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Os efeitos da pandemia na rotina de educadores e jornalistas

No segundo dia do 4.º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, membros da comunidade escolar e repórteres contaram suas experiências durante o isolamento social

21/10/2020
Mariana Mandelli, Especial para a Jeduca

O fechamento das escolas, por causa do avanço do novo coronavírus no Brasil, modificou radicalmente o dia a dia de educadores, estudantes e, também, dos jornalistas. Nas duas sessões do segundo dia do 4.º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação integrantes da comunidade escolar e repórteres de diversas partes do país compartilharam suas experiências e os desafios vivenciados durante os meses de isolamento social.

 

O evento, que aconteceu de 19 a 23 de outubro de 2020, foi online e gratuito. A programação completa pode ser conferida aqui e, até dia 23 de novembro, caso ainda não tenha feito inscrição, ainda dá para se inscrever para assistir às mesas aqui. Caso tenha feito inscrição, basta entrar no site com o login e a senha cadastrados. 

 

Coronavírus e desigualdades: experiências de educadores e estudantes

A crise da Covid-19 agravou todas as outras crises brasileiras, aprofundando as desigualdades em diversos níveis, incluindo o educacional.

 

Para entender as diferentes maneiras como a suspensão das aulas presenciais afetou famílias, educadores, crianças e jovens, o 4.º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação da Jeduca organizou a mesa “O coronavírus e as desigualdades”, na qual integrantes da comunidade escolar relataram como estão lidando com os últimos meses. A sessão foi mediada pela jornalista Cintia Gomes, editora da Agência Mural de Jornalismo das Periferias e membro do Comitê da Jeduca.

 

Mesmo sendo de diferentes locais do Brasil, a dificuldade de acesso à internet e a dispositivos eletrônicos para acompanhar as aulas em casa foi o tema comum entre os participantes do debate. A diretora escolar Ida Larruscain, de Sant'Ana do Livramento (RS), vivencia isso desde o início da quarentena.

 

“Todo dia recebemos solicitação de pais e alunos para que escola ceda notebooks, mas nós não temos. E acabamos sendo excludentes por não conseguir proporcionar uma forma de manter o vínculo com os alunos como eles merecem”, explicou Ida.

 

Arthur Cabral, professor de ciências de uma escola estadual em Camaragibe (PE), enfrentou o mesmo problema. Ao se dar conta de que seus alunos estavam com dificuldades de acessar o conteúdo das aulas remotas, ele usou sua bicicleta para visitá-los. “Juntei dinheiro com amigos, imprimi, peguei envelopes e minha bicicleta e fui até à casa de cada um deles. Pude confirmar que o problema era falta de internet ou de um telefone compatível”, contou Arthur.

 

 

Essa prática virou rotina. Toda sexta-feira, ele se organiza para esses estudantes, levando inclusive atividades de outros docentes. “Trazer o olhar para o estudante e fazer com que ele se sinta visto foi o meu maior desafio nesses meses”, ressaltou Arthur. “Ser professor é não desistir de nenhum aluno”.

 

Ele não recebeu ajuda da rede estadual para comprar equipamentos, assim como não obteve nenhum benefício que custeasse o aumento de luz e internet que vem registrando por conta das aulas a distância. Essas dificuldades são agravadas pelo maior tempo de trabalho diário, já que costuma atender alguns alunos fora do que antes poderia ser chamado de expediente.

 

Como sua escola vivencia algo parecido, a diretora Ida lembrou que muitas famílias têm destacado o empenho dos professores. “Não temos o horário fixo que tínhamos no presencial. Estamos disponíveis para os nossos alunos na hora que eles puderem se conectar”, ressaltou. “Ouvimos muitos depoimentos de pais elogiando a dedicação dos professores porque não temos mais horas certas para trabalhar.”

 

Responsabilidade

Professor associado da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), José Alves da Silva destacou justamente a importância dos professores nesse cenário incerto da Covid-19. Segundo ele, há uma tentativa de colocar nas escolas e nos educadores toda a responsabilidade para resolver os problemas que o ensino remoto trouxe.

 

“A pandemia escancarou para a sociedade brasileira o papel dos professores e diretores, que vai muito além do conhecimento. Eles são estratégicos”, pontuou José. “Precisamos responsabilizar mais os diferentes agentes da sociedade, para além da questão educacional.”

 

Nesse sentido, a necessidade de políticas públicas intersetoriais ficou ainda mais evidente com a Covid-19, como destacou o professor Arthur. Isso porque muitas crianças e jovens não têm condições mínimas em casa para darem conta das atividades escolares em seus lares.

