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Tiago Queiroz/Jeduca
Congressos

Proximidade dos jornalistas com a escola é um dos pilares do combate à desinformação

Na terceira mesa do 8º congresso da Jeduca, palestrantes debateram sobre o papel da educação midiática e como a imprensa jornalismo pode criar ambientes mais saudáveis e democráticos

03/09/2024
Natasha Meneguelli/Oboré Projetos Especiais*

(Com edição de Anelize Moreira)

 

“Estamos em um  momento muito relevante para pensar na procedência e na veracidade das informações que estão circulando”, explica a educadora Mariane Sousa Pinto, ao falar sobre a relação da educação midiática com o processo eleitoral e o pensar sobre a democracia. Pedagoga e também coordenadora pedagógica do Ginásio Educacional Tecnológico Oswaldo Teixeira, no Rio de Janeiro, atua como uma das mediadoras do projeto Jornal EMOT, que aborda o cotidiano escolar na perspectiva de estudantes de 7 a 15 anos.

A professora abriu a mesa “A educação no combate à desinformação”, terceira do primeiro dia do 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca, junto de sua aluna, Kamilly Vitória dos Santos Paiva, de 13 anos, que é repórter estudantil no projeto. O Jornal EMOT é uma iniciativa de educação midiática, conceito surge das ferramentas utilizadas na análise crítica dos conteúdos no ambiente digital. 

 

As inscrições para a versão online do #Jeduca2024, com a possibilidade de emissão de certificado até 4/10, seguem abertas aqui.



As duas relataram a relevância da discussão sobre educação midiática para crianças e adolescentes, que consomem uma grande quantidade de informação nas mídias digitais, além da distinção entre fato e opinião, habilidade que faz parte do escopo curricular.


“Comecei a fazer coberturas pequenas, dentro da escola mesmo, como uma jornalista normal”, conta Kamilly, arrancando risadas da plateia. Junto de outros jovens, ela fez parte de uma equipe que entrevistou o atual vice-presidente, Geraldo Alckmin, em uma atividade  do G20, fórum de cooperação econômica internacional. “Foi lá que eu percebi que, em vários fóruns da internet, há muitas
fake news, e que isso é algo que muitos jovens, e também adultos, podem cair facilmente”. 


Bruno Fonseca, chefe de redação da Agência Pública, analisou o cenário atual de desinformação, citando como exemplo uma
reportagem da Pública sobre a violação das normas eleitorais por candidatos, que usaram uma imagem de inteligência artificial para criticar o presidente Lula sobre queimadas. Ao invés de simplesmente informar que a imagem era falsa, a investigação demonstrou como ela foi criada e que a imagem se originou, na verdade, em um fórum da rede social Reddit, sem relação direta com objetivos de desinformação.


“Nessa disputa política, essas imagens de meme, de provocação, têm tido até mais alcance do que as de inteligência artificial, que tentam enganar”, afirma Bruno. “Por isso é importante nós, como jornalistas, olhar e desnaturalizar esses fluxos, mostrar de onde vem isso. Como isso funciona nas redes”.


Ele explica que a audiência é sempre um dilema, mas que as métricas são importantes para pensar os formatos e como as pautas são comunicadas pelos veículos de comunicação. “De outro lado, temos que ter uma posição firme em relação ao quanto cedemos para a audiência, em função do nosso projeto editorial e do nosso compromisso ético”.


Cotidiano das escolas na pauta 

O caminho de iniciação de Kamilly na educação midiática não é único entre os palestrantes. Vitória Galvão, fundadora da Palmares Laboratório Ação, na periferia de Manaus (AM) , que atua com políticas públicas e desenvolvimento sustentável voltados às juventudes, que foi a partir de iniciativas como essa, dentro da escola, que chegou na posição que ocupa hoje. “Fui cria de projetos, foram eles que me apresentaram uma nova visão de mundo e fizeram com que hoje eu pudesse me enxergar também como produtora desse conhecimento”. 


Para Vitória, existe um distanciamento das comunidades com determinadas profissões, como a do jornalista, o que faz com que quem consuma informação se sinta como espectador, e não como parte daquilo. “A informação tem lado, ela não é isenta de quem está escrevendo, de quem está lendo”. 


A perspectiva é compartilhada pelo jornalista Bruno Fonseca. Ele  diz que as redes sociais também não são um espaço neutro e que a maior parte dos aplicativos usados são de poucas empresas de  tecnologia, normalmente estadunidenses. Ainda, explica que “se não tiver uma aula [de educação midiática], se não tem jornal comunitário, se não tem uma experiência com o jornalismo, é até mais difícil defender este produto que é tão importante para a nossa democracia”. 


Kamilly também chama atenção sobre a falta da visita de jornalistas às escolas. “Porque temos essa coisa de não poder nos deslocar para ir falar com vocês. É muito incrível quando tem alguém na nossa escola, as pessoas ficam: caraca! Lembraram da gente”.


Mariane complementa que é sobre a escola estar nos jornais, não só com as questões grandiosas, mas do que está acontecendo dentro das escolas, o impacto e a relevância para o aluno.


A escola como espaço de protagonismo

A jornalista argentina Silvia Bacher, apresentadora do Rayuela, programa de rádio reconhecido com o Prêmio Martín Fierro, relembrou seu percurso como parte do jornal estudantil no seu país, até a sua formação como professora e atuação posterior com o jornalismo. Ela conta que “a escola que nos ensina a pensar, que nos ensina o que perguntar, como construímos este ‘prompt’ de protagonismo, e que ilumina e transforma também os outros”.


Para ela, muito pouco do que é dito agora sobre desinformação é realmente novo, mas que a potência do debate muda com a inovação tecnológica e com as características do tempo atual. “Também é muito importante que a audiência confie nos veículos de comunicação, um problema sério que enfrentamos aqui na América Latina, apontado inclusive por
estudos recentes”. 

 

Confira a mesa completa:



O 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca contou com o patrocínio master de Fundação Itaú, Fundação Lemann e Instituto Sonho Grande, patrocínio ouro de Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Fundação Telefônica Vivo e Instituto Unibanco, patrocínio prata de Instituto Ayrton Senna, Instituto Natura, Santillana Educação e Imaginable Futures e apoio da Fecap, Canal Futura, Colégio Rio Branco e Loures Consultoria. O evento contou também com o apoio institucional da Abraji (Associação de Jornalismo Investigativo), Abej (Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo), Ajor (Associação de Jornalismo Digital), Coalização em Defesa do Jornalismo, Instituto Palavra Aberta, Jornalistas&Cia e Unesco Mil Alliance.

 

*A cobertura oficial do 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação é realizada por estudantes, recém-formados e jornalistas integrantes da Redação Laboratorial do Repórter do Futuro, da OBORÉ. A equipe opera sob coordenação do Conselho de Orientação Profissional e do núcleo coordenador do Projeto, com o apoio da Editoria Pública e da equipe de Comunicação da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação).

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