacionadas a ações públicas tendem a se tornar mais comuns”, prevê a jornalista.
Nesse cenário, destaca ela, o jornalismo desempenha um papel central para evitar que as pessoas fiquem suscetíveis à desinformação, pois elas passam a compreender melhor como funciona o processo de produção de uma notícia.
O papel dos veículos e jornalistas
Para os participantes do webinário, existem algumas condutas que podem ser adotadas pelos veículos e jornalistas a fim de contribuir com o combate à desinformação. Uma delas é a transparência dos métodos de apuração. “O quanto os veículos comunicam e evidenciam seus métodos para que a gente possa atribuir credibilidade a eles, sobretudo pelos métodos de apuração que usam e não pelo fato de terem milhões de seguidores ou por serem grandes veículos de comunicação?”, questiona Ferreira.
Segundo ele, é importante que os jornalistas sejam mais transparentes com relação às maneiras como chegaram e elaboraram uma informação, pois isso contribui para que as pessoas compreendam o que é uma notícia e por que devem prestar atenção àquela informação. “Quando todos os jornalistas fizerem isso, vamos estar contribuindo para explicitar o que é um veículo confiável e o que não é”, analisa.
A importância da interiorização do jornalismo profissional foi enfatizada por Marta Alencar, pois, assim, é possível disseminar as técnicas e procedimentos entre pessoas que, mesmo sem formação, desempenham o papel de produzir e divulgar notícias em muitas localidades. “Às vezes só tem uma pessoa, o blogueiro da cidade, um jornalista que cobre a pauta da cidade, muitas vezes sofrendo pressão para não cobrir certas pautas. É importante que o jornalismo profissional chegue a esses locais até para levar apoio e informação a essas pessoas”, propõe a jornalista.
A cobertura de educação
A área da educação é uma das mais negligenciadas do ponto de vista da cobertura nas regiões mais isoladas e interioranas, segundo Marta Alencar.
“Muitas vezes, as pessoas publicam releases sem checar as informações”, afirma. Então, como dica para quem quer fazer a cobertura de educação nas campanhas eleitorais, ela sugere que os jornalistas aprendam sobre técnicas de checagem e transparência. Dessa forma, é possível acompanhar e monitorar declarações e publicações, confrontando o que é dito com dados e percebendo contradições.
Já Ferreira propõe que os jornalistas atuem de forma a qualificar as fontes. “Ele [o jornalista] pode adotar uma postura que não se limite a extrair informações das fontes, ele pode levar dados e problematizá-los com elas. Dessa forma, as fontes também se qualificam e se tornam capazes de analisar melhor a realidade”, conclui.
Assista o webinário na íntegra:
Para saber mais:
Eleições
Materiais
Agências de checagem
Bereia - Informação e Checagem de Notícia
Fato ou Boato - Projeto Coalizão para Checagem (TSE)
Rede Nacional Combate à Desinformação