 

Afeto

A escola como espaço de interação e convívio social também foi bastante lembrada na fala dos participantes da discussão. A estudante de ensino médio Fernanda Cunha, de Barra do Choça (BA), diz sentir muita falta da escola. Com a suspensão das aulas presenciais e com objetivo melhorar a renda da família, ela começou a trabalhar.

 

“Costumo dizer que a escola é minha segunda casa e a pandemia teve um grande peso em mim porque eu não tive mais esse lar. Eu sinto muita falta de abraçar os meus professores”, contou ela, que se dizia bastante ativa nas atividades escolares.

 

Segundo ela, sua escola não teve estrutura para desenvolver o ensino remoto de maneira eficaz. “Muita gente não tem celular nem acesso à internet. Muitos colegas estão até tristes. Moro numa região mais periférica, então se não tem a escola e professor todos os dias lembrando da nossa capacidade, às vezes a gente esquece disso”, pontou.

 

Os alunos com deficiência sofrem ainda mais com a privação do contato com outras crianças nesse momento. Para o jornalista Raphael Preto, muitos desses estudantes têm na escola a única chance de conviverem com outros alunos de maneira inclusiva.

 

“Quando você tira isso de uma criança com deficiência, você está aumentando a chance de ela regredir nos seus tratamentos e também no seu processo de aprendizagem”, disse ele, lembrando também da importância desse convívio para os alunos sem deficiência.

 

A

Jornalismo: o impacto do home office na rotina dos repórteres

Durante a manhã, repórteres de diversas regiões do Brasil debateram as principais dificuldades de se cobrir educação durante a pandemia na sessão “O jornalismo de educação e a pandemia”. Para os participantes, mediados por Mariana Tokarnia, o home office tem sido um grande desafio para a rotina de repórter, já que o contato com fontes, colegas, personagens e demais interlocutores foi praticamente suspenso.

 

“É um desafio fazer jornalismo de maneira solitária, isolada em casa. Ainda é um desafio trabalhar assim”, relatou Paula Ferreira, que trabalha no jornal O Globo e na revista Época em Brasília (DF).

 

Para ela, acostumada a frequentar o Congresso Nacional, tem sido difícil cobrir temas políticos ligados à educação sem poder acessar os bastidores das negociações parlamentares - como foi o caso da votação do novo Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação). “As questões legislativas têm pormenores que muitas vezes geram dúvidas. No presencial, temos mais oportunidades de pegar informações, perceber novos ângulos e tirar dúvidas”, explicou Paula.

 

Assim como os professores apontaram, não ter uma rotina estabelecida em casa, com horários fixos, também tem sido problemático para os jornalistas. “As coisas não têm hora para acontecer. Cheguei a ir em hospital de campanha às 3h da manhã. Como vivemos em guerra com “fake news” e o público demanda informações, precisamos intensificar nossa apuração”, disse Josué Ferreira, editor-chefe do Roraima em Tempo (RR).

 

O repórter Ítalo Cosme, do jornal O Povo (CE), também enfrentou situações parecidas, já que chegou a receber informações importantes para um furo de reportagem por voltada 1h da manhã durante a quarentena. “Os horários ficaram completamente loucos na pandemia”, brincou.

 

Para o repórter Marcel Hartmann, que trabalha na redação integrada do Zero Hora, Rádio Gaúcha e GZH (RS), a cobertura de educação ganhou mais espaço na pandemia, já que o fechamento das escolas impactou diretamente o cotidiano de milhões de pessoas.

 

“A suspensão das aulas mexeu com a vida dos pais, que estavam muito preocupados com questões como o ensino remoto e a compensação das aulas”, afirmou.

 

No entanto, temas da agenda da cobertura educacional perderam força já que o foco do noticiário está voltado para a saúde pública, o que abriu espaço para matérias sobre o impacto da crise sanitária sobre a educação. É o caso da cobertura do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), como lembrou Paula. “Em tempos normais, o Ideb seria manchete de todos os jornais, mas teve destaque menor do que em outros anos, mesmo sendo uma divulgação prevista”, pontuou ela.

 

Para driblar a falta de fazer pautas externas, os repórteres deram algumas dicas, como fugir do discurso político declaratório, buscar ONGs de educação e universidades, ativar a rede de contatos e usar as redes sociais para encontrar fontes e personagens.

 

“Precisamos fazer o esforço de sair dos discursos oficiais e conseguir de fato ver se as ações estão funcionando dentro das escolas”, disse Marcel, lembrando a importância de não perder de vista as desigualdades do contexto educacional.

 

Assisa ao resumo da sessão:

 

 

 

O 4.º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação tem o patrocínio da Fundação Lemann, Fundação Telefônica Vivo, Instituto Unibanco, Itaú Social, Itaú Educação e Trabalho, e apoio do Colégio Rio Branco e Loures Consultoria.

 

 

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