A última sessão do 4.º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, "Experiências estrangeiras da cobertura", reuniu jornalistas de diferentes partes do mundo para contar como foi seu trabalho durante a pandemia de Covid-19. A mesa, mediada por Antonio Gois, mostrou que, apesar de culturas distintas, o contexto pandêmico aproximou as realidades de países como Uruguai, Nigéria e Estados Unidos, especialmente por conta das desigualdades agravadas com a crise.
O evento, que aconteceu de 19 a 23 de outubro de 2020, foi online e gratuito. A programação completa pode ser conferida aqui e, até dia 23 de novembro, caso ainda não tenha feito inscrição, ainda dá para se inscrever para assistir às mesas aqui. Caso tenha feito inscrição, basta entrar no site com o login e a senha cadastrados.
Na Nigéria, o retorno às aulas aliviou as famílias que estavam enfrentando dificuldades com o ensino remoto, já que falta de internet e aparelhos para acompanhar as aulas presenciais foi um desafio para muitas delas. “Mesmo que as aulas sejam dadas de forma gratuita, o acesso a esses recursos tecnológicos é muito caro para as famílias. Por isso, há crianças que, desde março, não tiveram nenhuma educação formal”, afirmou Adie Vanessa Offiong, jornalista freelancer de Abuja, capital nigeriana.
Além dos custos, na Nigéria há questões sérias de infraestrutura. Segundo Vanessa, mesmo com acesso a rádios, um equipamento mais barato do que computadores, as quedas de energia atrapalharam muitos alunos na hora de manter uma relação com a escola.
“Muitas escolas públicas precisam ser avaliadas para sabermos se elas podem reabrir e se atendem às diretrizes. O governo não avaliou todas, então esse é um debate que está acontecendo agora”, disse Vanessa.
A realidade norte-americana não é, segundo Daarel Burnette, jornalista do veículo independente especializado Education Week. De acordo com ele, o ensino remoto nos EUA tem sido “lastimável”, o que judicializou a questão, pois muitas crianças que já tinham histórico de exclusão e dificuldades de aprendizagem estão mais excluídas na pandemia.
“Há uma imensa indústria jurídica relacionada aos resultados acadêmicos de estudantes negros. Vários processos estão ocorrendo alegando violações à Constituição, já que o direito à educação não está sendo atendido”, disse Daarel. Nos EUA, o retorno às aulas presenciais é uma decisão que compete a cada estado da federação – ou seja, enquanto alguns reabriram as escolas, outros seguem com os colégios fechados.
Ele lembrou que os estudantes negros geralmente frequentam grandes escolas em zonas urbanas, justamente onde a pandemia tem feito mais vítimas no país. “Muita gente conhece alguém que morreu com Covid-19. Tudo isso afetou muito as comunidades. Essas escolas foram fechadas, então o impacto nessas crianças é enorme”, ressaltou.
No Uruguai, os alunos mais vulneráveis também foram os mais prejudicados. “Os estudantes mais ricos conseguiram manter a educação virtual. Agora, com a volta às aulas, também são eles que mais frequentam as aulas presenciais”, ressaltou Leticia Castro.
Segundo ela, o Uruguai, um dos primeiros países da América Latina a reabrir as unidades de ensino, voltou recentemente a distribuir merenda escolar como forma de atrair as crianças mais pobres para a escola novamente, já que muitas dependem dessas refeições diariamente.
“Não ir para a escola é mais perigoso do que não ir. Os riscos de abandono escolar para a saúde das crianças é muito grande, e muitos dados mostram isso”, pontuou, citando que o Uruguai tem uma taxa de transmissão muito baixa do vírus no momento.
Veja como foi a mesa:
O 4.º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação tem o patrocínio da Fundação Lemann, Fundação Telefônica Vivo, Instituto Unibanco, Itaú Social, Itaú Educação e Trabalho, e apoio do Colégio Rio Branco e Loures Consultoria.