(Com apuração de Isabella Siqueira)
A cobertura sobre educação infantil nas campanhas eleitorais para prefeito e vereador pode extrapolar temas já comuns no noticiário, como a falta de vagas em creches e os resultados das avaliações. Embora esses assuntos sejam relevantes, questões ligadas à qualidade também devem ser abordadas por reportagens, contribuindo para um olhar mais abrangente sobre a educação e sua relação com o desenvolvimento infantil.
Esse foi um dos assuntos debatidos no webinário Acesso à educação de qualidade e o desenvolvimento infantil, realizado pela Jeduca. O evento contou com a participação de Camila Hessel (Lunetas), Leila Sousa (Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal) e Miriam Pragita (Andi - Comunicação e Direitos). A mediação foi de Marta Avancini, editora pública da Jeduca.
Uma maneira de pautar a educação infantil é através do monitoramento dos indicadores. “Temos mais de 18 milhões de crianças na primeira infância e mais da metade delas estão em famílias de baixa renda, o que mostra o quanto essa agenda é prioritária no Brasil”, contextualiza Leila Sousa. “Já avançamos muito, mas precisamos manter essa pauta em evidência, monitorando indicadores, acompanhando como a pauta tem entrado nas agendas de governo”, complementa.
A imprensa tem um papel central nesse processo, tanto no sentido de questionar os candidatos sobre temas como a garantia de vagas em creches para as crianças que mais precisam, propostas para melhorar a infraestrutura das escolas ou estratégias para estimular as famílias a se envolverem mais na educação dos filhos.
Nessa direção, Miriam Pragita falou sobre o papel dos municípios para a garantia de acesso à educação e às demais políticas para a primeira infância. “Os municípios carregam algumas das condições e competências mais decisivas para a implementação de soluções que promovam mudanças que atendam as necessidades de crianças e adolescentes”, enfatizou ela, lembrando que Agenda 227 tem o objetivo de incentivar os candidatos a colocarem a pauta dos direitos da faixa etária de 0 a 18 meses como prioridade em seus planos de governo.
Por isso, ela reforça a importância da cobertura jornalística sobre educação e primeira infância nas campanhas eleitorais. “É fundamental acompanhar o comprometimento dos candidatos com a agenda da infância, porque esta é uma escolha humana, econômica, além de ser essencial para romper o ciclo de pobreza, como mostram diversos estudos”, analisa Miriam Pragita. Uma chave importante, segundo ela, é a contextualização.
A jornalista Camila Hessel trouxe alguns pontos que contribuem para uma cobertura que mescla o olhar para os dados e as políticas públicas (como geralmente ocorre na grande mídia) com casos e soluções.
“A gente sempre procura trazer nas reportagens do Lunetas um senso de agência, quer dizer, procuramos fazer com que as pessoas sintam que podem incidir, contribuir para mudar o cenário”, afirmou a jornalista. “Num contexto em que muitos problemas sociais afetam, ainda que indiretamente, o desenvolvimento das crianças, procuramos sinalizar um caminho, quebrando a impressão que estamos somente despejando um monte de problemas sobre as famílias”, detalha Camila Hessel, lembrando que o site tem como público-alvo as famílias.
A intenção é manter o jornalismo como uma fonte confiável de informações, num cenário em que as redes sociais estão se tornando a principal referência das pessoas. “Um desafio é fazer jornalismo de forma que não pareça jornalismo para atrair e engajar mais as pessoas”, propõe ela.
Assista ao webinário:
O primeiro webinário da série abordou o uso da educação em conteúdos de desinformação nas campanhas eleitorais (saiba mais aqui), Os eventos fazem parte da série de webiinários A cobertura de educação nas eleições 2024 (leia aqui).
Confira, a seguir, dados e sugestões de fontes de informação para
a cobertura de educação infantil nas campanhas eleitorais
Raio-x educação infantil nos municípios
Infraestrutura |
Escolas públicas (%) |
Escolas municipais (%) |
Água filtrada |
94 |
94 |
Água inexistente |
3 |
3 |
Sem energia elétrica |
2 |
2 |
Esgoto inexistente |
6 |
6 |
Alimentação |
100 |
100 |
Biblioteca |
19 |
19 |
Dependências com acessibilidade |
62 |
62 |
Laboratório de informática |
13 |
13 |
Sala de leitura |
18 |
18 |
Fontes: Painel de Estatísticas Censo Escolar da Educação Básica do Inep, Apresentação da Coletiva de Imprensa Censo Escolar 2023 e QEdu.
Atendimento em creches
Número e percentual da população de 0 a 3 anos em escola ou creche -
Brasil, Grandes regiões e Unidades da Federação (2022)
|
Matrículas |
% |
Brasil |
4.375.413 |
37,3 |
Norte |
262.201 |
20,4 |
RO |
19.789 |
18,3 |
AC |
11.607 |
19,3 |
AM |
51.876 |
16,7 |
RR |
10.667 |
22,9 |
PA |
128.465 |
21,7 |
AP |
6.625 |
19,2 |
TO |
33.173 |
32,3 |
Nordeste |
1.148.891 |
33,7 |
MA |
166.757 |
35,1 |
PI |
63.537 |
34,5 |
CE |
193.058 |
37,7 |
RN |
76.240 |
37,2 |
PB |
74.818 |
30,1 |
PE |
174.100 |
30,8 |
AL |
77.017 |
35,2 |
SE |
48.121 |
33,6 |
BA |
275.243 |
32,1 |
Sudeste |
1.962.286 |
44,3% |
MG |
382.879 |
33,3 |
ES |
90.015 |
37,8 |
RJ |
304.956 |
40,9 |
SP |
1.184.435 |
51,6 |
Sul |
678.716 |
42,5 |
PR |
254.675 |
39,1 |
SC |
207.650 |
49,5 |
RS |
216.390 |
41,1 |
Centro-Oeste |
323.320 |
31 |
MS |
85.515 |
40,5 |
MT |
79.253 |
33,0 |
GO |
107.119 |
26,2 |
DF |
51.433 |
31,1 |
Fonte: 5º Relatório de Monitoramento do PNE 2014-2024 (pág. 30)
Atendimento em pré-escolas
Para saber mais:
Dados e informações
Legislação
Estudos e publicações