“Em todos os momentos nós aprendemos”, disse Jo Boaler, pesquisadora e professora da Universidade de Stanford, ao desmistificar a crença comum de que uma pessoa pode ou não ter um “cérebro matemático". A afirmação foi feita durante sua palestra na abertura do 9º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca, em 25 de agosto.
A palestra abordou novos caminhos - mais criativos, acessíveis e equitativos - para o ensino de matemática, tema que tem ganhado espaço no debate educacional brasileiro e internacional num cenário de baixo desempenho de estudantes nessa área, constatado em vários países. No Brasil, resultados do TIMSS 2023 (Trends in International Mathematics and Science Study) mostram que 51% dos estudantes do 4º ano do ensino fundamental brasileiros não possuem conhecimentos básicos de matemática.
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Ao sustentar seu argumento, Boaler destaca, antes de tudo, que não existe um cérebro mais ou menos adequado para aprender matemática. A pesquisadora, que criou a abordagem Mentalidades Matemáticas e atua como diretora acadêmica do Centro de Pesquisa YouCubed da Universidade de Stanford, explica que, sempre que aprendemos algo novo, o cérebro humano cria, conecta e fortalece as vias neuronais. Essas vias não surgem no nascimento, sendo desenvolvidas ao longo da vida.
Errar deve fazer parte do aprendizado em matemática, defende Boaler. “Você não quer estar na sala de aula acertando sempre, isso significa que seu cérebro não está treinando o suficiente”, diz. Estudos na área de neurociência têm mostrado que o melhor momento para o cérebro aprender é na fronteira do entendimento, no processo de errar, corrigir e cometer mais erros.
Para ilustrar o momento de desafio necessário para transformar a relação e a mentalidade dos estudantes em relação à matemática, Boaler utiliza a metáfora do “Buraco de Aprendizagem”, desenhada por alunos do 5º ano. Ela retrata a evolução das crianças, que passam de sentimentos de confusão e inadequação para a crença de que possuem as ferramentas necessárias para sair do “fundo do poço”.
No entanto, Boaler alerta que esses momentos desafiadores não costumam ser valorizados dentro da sala de aula, já que os professores tendem apenas a reconhecer os acertos dos estudantes.
A pesquisadora também explica como a mentalidade correta pode ajudar a melhorar o aprendizado em matemática. “O que você acredita sobre si mesmo e sobre cometer os erros muda a conectividade do seu cérebro. Entre os estudantes que vão para a sala de aula, a única diferença entre eles é a mentalidade”, diz.
Evidências científicas mostram que, ao manter uma mentalidade fixa, os estudantes tendem a permanecer no mesmo nível, enquanto aqueles que possuem uma mentalidade em desenvolvimento encontram-se em uma via de crescimento, podendo alcançar melhores resultados em testes padronizados.
“Ao experienciar a matemática ativamente e em diferentes formatos, formam-se conexões cerebrais e os estudantes criam uma abertura para a aprendizagem”, reforça a pesquisadora.
Para além de ser visualizada pelos estudantes apenas como números, outro caminho é que a matemática seja ensinada de forma visual, ativa e multidimensional, de um modo que possa ser modelada pelos alunos.
Boaler também defende que o ensino da disciplina precisa ser modernizado. Elar argumenta que atualmente são ensinados conteúdos e métodos redundantes, como contas a mão e divisões sintéticas, que não são usadas no dia a dia e podem ser feitas com auxílio da tecnologia.
O propósito é que, com a retirada de procedimentos desnecessários, o ensino de matemática tenha mais tempo para aprofundar o desenvolvimento do raciocínio lógico e a criatividade dos estudantes.
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O 9º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca conta com o patrocínio de Imaginable Futures, Instituto Unibanco, Fundação Bradesco, Fundação Lemann, Fundação Itaú, Arco Educação, Fundação Telefônica Vivo, Grupo Eureka, Instituto Ayrton Senna, Instituto Natura e Santillana Educação e apoio da Fecap, Instituto Sidarta, do Colégio Rio Branco e da Loures. Conta também com apoio institucional da Abej, Abraji, Ajor, Canal Futura, Coalizão em Defesa do Jornalismo e Instituto Palavra Aberta.