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Tânia Rêgo/Agência Brasil
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Orientações para a cobertura de suicídios e eventos violentos envolvendo escolas

Manual da Organização Mundial da Saúde recomenda, entre outros pontos, evitar glorificar as vitimas e atribuir culpas ou responsabilidades a fim de evitar efeito contágio

22/08/2024
Marta Avancini

(Com apuração de Isabella Siqueira)

 

A cobertura jornalística de suicídios ganhou destaque por causa de reportagens sobre a morte de um adolescente, bolsista em uma escola privada de elite em São Paulo, na primeira quinzena de agosto. 

 

O caso ganhou ampla visibilidade por causa de um áudio gravado pela vítima anunciando sua intenção que vazou e circulou via whatsapp e redes sociais, além de reportagens que detalham sua história pessoal, suas motivações e sua condição na escola.


Diante do caso e da repercussão, a Jeduca compilou algumas orientações sobre a cobertura de suicídios e de eventos violentos relacionados a escolas.

 

Pesquisas mostram que, assim como ocorre na cobertura de ataques armados contra escolas, a maneira como a notícia é dada, pode influenciar outras pessoas a cometerem esses atos, desencadeando o efeito contágio. Ou seja, as reportagens, dependendo de como são elaboradas, podem servir de inspiração e modelo para outras pessoas cometerem suicídio ou ataques armados. Leia mais sobre os cuidados na cobertura de ataques contra escola nessa matéria da Jeduca.

 

Assim como ocorre na cobertura de suicídio, a violência na escola também precisa ser vista com cuidado em reportagens. Neste caso específico, estão circulando informações em reportagens e nas redes sociais que associam o episódio à a convivência do adolescente com colegas na escola. 

 

Esse é um aspecto que merece atenção porque as pesquisas mostram que a violência na escola é um fenômeno complexo, que se manifesta de diversas formas, entre elas o bullying, as agressões verbais e as agressões físicas. 

 

De maneira geral, os estudos apontam a importância de entender os contextos a violência se dá no ambiente escolar, assim como as medidas adotadas por escolas ou redes de ensino para lidar com essas questões. As reportagens podem, então, contribuir para problematizar esses pontos e aprofundar o debate, sem focar em casos específicos.

 

Na cobertura de suicídios, um dos principais documentos orientadores é um manual da OMS (Organização Mundial da Saúde) publicado no ano 2000, usado como referência nesse tipo de cobertura.

 

É importante destacar que a OMS não recomenda que a mídia se omita ou deixe publicar esse tipo de notícia. A organização chama a atenção para a necessidade de tomar cuidado com a maneira como a notícia é dada para evitar que novos casos ocorram.

 

De acordo com a organização, já existe evidência científica suficiente para sugerir que algumas formas de noticiário e coberturas televisivas estão associadas a um aumento de suicídios estatisticamente significativo, principalmente entre os jovens. 

 

Em contrapartida, a mídia pode desempenhar um papel relevante na prevenção de suicídios. 

 

O que evitar na cobertura de suicídios, segundo a OMS

  • A glorificação de vítimas de suicídio como mártires e objetos de adoração pública pode sugerir que a sociedade valoriza o comportamento suicida, influenciando pessoas vulneráveis. O foco deve ser no luto pela vítima.

 

  • As reportagens não devem tratar o suicídio como inexplicável ou de forma simplista. Suicídios não resultam de um evento ou fator único, mas da interação de vários fatores (transtornos mentais e doenças físicas, abuso de substâncias, problemas familiares, conflitos interpessoais e situações de vida estressantes). As reportagens podem reconhecer esse aspecto.

 

  • Não mostrar o suicídio como uma forma de lidar com problemas pessoais (falência financeira, reprovação em algum exame ou concurso ou abuso sexual).

 

  • Descrições detalhadas sobre o método e sua obtenção devem ser evitadas. Pesquisas apontam que o impacto da cobertura é maior nos métodos do que na frequência dos suicídios. Dar visibilidade a locais que costumam ser associados a suicídios (pontes, penhascos, edifícios altos, entre outros) pode aumentar a sua procura.

 

  • As notícias devem abordar problemas de saúde mental da vítima e evitar exageros.

 

  • Fotos da vítima, da cena do suicídio e do método utilizado devem ser evitadas.

 

  • Não usar estereótipos religiosos ou culturais. 

 

  • Não atribuir culpas e responsabilidades.

 

  • É importante considerar o impacto do suicídio nos familiares da vítima, e nos sobreviventes, em termos de estigma e sofrimento familiar. 

 

  • A cobertura sensacionalista de um suicídio, especialmente envolvendo celebridades, deve ser evitada e minimizada se possível.

 

Como a mídia pode contribuir para qualificar as informações sobre suicídios

 

  • Divulgar listas de serviços de saúde mental disponíveis, telefones e endereços atualizados de contato onde as pessoas possam obter ajuda.

  • Incentivar as pessoas a buscarem ajuda, se sentirem que necessitam.

  • Publicar listas com os sinais de alerta de comportamento suicida.

 

  • Deixar claro nas reportagens que o comportamento suicida está frequentemente associado com depressão, que é tratável.


Para saber:

Prevenção do suicídio: um manual para profissionais da mídia


OMS: cobertura jonalística responsável pode contribuir para prevenir suicídios

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