A expansão da educação a distância no ensino superior, a reprodução de discursos meritocráticos na cobertura televisiva e a diversidade de gênero no ambiente escolar. Esses são os temas dos três trabalhos de conclusão de curso vencedores do 6º Edital de Jornalismo de Educação, projeto da Jeduca realizado em parceria com a Fundação Itaú. Os vencedores foram anunciados nesta terça-feira (25/3).
Os TCCs foram selecionados entre 85 projetos inscritos na Categoria Estudante, que recebeu trabalhos de 18 Unidades da Federação. Nesta edição, os projetos vencedores são de jovens jornalistas de Florianópolis (SC), Recife (PE) e Petrolina (PE). Os trabalhos selecionados receberão os prêmios de R$ 3 mil, R$ 2 mil e R$ 1mil, respectivamente para primeiro, segundo e terceiro lugares.
A série de reportagens escrita por Bárbara Schroeder (Florianópolis/SC) ficou em primeiro lugar nesta edição do edital. O trabalho foi apresentado como projeto final do curso de Jornalismo da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) em 2024.
"Eu notei que existiam muitas reportagens sobre as matrículas EAD, mas de uma forma muito 'oficialesca', ouvindo fontes bem institucionais, mas poucos conteúdos focando na experiência dos alunos, tutores, professores, gestores e a família dos alunos", comenta Bárbara sobre a escolha do tema.
A segunda colocada no edital foi Vitória Carolline Floro da Silva (Recife/PE), que apresentou a monografia intitulada “Você consegue se tentar: uma análise crítica do discurso meritocrático da mídia em torno das histórias de superação no telejornalismo”, para se graduar em jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco, em 2023.
No projeto, Vitória investiga reportagens televisivas que contam histórias de superação de jovens de baixa renda que se destacam nos estudos, apesar das adversidades.
O trabalho analisa a falta de criticidade das reportagens quanto ao papel do Estado na melhoria de políticas públicas de acesso à educação, o que acaba reforçando discursos meritocráticos e deixando de lado a questão da desigualdade social. Leia a monografia completa aqui.
Para Vitória, a escolha do tema surgiu após assistir a uma reportagem na TV sobre um estudante com dificuldade de acesso à educação durante a pandemia de Covid-19, mas sem trazer nenhuma menção ao papel do Estado.
“Para mim, o papel do jornalismo é cobrar, fazer soar mais alto as vozes que muitas vezes são abafadas. Se a mídia abandonar o desejo de lutar por essas pessoas, quem vai fazer isso? Se as histórias que deveriam inspirar cobrança e mudança se transformam em narrativas melodramáticas, que buscam emocionar e não informar, o que sobra de sentido para a produção jornalística?”, questiona Vitória.
O terceiro colocado nesta edição do edital foi o podcast "Escolas Plurais: gênero e diversidade na educação”, produzido por Katellyn Natália Tavares Nascimento como TCC na UNEB (Universidade Estadual da Bahia) em 2024.
O projeto aborda a temática de gênero e diversidade no ambiente escolar e investiga as vivências dos estudantes LGBTQIAPN+ no município de Juazeiro, na Bahia, tendo como base os Planos Nacional e Municipal de Educação (2014-2024), o
O podcast é dividido em três episódios que discutem respectivamente a temática de gênero e diversidade no âmbito educacional; as dificuldades de inclusão da comunidade LGBTQIAPN+ na escola; e, as perspectivas para políticas públicas educacionais e o acolhimento dessa população. Ouça o podcast aqui.
A ideia surgiu quando Katellyn teve a oportunidade de trabalhar em uma escola. Ela explica que escolheu o tema porque queria falar sobre algo que ainda é pouco debatido: "Eu queria abordar o tema de forma leve, mas manter a comunicação de uma mensagem importante sobre um assunto que ainda é delicado e pouco debatido, e assim o podcast foi escolhido como formato do meu produto”.
Edições anteriores
Em seis edições, a Categoria Estudante do Edital de Jornalismo de Educação já recebeu 732 inscrições de estudantes universitários ou recém-formados de todas as Unidades da Federação (UFs).
Denise Chiarato, coordenadora da Comissão do Edital, diz que o projeto tem atraído cada vez mais estudantes fora do eixo Rio de Janeiro-São Paulo, com disposição para mostrar suas realidades locais.
“Há uma preocupação maior em furar a bolha, explorar assuntos muitas vezes negligenciados, questionar as coberturas jornalísticas atuais e experimentar novos formatos”, comenta Denise.
“Os trabalhos já premiados mostram que há muito mais a explorar quando se trata de educação pública”, complementa.
Ao todo, foram premiados 18 TCCs vencedores de 10 UFs: BA, MG, PA, PE, PR, RJ, RN, RS, SC e SP. Veja os trabalhos premiados nos editais anteriores: